A lógica mercantil dos aplicativos

Escrito por Mário Fellipe Fernandes Vieira Vasconcelos , fernandesvv10@gmail.com

A disseminação do vírus pelo mundo alterou drasticamente nossa paisagem social. Os aplicativos passaram a comandar a vida, estabelecendo a mediação tecnológica como padrão dominante de sociabilidade.

O imperativo da otimização e da produção ininterrupta, personificada na imagem de um sujeito inseparável de seu smartphone, é um sintoma do indivíduo em estado de alerta, em prontidão para visualizar uma notificação. 

O vírus aportou em um mundo onde a lógica de mercado e o tempo instantâneo da virtualidade se impuseram nas distintas configurações sociais. O novo indivíduo, pelo novo coronavírus, é expressão de uma sociedade que incorporou, de modo radical, a tecnologia e os fluxos, cada vez mais líquidos, do capital desterritorializado que se movimenta sem limites e sem controles. 

Se está com fome, chama o Ifood, se precisa deslocar, pede um Uber, se está carente, baixa um aplicativo de relacionamento, se está com tesão, manda um “nudes”, se está com baixa autoestima, seleciona uma foto no smartphone, aplica o filtro no Instagram e posta aguardando, ansiosamente, um “biscoito”.

Se precisa realizar uma transação bancária, transfere pelo Pix. Se está sem trabalho, oferece seus serviços na OLX. Tem-se afirmado que a solidão será o grande negócio do século XXI. Segundo matéria publicada pelo jornal El País, nos EUA, já existem pessoas que pagam por companhia, seja para conversar, ou, apenas, para tomar um café.

Os novos clientes desse mercado parecem afirmar a sua potencialidade como forma de enfrentamento de uma das questões mais recorrentes em um mundo de indivíduos permanentemente conectados: a solidão. Os agenciadores deste mercado já realizam seus primeiros investimentos, apostando na terceirização das emoções para viabilização de encontros sob medida que correspondam às necessidades e exigências de cada cliente.

Mário Fellipe Fernandes Vieira Vasconcelos
Doutorando em Sociologia

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