A sustentabilidade e o pobre de hoje
Há sete anos voltei de missão em Moçambique e me impressionou a semelhança com o Ceará. Passar por Redenção e participar de uma missa com os jovens universitários da UNILAB é como retornar ao continente africano. Moçambique está entre os países com o pior IDH, e a pobreza de lá não está longe daqui. O Brasil, apesar de ter um dos melhores PIB, é um dos países mais desiguais do mundo.
Sou de uma geração que cresceu aprendendo o que é desenvolvimento econômico, mas somente adulta começou a compreender a importância do desenvolvimento socioambiental.
A sustentabilidade é a capacidade de atender às necessidades atuais sem comprometer a possibilidade de as futuras gerações satisfazerem às suas. Hoje, no mundo,1,1 bilhão de pessoas vivem em situação de pobreza severa, privadas do básico para viver com dignidade e mais da metade são crianças e jovens menores de 18 anos, segundo o Relatório Global de Pobreza Multidimensional 2024.
Se não nos importamos com o ser humano de hoje, aquele que vemos, o outro, o nosso próximo, é difícil avançarmos significativamente nas metas dos ODS e no Acordo de Paris que busca mitigar os problemas ambientais que impactarão a humanidade até o ano de 2100.
Hoje, há vidas que precisam de atenção: na saúde, no acesso a saneamento básico e à água tratada; famílias sem teto, crianças sem escolas e homens e mulheres em trabalhos análogos à escravidão.
Esses dias, estive como voluntária no Espaço de Paz, programa da Comunidade Católica Shalom que acolhe crianças e jovens em vulnerabilidade social no Brasil e em Madagascar, e me impressionei com as respostas de algumas crianças ao perguntarmos o que poderíamos fazer para melhorar: "Nada, está tudo bom". Essas crianças ensinam na simplicidade que o essencial é o suficiente para satisfazer diante de um consumismo desenfreado.
Há muito a ser feito. E nesta semana, em que a Igreja Católica celebra o Dia Mundial do Pobre, o Papa Leão XIV afirma que “precisamos de caridade hoje, agora” e que “todos somos chamados a criar novos sinais de esperança que testemunhem a caridade cristã”. Deus quer nos salvar hoje, não apenas em 2030, 2050 ou 2100. E você, qual gesto de proximidade com o pobre pode fazer?
Ingrid Parahyba Dias é economista