93% dos motociclistas, na Capital, utilizam capacete corretamente
Mudanças de comportamento e da infraestrutura da cidade, além de maior conscientização sobre regras de trânsito, são apontadas como aliadas para aumento da segurança de usuários de motos nas vias de Fortaleza
Já é parte do diálogo do senso comum: andar de "moto", que é como popularmente se chama qualquer veículo motorizado sobre duas rodas, é perigoso. Mas se, por um lado, o modal é um dos mais vulneráveis do trânsito; por outro, os pilotos têm adotado posturas mais conscientes e defensivas - um exemplo é que 93% deles, na Capital, foram vistos utilizando o capacete corretamente, índice que totaliza 89% dos garupeiros, de acordo com dados da Bloomberg Philanthropies.
O uso do capacete em si, mesmo sem o afivelamento exigido, foi verificado em quase 100% dos motociclistas, segundo a pesquisa. O cumprimento dessa obrigação básica, aliado a mudanças estruturais das vias urbanas, tem reduzido, ao longo dos anos, a quantidade de óbitos decorrente de acidentes na Capital. Entre 2016 e 2018, o número de motociclistas mortos caiu de 148 para 103, uma redução de 30,4%, conforme a Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC). Na contramão, a frota de motocicletas, motonetas e ciclomotores só cresce: até fevereiro, 312.074 circulavam (emplacados) em Fortaleza, segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).
No Ceará, a frota de veículos sobre duas rodas já ultrapassa 1,5 milhão. Para o superintendente da AMC, Arcelino Lima, a popularização do veículo acende um alerta, mas não apaga o otimismo.
."Mudar comportamento é difícil, mexe com cultura e costumes, mas é possível. O poder público é responsável por sinalizar as vias, fiscalizar o fluxo e capacitar agentes, mas as medidas mais eficazes são aquelas em que o motociclista ou condutor se coloca como principal responsável por evitar o acidente", explica Lima
Ações
Segundo a AMC, são realizadas periodicamente "ações de mobilização envolvendo motociclistas e passageiros, por meio de campanha educativa realizada em vias com alta taxa de acidentalidade e palestras com acidentados no IJF". Além disso, foi aberto, neste ano, o Centro de Treinamento para Motociclistas da Cidade, que recebe recém-habilitados e pilotos "veteranos" para a explanação de conteúdos de educação para o trânsito.
Já entre as medidas visíveis adotadas pelo órgão para evitar acidentes de menor gravidade entre motos e automóveis está a implantação das chamadas "áreas de espera para motociclistas", faixas exclusivas posicionadas à frente dos carros em semáforos, dando prioridade de partida aos veículos de duas rodas. Ao todo, 16 corredores e 17 cruzamentos dispõem da área na Capital. Os encontros entre avenidas A e D, no Conjunto Ceará; Av. Silas Munguba e Rua Malmequer, na Serrinha; Av. Conselheiro Gomes de Freitas e Rua Elizeu Oriá, na Cidade dos Funcionários; e Av. Alberto Sá e Solon Onofre, no Papicu, também receberão a medida, conforme a AMC.
"Essa intervenção visa a diminuir o conflito na largada do sinal verde. As motos se acumulam entre os veículos e, na partida, pode acontecer uma colisão. A faixa previne aquele acidente de menor proporção, em geral com danos materiais. Para prevenção à vida, aos sinistros mais graves, as blitze são mais efetivas", pontua o superintendente da AMC.
Conscientização
O presidente da Associação dos Psicólogos de Trânsito do Ceará, Wagner Paiva, avalia as áreas de espera como "muito positivas" e defende a expansão, mas aponta que "o ideal seria que existissem faixas específicas para motocicletas, porque há uma disputa de poder entre os veículos maiores e menores". Paiva reconhece, porém, que a medida "é inviável, devido à configuração das vias da cidade, historicamente moldada para priorizar os automóveis".
"Está havendo uma consciência maior dos pilotos e uma maior fiscalização para mudança de comportamento. Com mais propagandas educativas e divulgação das estatísticas, o cidadão vai pensar duas vezes antes de sair sem capacete, ultrapassar a velocidade permitida ou cometer qualquer outra infração", projeta o psicólogo especialista em trânsito.
A adoção de uma postura correta no trânsito foi uma das metas de 2019 para o manobrista Samuel de Sousa, que já pilotava motocicletas há mais de 15 dos 31 anos de idade, mas só iniciou o processo de habilitação neste ano. "Resolvi tirar a carteira pra ficar mais seguro no trânsito, poder viajar com a família, andar tranquilo. Quando faz autoescola, você aprende mais, sabe? Eu já andava há muito tempo, mas não sabia direito as leis, as sinalizações. Aprendi muito. Se todos tirassem a habilitação, o trânsito seria mais seguro", alerta Samuel que, recentemente, derrapou numa curva e escorregou na pista molhada por cerca de 30 metros - mas saiu praticamente ileso. "Eu estava de calça, bota, capacete, tudo direitinho. Foi por isso".