Convento para a Sudene

Escrito por Geraldo Duarte ,

O caririaçuense Raimundo Rodrigues Sobrinho, conhecido por Mestre Raimundo Caboclo, viveu entre sua cidade natal e a terra do Padre Cícero, conquistando especiais prestígios popular e profissional.
Destacou-se como exímio construtor e realizou várias obras, principalmente, edificações residenciais.

Seu elevado conceito social conduziu-o, na década de setenta do século passado, à política partidária. Assim, lançou-se candidato à Prefeitura de Caririaçu, nas eleições de 1976, pela Arena, sendo vitorioso.

No período eleitoral muitos acontecimentos, hilários ou inusitados, caracterizaram as atitudes do pleiteante e enriqueceram o folclore e o anedotário político caririense.

No grande comício de encerramento da campanha, Caboclo não economizou nas promessas aos eleitores que o aplaudiam vibrantemente e soltou o verbo.

“Se eleito, construirei dez unidades de ensino, dez postos de saúde. Cortarei de estradas toda a zona rural do Município. Beneficiarei, com a energia de Paulo Afonso, os sítios, povoados e distritos. Nenhuma casa ficará sem água canalizada”.

O filho Davi, sentindo exagerados os comprometimentos, falou ao pé do ouvido do pai: “Diga que é em convênio com a Sudene”. Então, maior foi o entusiasmo, fazendo-o quase gritar. “E tem mais! Vou construir um convento para a Sudene!”.

No dia da posse, chegou à residência trazendo reluzentes sapatos de cromo alemão. Dona Rosa, sua esposa, admirada perguntou: “Raimundo, onde vai conseguir dinheiro para pagar esses sapatos tão caros?”.

Resposta imediata e tranquilizadora. “Não se preocupe. Compre um par bem bonito você também. Já acertei com o contador. Serão pagos com a verba de calçamento.”.

Quando recebeu a folha de pagamento, chamou o chefe do pessoal e indagou ríspido: “Quem é esse Total que ganha mais do que o prefeito? Só pode ser coisa do Mundeza, da oposição!”.

Geraldo Duarte
Advogado, administrador e dicionarista