“A gente só queria ver o corpo e enterrá-la em paz”, diz neta que teve corpo da avó perdido na UPA

Na quinta-feira (14), a família da mulher se dirigiu à unidade para buscar o corpo mas deparou-se com o "desaparecimento" do cadáver

Escrito por Redação , metro@svm.com.br
Legenda: Segundo Sarah, neta da idosa, a maior dificuldade para descobrir a localização da avó é a falta de informações da unidade de saúde.
Foto: Foto: Arquivo Pessoal

A família de Raimunda de Paula Melo, de 90 anos, procura o corpo da idosa há dois dias na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Itaperi, em Fortaleza. Ela faleceu na quarta-feira (13), após buscar atendimento médico. A idosa morreu nos braços da neta, que acusa a UPA de demora no atendimento. O corpo ficou na unidade para procedimentos legais, mas na quinta-feira (14), já não se encontrava mais no local. “A gente só queria ver o corpo e enterrá-la em paz. Já tínhamos o sentimento de perda, depois disso, a perdemos outra vez”, lamenta a neta, Sarah de Melo.

Ainda no atendimento, na quarta-feira, Raimunda chegou a ser levada para uma sala de ressuscitação, mas não foi possível reanimar a mulher. Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), informou que uma pessoa de outra família errou a identificação no reconhecimento cadavérico no dia seguinte e levou o corpo para sepultamento. Com a ausência do corpo, Sarah lamenta pelo restante da família que não pôde dar o último adeus para Raimunda. “Ela morreu nos meus braços, mas e o meu pai e toda a família que não viu ela?”, indaga. 

O sentimento da família é de indignação diante da situação, afirma Sarah. “A gente sente uma dor tão grande, de que poderia ter feito mais, porque até onde a gente pôde fazer, a gente fez. A gente fica triste, revoltado, indignado”, diz.

Raimunda sofria de Alzheimer e estava há três dias sem se alimentar quando foi levada, debilitada, para a unidade de saúde no Itaperi. A neta da mulher relembra que a idosa morreu antes de ser atendida. “Eles responderam que só poderiam atender em caso de morte, foi quando dentro do carro a minha avó faleceu nos meus braços”.

Falta de informações

Ainda segundo Sarah, a maior dificuldade para descobrir a localização da avó é a falta de informações da unidade de saúde. Como as equipes estão em regime de plantão, a troca de profissionais atrasa o repasse. “A assistente social de hoje não tem nenhum informação porque ela não tava na quarta, nem na quinta. Ela não sabe de nada. E mesmo as pessoas que estavam nos dias anteriores também não sabiam de nada”, conta a neta. 

Outra incerteza é sobre o causa da morte da idosa. De acordo com a família, dois laudos foram realizados. A primeira perícia apontou resultado inconclusivo. Já o laudo mais recente, certificava o óbito como infecção decorrente de Covid-19. 

Exumação de corpos

A família de Raimunda de Paula Melo entrou em contato com o setor jurídico da Prefeitura de Fortaleza e disse que servidores informaram que o Município irá atrás do cadáver da idosa e fará a exumação dos corpos que foram enterrados no mesmo dia. Agora, eles aguardam informações sobre quando e como isso será feito. No entanto, conforme nota, a assessoria da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) se limitou a dizer "que está dando todo o suporte e orientações necessárias para que as famílias solicitem a exumação dos corpos". 

Apontada como uma das causas do ocorrido, a familia de um homem, que morreu no mesmo dia que Raimunda, garantiu que abriu o saco para o reconhecimento do familiar morto. A secretaria foi questionada sobre isso, mas preferiu não explicar. Também não confirmou se terá que fazer a exumação dos corpos para conseguir fazer a identificação e o correto enterro.

Troca de corpos

Não é o primeiro caso de erro de troca de corpos em Fortaleza. Em abril, o aposentado Carlos Alberto Viana, de 76 anos, morreu por Covid-19, em uma clínica particular da Capital. O corpo do idoso foi trocado na unidade de saúde

A família só foi avisada após sepultamento. Uma segunda cerimônia foi realizada no mesmo dia, com o caixão lacrado como medida de segurança.

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