Santuário abriga jumentos para combater maus-tratos aos animais em Fortaleza

17 animais foram resgatados vítimas de violências e em situações abandono e exploração

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Foto: Fabiane de Paula

Os jumentos, considerados símbolos do sertão nordestino por muitos anos, ganharam um santuário, em Fortaleza, no intuito de combater os maus-tratos, o abandono e a exploração desses animais. A iniciativa surgiu há, cerca de dois anos - por meio da organização não-governamental (ONG) Anjos da Proteção Animal (APA) - e conta com 17 bichos, que agora vivem livres, com água, comida, sombra, sol e espaço à vontade.

De acordo com a ativista da causa animal e coordenadora estadual da Frente Nacional de Defesa dos Jumentos no Ceará, Stefani Rodrigues, o trabalho foi iniciado há sete anos após o resgate do jumento “Guerreirinho”, que foi atropelado na Avenida Silas Munguba, na capital cearense.

De lá pra cá a minha luta em prol dos jumentos está sendo efetiva até hoje. Depois do Guerreirinho, eu comecei a resgatar outro, mais outro e mais outro e hoje nós temos dois jumentos adolescentes, três filhotes e o restante adulto”
Stefani Rodrigues
Coordenadora estadual da Frente Nacional de Defesa dos Jumentos no Ceará

O local conta com o amparo financeiro da ONG internacional Protect Animals Worldwide (P.A.W) para se manter. Ainda sim, as despesas são altas e muitas vezes tiradas do bolso, segundo Stefani. “De aluguel, pagamos R$ 2 mil [incluso a água] e R$ 120 de energia. A alimentação, a gente gasta mais de R$ 3 mil por mês, com feno, capim e ração. Fora as vacinas, vermífugos, exames e consultas”, detalha.

Pelo alto valor do transporte de frete, Stefani já chegou a andar 30 quilômetros transportando uma jumenta gestante para o abrigo. “Eu fui andando, andando e andando, a gente parava em postos de gasolina, batia nas casas para dar água pra ela se hidratar, e eu sei que isso durou quase 5 horas, entre eu andando e parando”, lembra.

A ativista Stefani cuida dos animais no local há quase dois anos
Legenda: A ativista Stefani cuida dos animais no local há quase dois anos
Foto: Fabiane de Paula

Políticas públicas

A ativista relata que as políticas públicas voltadas a esses animais são inexistentes na região, bem como a falta de pessoas para ajudar com o voluntariado. “Eles são esquecidos. Eles são esquecidos pela sociedade, pelo poder público e até mesmo eles perdem a própria identidade a partir do momento em que são escravizados. Muitas vezes eu me sinto desmotivada porque a gente não tem essa ajuda, não só financeira, mas ajuda braçal”, diz.

“A importância desse trabalho é que me dá vontade de viver, de lutar por eles, de fazer com que as pessoas vejam a importância deles na natureza, no meio ambiente. São animais que carregaram Jesus, então as pessoas precisam ter essa compaixão, esse espírito de bondade. Eu acho que não existe nada mais gratificante do que você ver um animal bem, seguro e saudável, para mim é o melhor presente que tem”, acrescenta Stefani.

Projeto de Lei

A capital cearense ainda não tem políticas públicas específicas para animais de grande porte. No entanto, segundo a coordenadora de proteção ambiental da Secretaria do Meio Ambiente do Ceará (Sema), Thaís Câmara, a Sema iniciou a elaboração de um Projeto de Lei, ainda em 2018, com a formação de um Grupo de Trabalho formado por órgãos públicos, advogados, veterinários e representantes da proteção animal, “para que nós pudéssemos criar uma lei que englobasse a proteção de todos os animais”.

O objetivo do Projeto é estabelecer as políticas públicas de Proteção Animal no Estado do Ceará, com um capítulo que trata dos animais de grande porte. “Estamos também estabelecendo contatos com o hospital veterinário da UECE e o DETRAN (órgão responsável pelo recolhimento desses animais) no intuito de formar uma parceria para prestar esse tipo de atendimento”, pontua a coordenadora.

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