Abrem-se as escolas e o letramento social se perde?

Escrito por Samara Moura Barreto de Abreu , samara.abreu@ifce.edu.br

Uma grande preocupação das séries iniciais na educação formal é a aprendizagem da leitura e da escrita, significada pelo termo letramento, condição também situada para justificativa de abertura das escolas em referência do compromisso estatal.

Não raro, presenciamos o discurso dos atores sociais sobre o atraso educacional que os estudantes estão tendo em contexto da Covid-19 – “mais um ano perdido”! E de forma menos proporcional, questionamos: quantas vidas de trabalhadores da educação estão e estarão sendo perdidas?

Esse discurso se aproxima de uma esquizocronia educativa imposta por modelos pedagógicos de uma educação bancária que legitima a parametrização dos espaços e tempos da formação, a exemplo do tempo de aprendizagem do “be-a-bá” aos 6 anos, como se os percursos da vida fossem lineares.

De forma contundente, preservar esta linearidade garante os resultados das avaliações externas e o ranqueamento, numa lógica competitiva e de sobrevida econômica das escolas, férteis ao sistema capitalista interessado na doutrinação das massas.

A propósito, a quem interessa a abertura das escolas e qual o letramento mais emergente?

Concordamos com Paulo Freire quando evidencia que a leitura do mundo precede a leitura da palavra e, portanto, não basta saber ler que “ Maria vai à escola”. É preciso compreender qual a posição que Maria ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a escola e quem lucra com esse trabalho. E ainda, quem pode perder a vida mediante essa abertura, uma vez que não sem tem um horizonte concreto para a imunização dos trabalhadores de educação no Ceará. 

Assim, se consideramos o letramento como linguagem e prática social, a maior emergência aprendente para a leitura da palavra “Covid-19” se faz para sociedade capitalista, até mesmo para que não possamos reduzi-la à expressão silábica “mi-mi-mi”.

Samara Moura Barreto de Abreu
Professora do IFCE