Atrasos e 'queima' de paradas de ônibus lideram reclamações à Etufor

Dados colhidos em pesquisa com usuários do transporte público devem orientar novas mudanças, como a alteração de trajetos

Escrito por Nicolas Paulino , nicolas.paulino@svm.com.br
Legenda: Em 2019, foram 811 contatos por atrasos ou adiantamentos na passagem dos veículos, seguido por passageiros relatando a não parada
Foto: FOTO: FABIANE DE PAULA

O serviço de transporte de passageiros envolve uma série de fatores técnicos e humanos. Na Capital, por exemplo, é preciso dimensionar o atendimento para uma média de 1,2 milhão de passageiros por dia, numa frota operante de 1.988 veículos em dias úteis, distribuídos em 338 linhas. Com tantas variáveis, também surgem os problemas - e os mais comuns são alterações no horário e "queima" de paradas, de acordo com a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor).

Os dados se referem às cinco principais reclamações registradas na Central 156, da Prefeitura. Em 2019, foram 811 contatos por atrasos ou adiantamentos na passagem dos veículos, seguido por passageiros relatando a não parada em determinados pontos, com 759 casos. Em terceiro lugar no ranking, ficam a "falta de urbanidade e destrato" - desentendimentos -, com 585 reclamações.

Embarque e desembarque irregular ou incompleto e direção perigosa completam a lista, com 426 e 382 registros, respectivamente. Em relação a 2018, houve queda na maioria das queixas: em relação aos horários, foram 1.406 registros; de queima de paradas, 1.118; e 588 de embarque e desembarque incompleto. A única categoria que cresceu foi o destrato, que teve 543 casos. Direção perigosa não figurou entre as cinco principais em 2018.

"Tem vez que eu passo de meia hora, uma hora esperando, e quando chega ainda é lotado. A gente fica tudo uns por cima dos outros", confirma o servente Júlio Pinto, em referência ao dia a dia no Terminal do Papicu, onde pega um ônibus até a Vila União. Além dos atrasos e da lotação, a estudante de Nutrição Gabrielly Pedrosa enumera outros problemas: o calor pela aglomeração, o sinal de Wi-Fi ruim e o desrespeito aos assentos prioritários. "São coisas simples, mas que geram estresse logo cedo", desabafa.

O engenheiro de transporte da Prefeitura, Victor Macêdo, afirma que informações colhidas por meio da Pesquisa Origem-Destino com usuários do transporte coletivo também identificaram os atrasos, principalmente aos fins de semana, e a falta de segurança em paradas como possíveis pontos de melhoria. "Com a Pesquisa, a gente consegue mapear onde estão reclamando mais, em quais regiões têm mais atrasos e pensar em como agir de forma mais assertiva", diz.

Macêdo lembra que a última pesquisa do tipo foi realizada em 1996 e, nesse período, muitas linhas de ônibus foram abertas por demandas das próprias comunidades. Porém, com o tempo, algumas pessoas passaram a utilizar "trajetos que não querem" e caíram nos "percursos negativos". Assim, percorrem distâncias maiores e gastam mais tempo nas viagens diárias.

O estudo, finalizado em dezembro, vai subsidiar um novo plano operacional que pode ser criado ainda neste ano. Entre as mudanças, podem surgir linhas diretas orientadas pela nova demanda; junto com mais faixas exclusivas para ônibus, elas podem reduzir os atrasos em horários de pico.

A redefinição de linhas também melhora o problema da queima de paradas. "Ela ocorre porque o ônibus está lotado, mas vai diminuir com a oferta justamente onde tem mais lotação", detalha Victor. Já em relação às queixas de direção perigosa, o engenheiro explica que a saída é por meio do treinamento de motoristas em direção defensiva.

As reclamações sobre o transporte público podem ser realizadas via Central 156, no Alô Sindiônibus ou diretamente nos sete terminais de integração. "Nesses três tipos de reclamação, a Etufor age diretamente naquele ponto. Se o usuário identificou uma determinada linha, um determinado ônibus que o motorista queimou o ponto, atrasou, ela vai investigar para que aquilo seja penalizado ou para a empresa ou para o motorista. A gente vai otimizando o sistema para reduzir isso o máximo possível", informa o engenheiro.

A reportagem solicitou entrevista com um representante do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Ceará (Sindiônibus) em duas ocasiões, para comentar a lista de reclamações, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.

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