Os próximos cem anos de Celso Furtado

Escrito por Paulo Avelino ,

Celso Furtado nasceu em Pombal na Paraíba em 1920, morreu no Rio em 2004 e nesses 84 anos viu o Brasil mudar muito. Quando o pensador nasceu o país pouco mais era que uma fazenda grande, de ilhas econômicas, a produzir meia dúzia de produtos chamados tropicais e a importar todo o resto, não só produtos industrializados como trabalhadores qualificados e ideias. Depois se tornou uma economia razoavelmente industrializada, integrada, com universidades e certa produção de conhecimento e tecnologia.

No meio tempo alguns conceitos sacudiram a intelectualidade e a população, entre eles o de desenvolvimento – a ideia de que não havia forças do destino que forçassem um país a viver eternamente de produzir minérios e alimentos baratos, e que isso a longo prazo sequer era positivo para ele.

Para escapar da armadilha do subdesenvolvimento era necessário produzir produtos manufaturados, e para produzi-los era essencial que essa nova indústria manufatureira fosse protegida da concorrência dos países já desenvolvidos, pouco interessados no surgimento de novos concorrentes. Também era importante ter centros de pesquisa e saber próprios, para criar soluções para os desafios no caminho. No começo Furtado pensava o que pode ser sintetizado em uma frase: “A dependência é fundamentalmente econômica”.

No final de sua vida seu pensamento era “A dependência é fundamentalmente cultural”. Essa última é tão forte que possibilita as outras dependências. Daí o interesse que o levou a ser Ministro da Cultura, décadas depois de tê-lo sido do Planejamento.

Hoje a própria ideia de desenvolvimento, o planejamento e a cultura, pilares do pensamento furtadiano, sofrem alguns ataques. Os primeiros cem anos do pensador ocasionaram grandes mudanças no país. Os próximos cem anos continuam a precisar da doutrina de Celso Furtado. E eles começam agora.

Paulo Avelino
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