Covid-19: diabéticos representam cerca de 28% dos casos de Síndrome Respiratória Aguda no Ceará

No Dia Nacional de Combate a Diabetes, nesta sexta-feira (26), a atenção para esse grupo de risco se torna ainda mais necessária no cenário da pandemia do coronavírus

Escrito por Redação ,
Legenda: Com pandemia da Covid-19, a rotina de João Luís, com diabetes tipo 1, foi interrompida, principalmente a realização do basquete e do karatê.
Foto: Arquivo Pessoal

Nesta sexta-feira (26), Dia Nacional de Combate à Diabetes, o foco para a doença crônica se torna ainda mais cuidadoso devido ao cenário da pandemia de Covid-19, em que pessoas desse grupo são enquadradas nos perfis de risco. No Ceará, até dia 16 de junho, já foram contabilizados 2.398 diabéticos hospitalizados com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por coronavírus, representando cerca de 28% dos 8.632 casos em unidades de saúde, conforme boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde do Estado (Sesa). 

Esses pacientes compõe o grupo de risco por apresentarem um processo de inflamação mais acentuado e por terem um sistema imunológico comprometido, dificultando a aparição e identificação dos sintomas de infecção por coronavírus, segundo a Sesa. Para prevenção da doença, caracterizada pelo alto nível de glicose no sangue, é importante controlar a glicemia, manter uma dieta balanceada e atividades físicas, assim como tomar vacinas contra outras infecções virais ou bacterianas

Nos postos de saúde de Fortaleza, conforme a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), são atendidas 27.873 pessoas com diabetes do Tipo 1 do e do Tipo 2. O coordenador das Redes de Atenção Primária e Psicossocial de Fortaleza, Rui de Gouveia, aponta que as atividades adiadas em decorrência da Covid-19 devem retomar ainda nesta semana, como os cuidados para  pacientes com condições crônicas, com foco em pacientes de risco mais elevados.

Durante a pandemia, a aposentada Ana Maria Bezerra da Silva, 72 anos, contraiu a Covid-19. Entre os dias 2 até 16 de junho, ficou internada no Hospital Geral de Fortaleza (HGF) para o tratamento da doença. No entanto, mesmo tendo retornado para casa, recuperada do coronavírus, a diabetes tipo 2 permanece alterada, de acordo com a neta Adrielly Bezerra da Silva, 28 anos. 

“Desde que foi diagnosticada para o vírus, a diabetes não voltou ao normal. Sempre foi muito consciente, só comia o que podia. Nunca teve problema com diabete, só tomava muito comprimido por dia. Porém, desde quando ela foi diagnosticada, a primeira coisa que o vírus descompensou, foi a diabetes dela”, explica Adrielly.

Dentro de casa, tomavam todos os cuidados para evitar a contaminação pela Covid-19, como a limpeza dos alimentos e das sacolas plásticas; o uso de máscara e de álcool em gel; e a reserva de um espaço fora da casa para deixar os calçados que tiveram contato com a rua.

Prevenção

No caso do estudante João Luís Gadelha, 13 anos, diagnosticado com o Tipo 1 da doença, a pandemia modificou a sua rotina. Se antes era acostumado a ir para escola, jogar basquete e fazer karatê; com o isolamento social no Estado, passou a reduzir as atividades de gastos de energia

De acordo com a mãe, assistente social e especialista em políticas públicas e educação em diabetes, Adélia Maria Holanda Silva, 48 anos, o jovem continua mantendo uma alimentação saudável e realizando atividades físicas em casa, para manter o controle da diabetes. No entanto, ainda que realize essas ações, percebe que não é o mesmo que antes.

“Houve um aumento maior nos controles e no consumo de insulina”, compartilha Adélia. Há mais de 90 dias dentro de casa, os gastos energéticos diários reduziram. “Ele não sai de casa desde o dia 14 de março, não sai de jeito nenhum. Saiu somente para tomar a vacina de H1N1, mas teve todos os cuidados no uso da máscara e do álcool gel”, acrescenta. 

Para João Luís, o retorno das aulas e a abertura do comércio lhe parece antecipado, ficando preocupado com as aglomerações. 

“A curva de contágio ainda está alta, acho que as pessoas ainda deveriam ficar em casa para evitar a lotação do sistema de saúde. E eu fico com medo, como qualquer ser humano, até porque 50 mil mortes não é uma gripezinha qualquer”, afirma o estudante. 

Cuidados

Ainda que o comércio e as atividades em Fortaleza estejam gradualmente retornando, a pensionista Rosa Maria Silva Martins, 63 anos, busca evitar ao máximo sair de dentro de casa por ser do grupo de risco, tendo diabetes tipo 2. Durante os meses de pandemia, as compras eram realizadas através de pedidos para supermercados e farmácias. Ontem (25), a saída para o salão só foi realizada por considerar necessário.

Mesmo assim, a senhora tomou o cuidado de colocar a máscara, usar o álcool em gel, evitar locais aglomerados e usar aplicativo de transporte. “Eu não pego transporte público e não ando no meio da rua. Estou aqui voltando para casa, mas esperando o carro vir me buscar”, explica. 

A pensionista, muito preocupada com a alimentação, consome produtos naturais, chás, suplementos e evita massas, assim como comidas gordurosas. Com a pandemia, esse cuidado aumentou ainda mais e, mesmo não podendo sair de casa, utiliza a bicicleta de exercícios para manter a atividade física

“Quem tem diabetes, sente muitas dores no corpo e se você parar de se movimentar, vai fazer falta. Como os rins da gente também precisam, tem que fazer exercício física, de uma forma ou de outra”, explica. 

Para o Dia Nacional de Combate à doença, Rosa Maria pontua a importância de lembrarem dos direitos e dos cuidados desse grupo. “Não é brincadeira. O diabético tem que saber até como pisar no chão, porque aquela ferida custa a cicatrizar”, finaliza.

Mortes por Covid-19 em Fortaleza

Medidas nacionais

O Ministério da Saúde, no contexto da pandemia, ampliou os critérios de disponibilização das canetas aplicadoras de insulina humana NPH e Regular no Sistema Único de Saúde (SUS). Antes, a distribuição ocorria apenas apenas pacientes com o tipo 1 da doença, com idade até 15 anos e a partir de 60 anos. Com a mudança, passa a ser permitido o uso para pacientes com diabetes tipos 1 e 2, de até 16 anos e a partir de 60 anos de idade. 

A ação busca beneficiar um maior número de pessoas com a doença. De acordo com o Ministério da Saúde, a distribuição representava cerca de 15% da demanda do SUS, com essa ampliação, o órgão espera um aumento para 30%.

Tipos de diabetes

A diabetes pode apresentar dois tipos característicos da doença. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, no Tipo 1, o sistema imunológico ataca as células do próprio corpo, resultando em pouca ou nenhuma insulina liberada para o organismo, causando uma permanência da glicose no corpo ao invés de ser usada como energia. É mais comum em crianças ou adolescentes, precisando sempre ser tratada com insulina para o controle do nível de glicose no sangue.

O Tipo 2, por sua vez, é o mais comum, ocorrendo quando o corpo não consegue produzir insulina suficiente para a taxa de glicemia ou nos casos em que não há condição de adequar a insulina produzida. Essa ocorrência é mais comum em adultos. 

Em ambos os casos, a doença pode ser controlada com atividade física, planejamento alimentar e, a depender do paciente, com o uso de medicamentos de controle da glicose no sangue, como a insulina.

 

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