A urgente primazia do bem comum

Escrito por Jelson Oliveira ,

Uma das bases de todo e qualquer pacto ou contrato social é o fato de que a sociedade humana está baseada em um acordo de associação, ou seja, em uma opção voluntária, na qual cada indivíduo deve abrir mão de seu próprio interesse em vista do bem comum.

É como se vivêssemos num constante cabo de guerra entre o que queremos e o que devemos fazer. A equação é simples: se fazemos só o que é bom para nós, perdemos a parcela daquilo que é bom para todos (ou seja, inclusive para nós) e que só pode ser construído na medida em que os indivíduos sejam capazes de acreditar e investir nos chamados pactos sociais.

Obedecer a tais normas é, quase sempre, realizar a permuta entre aqueles opostos: o que eu quero e o que eu devo. Isso não significa que devamos obedecer cegamente a tudo o que nos é imposto, mas que o melhor jeito de alterar normas injustas é lutar, democraticamente, em favor de normas melhores - sempre sob o critério do bem comum. Em tempos de pandemia essa tensão aumenta consideravelmente, porque estamos, como nunca, convidados a cumprir determinadas regras que exigem a renúncia dos interesses privados, em nome do bem comum.

Para o filósofo Jean-Jacques Rousseau, quem sofre para cumprir as normas que têm em vista a proteção de todos, é porque está muito pervertido, ou seja, distanciou-se consideravelmente de sua própria essência. Agora que as atitudes individuais são tão necessárias e que somos convidados a tomar todas as providências para não espalhar a Covid-19, é imprescindível retomarmos tais fundamentos éticos e políticos, para que nossa liberdade não seja contraposta ao bem comum, mas, ao contrário, que seja um dos seus fundamentos.

Afinal, a vida de todos depende do esforço, da privação e do desprendimento de cada um de nós.

Jelson Oliveira

Filósofo