Rinoceronte histórico e famoso II

Escrito por Geraldo Duarte - Advogado, administrador e dicionarista ,

Depois da frustrada luta entre o rinoceronte e o elefante, desejada por D. Manuel I, no Terreiro do Paço, em Lisboa, comentada em nosso artiguete anterior, tratamos hoje de novos empreendimentos do monarca.

Utilizando xilogravuras de Albretch Dürer (1471 - 1528), gravador, pintor e matemático alemão mostrando a imagem de um rinoceronte, o rei aproveitou-se do desconhecimento europeu sobre o animal para impressionar, também, o mundo científico.

Fez distribuir o desenho e uma descrição pormenorizada da “estranha criatura da antiguidade clássica”.

Aos patrícios, antecipando acontecimento internacional, ofereceu grandioso desfile, tendo o rinoceronte à frente, seguindo de cinco enormes elefantes, uma onça pintada e um cavalo persa.

Homens usando belos vestuários, bordados a ouro, ornados com joias várias, pedras preciosas e pérolas raras compunham a marcha e faziam-se seguir de muitos cavaleiros da guarda real ricamente fardados, além de monumental banda de música. D. Manuel, garbosamente e em traje de gala especial dedicado à solenidade, ao fim, encerrava a parada.

Mas, tudo aquilo ainda era pouco, acreditava o soberano. Empolgar a Terra e apresentar o poderio luso à Europa, devia principiar-se em Roma.

Tristão da Cunha (circa 1640 – circa 1540), vice-rei e governador da Índia Portuguesa, responsável por envios dos animalejos a Portugal, teve designação para comandar igual cortejo em Roma e, ao término, presentear o Papa com o rinoceronte.

Inesperadamente, o destino contrariou o desejo. Em Gênova, a nau em que viajava o paquiderme afundou, e o bicho morreu afogado.

Recuperado, o corpo recebeu embalsamamento e, em seguida, levado à Roma, integrou a apresentação, tendo impressionado Leão X.

Antes de chegar à capital italiana, foi visto pelo imperador da França, Francisco I (1494 - 1547), que se surpreendeu pela existência da animália.