Ceará é líder em efetivação de doações de órgãos do Nordeste

Quando comparados os números de pessoas que poderiam doar e das que concluem o processo, segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), o Estado ocupa a primeira posição na região e a sexta no Brasil

Escrito por Barbara Câmara / Theyse Viana , metro@verdesmares.com.br
Legenda: Prestes a completar 13 anos, Natanael foi aprovado para entrar na fila de espera por um transplante de fígado
Foto: Foto: Helene Santos

Esperar empatia de quem acabou de se despedir de um ente querido pode parecer muito, mas este "pensar-no-outro" é o que tem elevado o Ceará a uma posição de destaque quando o assunto é doação de órgãos. Entre janeiro e setembro deste ano, o Estado foi o primeiro do Nordeste em efetivação de doações - quando comparados os números de potenciais doadores e dos que concluíram o processo, o Ceará ocupa ainda a sexta posição no Brasil, de acordo com o último levantamento da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). Foram contabilizados 158 efetivos, entre um total de 409 potenciais doadores.

A boa notícia expressa pelos números acalenta as esperanças de Marcondes dos Santos, pai do Natanael, de 12 anos. O menino, que mora em Caucaia, recebe tratamento para hepatite crônica há mais de seis anos, no Hospital Infantil Albert Sabin (Hias). Recebeu recentemente da equipe médica a permissão para receber transplante de fígado.

"Ele já fez um monte de exames, já passou pelo chefe de transplantes do Hospital das Clínicas. Ele está pronto para entrar na fila, mas ainda vai passar pela psicóloga", relata Marcondes, o pai que cultiva esperança de ver o filho longe dos hospitais.

Rotina alterada

Prestes a completar 13 anos, o menino não brinca como antes, pois aos olhos do pai, se cansa muito rápido. "A gente descobriu recentemente que o fígado dele estava envelhecendo. O médico disse que ele podia esperar mais um pouco, mas a gente espera que ele já possa entrar na fila a partir da próxima consulta", aguarda ansioso.

Marcondes espera receber os resultados de um hemograma completo de Natanael para dar início à espera oficial por um novo órgão. Entre janeiro e setembro de 2018, a expectativa por um doador efetivo era compartilhada por 16 crianças no Ceará. Destas, seis necessitam da doação de um coração, e dez aguardam novos rins.

Para a coordenadora da Central de Transplantes do Ceará, Eliana Barbosa, os dados favoráveis de efetivação de doações no Estado devem-se, principalmente, às equipes de comissão intra-hospitalar, enfermeiros e assistentes sociais. O preparo e a sensibilidade em acolher famílias no momento do luto representam o diferencial para que, uma vez estabelecida a relação de ajuda, seja apresentada a oportunidade da doação.

Esclarecimento

"A principal causa para um potencial doador não efetivar é uma comunicação não muito adequada da má notícia. Depois, vem a questão de incompreensão da morte encefálica, que é igual à morte", revela Eliana Barbosa. O costume de associar os batimentos do coração à vida é algo comum mesmo entre pessoas mais esclarecidas, segundo a coordenadora.

E quando familiares não sabem se o parente tinha intenção de doar, o processo ganha um novo obstáculo. Por isso, a comunicação é frequentemente enfatizada em campanhas como a Doe de Coração, criada pela Fundação Edson Queiroz e apoiada pelo Diário do Nordeste. A mobilização acontece anualmente, sensibilizando a população para a doação de órgãos por meio de ações sobre o tema em jornais, portais de notícias e emissores de rádio e TV.

Lista

Até 2016, no Ceará, os transplantes de córnea eram os mais requisitados do Estado, até a fila de espera ter sido zerada. Conforme os dados mais recentes, os 600 pacientes que aguardam um novo rim representam a maior lista de espera por um órgão. Até setembro deste ano, foram feitos 164 transplantes do tipo.

"Os principais motivos de insuficiência renal são hipertensão e diabetes, que costumam aumentar com o envelhecimento da população", explica Eliana Barbosa. Apesar dos bons indicadores do Estado em relação ao Nordeste e ao País, ainda há potencial de crescimento no que diz respeito às efetivações de doações. "A gente pode aumentar o número de notificações no Ceará e diminuir a taxa de negativa familiar. E isso é um trabalho a ser feito com os profissionais da saúde, que são um elo importante nesse processo".

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