Cuidados paliativos

Escrito por Fernanda Gomes Lopes ,

Os cuidados paliativos se referem a uma abordagem multiprofissional voltada para pacientes – de todas as idades – com doenças que ameacem a vida e seus familiares. Doenças estas que requerem uma assistência complexa e contextualizada, pautada no cuidado integral. O foco, portanto, não é apenas na cura, como previsto pelo modelo biomédico, mas no sofrimento psicológico, dores sociais, angústias espirituais e sintomas físicos envolvidos em todo o processo de adoecimento. Torna-se essencial destacar que essa prática não desiste do paciente, acelera o processo de morrer ou exclui os tratamentos curativos quando necessários, como muitos pensam. Mas trata-se de uma assistência complementar, que amplia o olhar para esse sujeito adoecido e todo seu entorno. A busca então é pela qualidade de vida, em toda a sua essência, contextualizada a biografia daquele sujeito. E, caso a morte se apresente como possibilidade, almeja-se a dignidade do processo, para que seja vivido de maneira individualizada e com minimização dos sofrimentos que podem estar associados. Sabemos que a palavra “paliativo” em nossa sociedade é permeada de estigmas, como se viesse associada a reparos momentâneos para algo que não tem conserto, o que faz as pessoas entenderem que “não há mais nada pra fazer” e de que “a morte está próxima”. Mas temos muito a fazer, e cada detalhe desse cuidado importa muito para os pacientes e seus familiares. O acompanhamento pode durar dias, meses ou anos, desde o diagnóstico até os momentos finais de vida, viabilizando um tempo de qualidade. De maneira ativa e holística, sem acelerar nem adiar a finitude, as condutas afirmam a vida e a morte como processos naturais que precisam ser acolhidos e mediados entre equipe, familiares, e principalmente, pelo paciente, como protagonista de sua história. À vista disso, a principal função dos cuidados paliativos é proteger os pacientes, através de uma prática íntegra, responsável e ética em prol da vida com qualidade. E qualquer desinformação acerca desse fazer pode comprometer seu compromisso com o cuidado e violar um direito fundamental humano.

Fernanda Gomes Lopes é psicóloga, paliativista e diretora do Instituto Escutha