O recuo do multilateralismo

Escrito por André Frota ,

Pela primeira vez na história da organização, a plenária da Assembleia Geral das Nações Unidas aconteceu sem os participantes presentes. Os discursos presidenciais foram transmitidos, ao vivo, pela tela, em Nova York. Essa fotografia retrata o aniversário de 75 anos de criação da organização. A base que orientou a criação das Organizações Internacionais foi influenciada pelos impactos nefastos da I e da II Guerra Mundial. A função dessas instituições é diminuir a desconfiança, aumentar o diálogo, aproximar os opostos, construir parcerias e, sobretudo, evitar o confronto armado.

Passados 75 anos de criação das Nações Unidas, a comunidade internacional deixou de lado mudanças, que teriam permitido uma nova onda de cooperação entre as nações. A reforma do Sistema ONU e a configuração dos membros do Conselho de Segurança. O financiamento multilateral das operações de paz. Os acordos multilaterais de comércio, no âmbito da Organização Mundial do Comércio. O engajamento dos países aos acordos, orientados para limitação das emissões de dióxido de carbono.

Os desafios que a humanidade enfrenta são incompatíveis com o baixo grau de cooperação entre as nações. Mudanças climáticas, contaminação biológica, crise econômica, desigualdade social, migrações forçadas, fome e miséria. Os problemas possuem realidades práticas locais.

No entanto, sua abrangência é global. Esse desencontro entre os indivíduos, os chefes de Estado e a comunidade internacional impede, que soluções cooperativas sejam elaboradas. A falência de uma sociedade internacional é o reflexo da fórmula autocentrada de solução de problemas. A visão ultranacionalista, antropocêntrica, e individualizada, é incompatível com os problemas que atingem a humanidade. Essa fórmula já foi testada na I e na II Guerra Mundial, assim como na Guerra Fria. Essa deveria ser a história do século XX, não a do século XXI.

André Frota

Professor de Relações Internacionais