Infiltrações causaram desabamento, diz laudo

Vigas de concreto foram destruídas pela infiltração; manutenção adequada poderia ter evitado o problema

Escrito por Redação ,
Legenda: Segundo o documento, a situação pode se repetir no prédio no Meireles, que deve continuar interditado até que a estabilidade seja avaliada
Foto: Foto: Kid Júnior

O desabamento de uma das varandas do Edifício Versailles, no Meireles, foi ocasionado pelo rompimento das vigas de concreto armado que sustentavam a área atingida, de acordo com o laudo técnico divulgado ontem pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Ceará (Crea-CE). O documento aponta que a estrutura foi destruída pela corrosão devido a infiltrações. A queda da laje aconteceu no último dia 2 e deixou dois mortos e um ferido.

O desgaste das vigas foi em consequência de uma manutenção deficitária, indica o documento. O texto diz que se deu por "falta de capacidade técnica do pessoal envolvido na manutenção e conservação da estrutura de concreto armado e de causas naturais, correlacionadas ao envelhecimento dos materiais que compõem a estrutura, principalmente o aço".

O presidente do conselho, Victor Frota Pinto, reforça a constatação. "A estrutura encontrava-se com um alto grau de oxidação, ao ponto em que praticamente não tinha mais ferragem na viga da varanda do segundo pavimento", afirmou.

Ele ainda fez um alerta para que o desastre não se repita. "Uma edificação dura dezenas, centenas de anos, desde que tenha uma adequada manutenção preventiva e corretiva. Se tivesse havido uma inspeção predial preventiva, teria sido grande a possibilidade de se ter evitado esse incidente", completou.

No espaço do edifício onde houve a ruptura, havia uma jardineira, o que contribuiu ainda mais para as infiltrações no espaço descoberto. O laudo deixa claro que a situação pode se repetir em outras varandas. O documento, preparado por sete engenheiros civis, alerta para a necessidade urgente de uma avaliação da estrutura e preparo de um projeto para obra de recuperação.

O tenente coronel Wagner Maia, do núcleo de Engenharia da Defesa Civil do Corpo de Bombeiros, também vistoriou o local do desabamento e se disse espantado com o estado de conservação do local. "Observamos que a estrutura estava molhada, até por conta das jardineiras que há 30 anos estavam ali fornecendo umidade para o concreto", disse.

As fissuras do prédio construído em 1984 foram detectadas dias antes do desabamento pelos moradores. O síndico acionou um engenheiro civil, que determinou o escoramento das vigas, iniciado pelos três operários que se acidentaram. Como não foi feita a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) para a obra e não havia um profissional habilitado para acompanhar o serviço, o Crea-CE emitiu dois autos de infração, um para o engenheiro que fez a vistoria inicial e outro para o condomínio.

O conselho recomenda ainda que o prédio continue interditado até que a estabilidade e a estrutura de concreto do edifício sejam devidamente avaliadas. A Defesa Civil do Município já havia determinado que os moradores só devem retornar a suas residências quando todos os problemas físicos forem resolvidos.

Legislação

Victor Frota Pinto lembrou a Lei de Inspeção e Vistoria Predial (9.913), aprovada em 2012 mas ainda sem regulamentação. A norma trata da obrigatoriedade de vistorias técnicas, manutenção preventiva e periódica de edificações e equipamentos públicos e privados em Fortaleza. "Se a lei tivesse sido regulamentada, com uma grande possibilidade não teria havido esse acidente", lamenta o presidente do Crea-CE.

Advogado do condomínio questiona parecer

O advogado dos moradores do Edifício Versailles, Vítor Holanda, questionou a validade do laudo do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Ceará (Crea-CE). Segundo ele, o trabalho foi "extremamente precipitado", pois o órgão não teria considerado a planta original.

De acordo com o advogado, a construtora Mendonça Aguiar se nega a entregar a planta. Ele informou que "não existia no projeto aprovado qualquer jardineira, e o tamanho da varanda está maior do que o cálculo aprovado". "O cálculo estrutural está completamente comprometido, toda a informação comprometida, e o Crea-CE não tomou conhecimento disso", aponta.

O representante do condomínio afirmou ainda que um dos engenheiros convidados para elaborar o laudo também foi contratado pela construtora para fazer um estudo semelhante.

Projeto

O presidente do Crea-CE, Victor Pinto, defendeu o documento. "O problema foi a corrosão na armadura. Está lá, para quem quiser ver". Ele reafirmou que a causa do desabamento não está relacionada com o projeto, mas com a falta de manutenção.

Já a Construtora Mendonça Aguiar esclareceu, por meio de nota, que o Habite-se da obra data de 1986, estando o prédio sob a administração e responsabilidade do condomínio há mais de 29 anos. "Neste período, a construtora não recebeu qualquer comunicado apontando vícios ou irregularidades, o que atesta a qualidade e a segurança do empreendimento", afirma o texto. A empresa ressalta a necessidade do condomínio realizar manutenções preventivas. Ainda conforme a Mendonça Aguiar, nenhum dos engenheiros que participaram do laudo integra o quadro da empresa.

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