Escola inclui e o mercado exclui?
De acordo com dados do Censo de Educação Básica, o número de alunos autistas em salas comuns aumenta anualmente
Escrito por
Davi Marreiro
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Existe inclusão que não abrange todas as fases da participação social de uma criança com necessidades especiais? Afinal, como o propósito das escolas mudou desde a sua origem até os objetivos atuais? Por exemplo, de que maneira, tendo em conta o ensino regular, as inúmeras tentativas de promover a "inclusão" de crianças atípicas resultaram em mudanças efetivas que transcenderam os muros das escolas, alcançando as universidades e os desafios do mercado de trabalho?
Certa vez, Rubens Alves disse que “o voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado,” sugerindo que uma escola eficiente não apenas transmite conhecimentos específicos, mas também promove habilidades inerentes e exercitadas que capacitam os alunos a pensarem de forma independente e tomarem decisões informadas. Acredito no caráter inclusivo dessa perspectiva. Muito embora ainda estejamos longe de práticas escolares plenamente inclusivas, a Lei Brasileira de Inclusão de 2015 já é um avanço significativo, pois obriga as instituições de ensino a garantirem acessibilidade e atendimento preferencial para estudantes com deficiência. O Enem exemplifica essa adaptação, obviamente seguindo o Estatuto da Pessoa com Deficiência, que exige critérios de avaliação que considerem a singularidade linguística nas provas. Apenas isso é suficiente?
De acordo com dados do Censo de Educação Básica, o número de alunos autistas em salas comuns aumenta anualmente. Entre 2022 e 2023, houve um acréscimo de mais de 200 mil alunos autistas matriculados, resultando em um crescimento de 50%, com as matrículas subindo de 405.056 para 607.144. Em comparação, o portal Voz Ativa destaca que, em 2017, nas escolas públicas e privadas esse número era de apenas 89.282. Eis um salto e mais uma a questão: em um mundo ideal, suponhamos que esses alunos autistas avancem em todas as etapas do ensino e estejam agora às portas do mercado de trabalho. Quantos deles realmente conseguirão aplicar, na prática, todas as competências que desenvolveram? Segundo o IBGE, 85% dos profissionais autistas permanecem excluídos do mercado de trabalho. Portanto, projetamos inclusão, mas produzimos exceções.