O êxito de Sobral

Escrito por João Batista Oliveira ,
João Batista Oliveira é Phd em Educação e presidente do Instituto Alfa e Beto
Legenda: João Batista Oliveira é Phd em Educação e presidente do Instituto Alfa e Beto

Tive a oportunidade de apresentar às autoridades de Sobral um novo estudo sobre o êxito do município na educação. Buscamos responder uma pergunta: por que não há muitos outros casos de sucesso, no Ceará ou no resto do Brasil? O estudo também contribui apontando o que os demais municípios cearenses podem aprender com Sobral para enfrentar novos desafios.

São inegáveis os avanços obtidos nas redes municipais de ensino do Ceará. Em pouco mais de 15 anos, 2/3 dos municípios do estado saíram do grupo dos 20% piores do país e hoje figuram pouco acima da média nacional. Um feito e tanto, e que se deve tanto às políticas do governo estadual quanto aos esforços dos municípios.

Uma análise mais detalhada dos avanços chama atenção: os municípios com menos de 100 mil habitantes avançaram mais do que os municípios maiores. Em 2019, por exemplo, poucos desses atingiram a média nacional seja nas séries iniciais seja nas séries finais.

Esses dois aspectos sugerem que, sem demérito para os avanços realizados, ainda há necessidade e espaço para melhorar a educação em praticamente todos os municípios, especialmente os médios e grandes. Há como melhorar as políticas estaduais - e aqui entra o caso de Sobral.

No estudo recém-concluído, analisamos o desenvolvimento da educação de Sobral desde a virada do século, procurando identificar as políticas e práticas que melhor explicam os resultados, seus fundamentos científicos e seu potencial de replicabilidade em outros municípios. Procuramos fugir do que é específico ou único da experiência de Sobral e identificar o que é ou pode ser comum a diferentes municípios.

Há três aspectos que mais chamam a atenção. O primeiro deles é a prioridade e foco na alfabetização, que em Sobral se realiza no 1º ano do ensino fundamental. Não apenas há prioridade, mas há escolha de métodos e materiais de eficácia cientificamente comprovada, e que vêm sendo utilizados no município de maneira ininterrupta há cerca de 20 anos. Esse aspecto merece dois outros comentários. O primeiro é de natureza simbólica: alfabetizar no 1º ano é ponto de honra – é o cartão de visita de qualquer escola do município. O aluno entrou no primeiro ano, o pai tem garantia de que o filho sairá alfabetizado ao final do período. Isso se torna motivo de orgulho profissional para os professores e escolas, e motivo de vigilância permanente pelos diretores. O segundo comentário se refere à importância pedagógica dessa decisão; o aluno alfabetizado no 1º ano tem condições para cursar com êxito o 2º ano, dando início, dessa forma, a um círculo virtuoso de aprendizagem.

O segundo aspecto se refere à postura diante da pedagogia: o que leva ao aprendizado do aluno é o que acontece efetivamente na sala de aula. Por essa razão, todas as decisões pedagógicas passam por esse filtro: vai chegar na sala de aula? Vai promover a aprendizagem? Isso significa adotar a perspectiva conhecida como “ensino estruturado”, em que tudo o que vai acontecer na sala de aula, a cada dia, semana e mês é cuidadosamente preparado pelas autoridades educacionais e pelos professores, de forma que aconteça no tempo e na forma previstos.

O terceiro ingrediente se refere à gestão. Gerir uma escola e gerir a educação municipal tem foco: fazer o ensino chegar na sala de aula. A gestão se cola na pedagogia, as ações gerenciais da Secretaria e da Escola priorizam o que vai contribuir para o diretor e o professor fazerem chegar à sala de aula e ao aluno o que foi planejado. Essa postura orienta a ação da Secretaria e dos Diretores: de um lado, a prioridade da Secretaria é ajudar as escolas e os professores a implementar o programa de ensino. De outro, evitar, reduzir e minimizar tudo o que tira o foco disso. Este é o sentido da palavra “prioridade”, que, na busca de excelência, não comporta plural.

Certamente tem mais, muito mais. Mas essas três diretrizes poderiam ser adotadas por um grande número de municípios do Ceará e do Brasil, contribuindo para o tão esperado e necessário salto de qualidade na educação.

João Batista Oliveira é Phd em Educação e presidente do Instituto Alfa e Beto