Casos de dengue se multiplicam em rua da Parquelândia e preocupam moradores

Em toda a Capital, mais de 2 mil casos da doença foram confirmados em 2021

Escrito por Kilvia Muniz e Renato Bezerra ,
Aedes aegypti
Legenda: Moradores de rua na Parquelândia, em Fortaleza, estão preocupados com focos do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue
Foto: Alexandre Carvalho / Agência Diário

A pandemia de Covid-19 segue demandando esforços sanitários de todos, mas, em Fortaleza, outro cenário epidemiológico ainda é preocupante: a dengue. Nos últimos dias, o número de pessoas confirmadas com a doença em apenas uma rua do bairro Parquelândia vem gerando medo entre os moradores. 

O logradouro é a rua Francisca Rangel, onde pelo menos sete casos da dengue clássica e dois do tipo hemorrágica foram identificados, conforme relatos dos próprios residentes.

Para a dona de casa Maria Juliana dos Santos, 39, o medo veio em dobro, já que o casal de filhos, de 17 e 19 anos, adoeceu simultaneamente, na última sexta-feira (11). Segundo conta, a condição mais crítica é a do filho, que permanece em tratamento médico e mantém o total de plaquetas ainda baixo.

"Ele teve febre alta intermitente, dores no corpo, vômitos, náuseas e falta de apetite. Na segunda-feira ele chegou a desmaiar então levei na UPA. De lá foi transferido para o hospital Gonzaguinha da Barra", conta.

"É uma situação que atinge a rua toda. Os agentes já vieram nas casas e não encontraram o foco, e nós não sabemos onde está. Não temos terrenos baldios perto, casas abandonadas, temos saneamento na rua, mas não sabemos porque tanto caso", comenta a moradora. 

Caixas d'água preocupam 

Juliana acredita que o problema pode estar nas caixas d'água dos imóveis, que não são vistoriadas pelos agentes de endemias. "Eles olham bebedouros, banheiros, jardins, mas caixas d'água dizem que não podem e nossa preocupação é que alguma esteja descoberta. Todo mundo tem que fazer sua parte. Se eu fizer e meu vizinho não, pode contaminar todo mundo", diz.

Recém-recuperada da Covid-19, a família da dona de casa Maria Socorro Menezes, 61, também residente na rua Francisca Rangel, logo caiu doente novamente - mas desta vez com a dengue. 

O marido e o filho tiveram o tipo grave da doença e ficaram com níveis baixos de plaquetas. A recuperação foi há cerca de uma semana.

"No hospital foi constatada dengue hemorrágica. Meses atrás todos tivemos Covid e agora em seguida pegar dengue é complicado. Na casa vizinha à minha, três pessoas tiveram. Nós mantemos todos os cuidados, mas não sabemos sobre os outros", fala.

Mais de 2 mil casos em 2021

Esse ano, até a 22ª semana epidemiológica, foram registrados 2.817 casos de dengue em Fortaleza, segundo dados da Secretaria Municipal da Saúde (SMS). O maior número de pessoas afetadas (65%) está na faixa etária de 19 a 59 anos. 

Embora o total seja menor que o verificado em igual período do ano passado, com 3.397 casos confirmados, a prevenção à doença deve se manter em alta, segundo destaca o coordenador de Vigilância em Saúde da SMS, Nélio Moraes. 

Recipiente com água sendo inspecionado
Legenda: Embora os casos confirmados de dengue estejam menores que no ano passado, a prevenção deve continuar, como evitar o acúmulo de água em recipientes, por exemplo.
Foto: Fabiane de Paula

Ele chama atenção para o retorno do sorotipo 2 da dengue ao País, responsável por duas epidemias na Capital, nos anos de 1994 e 2008. "Quando um novo sorotipo chega ou quando ele retorna há uma intensificação ampliada da força de transmissão, então todos os cuidados devemos ter", diz.

Trabalho limitado

Outro ponto destacado pelo especialista é a limitação de trabalho dos agentes de saúde em razão das medidas de restrição impostas pela pandemia, fato que requer ainda mais o apoio da população nas medidas de prevenção. 

Ele explica que as equipes só podem inspecionar áreas externas das residências, como quintais e jardins, e desde que não exija entrar no imóvel para isso. Nestes casos, os agentes repassam orientações sobre como os próprios moradores devem proceder nas inspeções internas. 

"Não podemos adentrar o interior dos imóveis das pessoas, pelo decreto de proteção a elas e aos nossos agentes de endemias. Nunca precisamos tanto do apoio e da compreensão da nossa sociedade em fazer a inspeção da sua casa e eliminar o foco dos criadores do Aedes aegypti", comenta Nélio.

Agentes de endemias em inspeção de imóveis
Legenda: Em razão da pandemia de Covid-19, agentes de endemias só podem acessar áreas externas dos imóveis
Foto: Nah Jereissati

Sobre as caixas d'água, o coordenador da SMS explica que a vedação dos equipamentos é de responsabilidade do proprietário do imóvel, conforme legislação municipal. 

"Nós orientamos sempre que a população deva vedar a sua caixa d'água. Todos os estudos realizados no Brasil apontam esses reservatórios como os principais criadores do Aedes na nossa região", detalha.

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