Inclusão de crianças com TEA: avanço ou retrocesso no novo Parecer do CNE?

Outro aspecto importante é a determinação de que o acompanhamento por profissionais de apoio não deve estar condicionado a laudos médicos

Escrito por
Laís Albuquerque producaodiario@svm.com.br
Advogada no escritório Renan Azevedo
Legenda: Advogada no escritório Renan Azevedo

A inclusão escolar de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) envolve desafios, e o novo parecer 50 do Conselho Nacional de Educação (CNE), aprovado em 5 de novembro, trouxe preocupações para famílias e educadores. A versão, agora com 22 páginas em vez das 69 do documento anterior, elimina exigências que eram vistas como essenciais para o atendimento especializado. Entre as mudanças, a retirada da obrigatoriedade do acompanhamento especializado para atividades específicas é um ponto crítico. Os profissionais de apoio continuam responsáveis apenas por tarefas de locomoção, higiene, comunicação e interação social. Será esse suporte suficiente para garantir o desenvolvimento e a inclusão efetiva desses alunos? A falta de uma assistência especializada na sala de aula pode dificultar o aprendizado e a inclusão plena?

Outro aspecto importante é a determinação de que o acompanhamento por profissionais de apoio não deve estar condicionado a laudos médicos. Além disso, o parecer define como crime tanto a negativa de matrícula de alunos com TEA quanto a cobrança de taxas adicionais e outras barreiras, como entrevistas ou testes, que dificultam a inclusão no sistema educacional.

Contudo, práticas comportamentais, como o “reforçamento” – técnicas em que o aluno é elogiado por ações satisfatória para estimular sua repetição – foram excluídas do documento. Esse tipo de método, valorizado por terapeutas, é visto como ferramenta importante para o desenvolvimento de habilidades sociais e comportamentais de crianças com TEA, o que causa apreensão entre famílias e especialistas.

A complexidade do tema aumentou após São Paulo permitir que as famílias providenciem seus próprios acompanhantes. Essa medida, que desobriga o Estado de fornecer profissionais, é criticada por transferir a responsabilidade da inclusão para os pais, ainda que o parecer do CNE tenha caráter orientativo e não exija mudanças estaduais. Enquanto secretários de Educação consideram inviável exigir um profissional de apoio para cada aluno com TEA, pais  questionam se essa economia justifica o possível prejuízo para o desenvolvimento integral das crianças.

A dúvida permanece: o novo parecer facilita a inclusão ou compromete o apoio necessário aos alunos com TEA? As famílias seguem aguardando que as promessas de inclusão se traduzam em práticas efetivas no ambiente escolar.

Jornalista
Gilson Barbosa
18 de Maio de 2025
Engenheiro civil
Dinalvo Diniz
16 de Maio de 2025
Cássio Pacheco é presidente da CAACE
Cássio Pacheco
16 de Maio de 2025