16,8% dos casos Covid-19 no Ceará são de profissionais da saúde
O contingente de técnicos de enfermagem, médicos, agendes de saúde, fisioterapeutas, dentre outros, já tem mais de 4 mil casos confirmados. Além disso, conforme a Secretaria da Saúde outros 5.878 estão em investigação
O Ceará já tem 26.363 casos confirmados de Covid-19, conforme a última atualização referente à situações epidemiológica da doença feita, às 17h20 de ontem, no IntegraSUS, plataforma da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa). Desse total, 4.453 são em profissionais da saúde: técnicos ou auxiliares de enfermagem, enfermeiros, médicos, recepcionistas, fisioterapeutas e agentes de saúde, dentre outros, afetados pelo vírus. A quantidade de trabalhadores que testaram positivo equivale a 16,8% dos pacientes contaminados no Estado. Dos 184 municípios, em 130 há confirmação de trabalhadores dos serviços de saúde infectados.
Nos casos extremos, pelo menos, 12 profissionais morreram de Covid-19 em quatro cidades distintas, segundo dados do IntegraSUS. Já informações do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos em Serviços de Saúde no Estado do Ceará (Sindsaúde-CE)), do Conselho Regional de Enfermagem (Coren-CE) e do Conselho Regional de Medicina (Cremec-CE) dão conta que o número de óbitos pode ser ainda maior. Conforme as entidades, são 19 profissionais mortos por coronavírus - nessa conta sindicatos e conselhos incluem as mortes de trabalhadores que estavam ou não atuando diretamente nas unidades de saúde em contato com pacientes infectados.
Investigação
Até o momento, segundo dados do IntegraSUS, foram seis mortes de técnicos ou auxiliares de enfermagem, quatro de médicos, uma de profissional da biotecnologia e uma de enfermeiro. Esse profissionais estavam em Fortaleza, Caucaia, Itapipoca e Iguatu. Dos 12 mortos, cinco era mulheres e todas as pessoas tinham mais de 40 anos de idade. Uma linha de frente em constante exposição.
Uma evidência da dimensão dessa vulnerabilidade é que, atualmente, o total de confirmações entre os profissionais (4.453) supera o somatório de casos de Covid-19 em, pelo menos, 10 municípios da Região Metropolitana de Fortaleza. Além disso, outros 5.878 casos suspeitos em profissionais seguem em investigação, de acordo com as informações do IntegraSUS. A predominância de contaminação é em técnicos e auxiliares de enfermagem. A cada 10 profissionais da saúde no Ceará com coronavírus, três pertencem a essa categoria profissional.
Em abril, a projeção do Ministério da Saúde, baseado em dados de outros países, é de até 15% de incidência de Covid-19 nos trabalhadores da saúde, o que equivale no Brasil a 2 milhões de pessoas
Em relação aos óbitos, a conta do Sindsaúde, Coren e Cremes, juntas, aponta que até o momento, faleceram, por causa da infecção do novo vírus, pelo menos, três médicos, nove trabalhadores (técnicos, auxiliares em enfermeiros) ligados à enfermagem; uma auxiliar de saúde bucal; dois auxiliares de serviços gerais; um maqueiro; um agente comunitário; e dois agentes de combate às endemias. A maior parte das fatalidades ocorreu em Fortaleza.
Perda
Como a do agente de combate às endemias Leopoldo Ribeiro e Silva, de 62 anos. Ele atuava no Distrito Técnico da Regional III de Fortaleza e faleceu no dia 4 de maio deste ano por complicações decorrentes da infecção viral. "Ele nunca deixou faltar nada na família, cheio de vida, alegre. Ele era a base da nossa família, aquele que nunca deixou faltar nada, trabalhador, e essa doença destruiu a minha família", ressalta um parente próximo do profissional da saúde.
De acordo com o familiar, Leopoldo, além de ter idade acima de 60 anos, o que o insere no grupo de risco da Covid-19, também tinha hipertensão. Contudo, o profissional passou apenas 10 dias trabalhando em home office e, após uma mudança nas diretrizes da unidade de saúde em que ele atuava, gerenciada pela Prefeitura de Fortaleza, voltou a estar na rua.
"Colocaram ele novamente de volta no campo alegando uma reunião que eles fizeram. Isso custou a vida dele, que já estava perto de se aposentar. É uma negligencia sem fim, da prefeitura. Eu acredito que essa ordem não pode ter vindo lá de cima do alto escalão", avalia o parente.
Em nota, a Prefeitura de Fortaleza negou que o agente de endemias Leopoldo Ribeiro e Silva estivesse trabalhando em campo. Segundo a Pasta, ele "estava atuando em regime de home office, desde o início do Decreto Municipal estabelecendo as diretrizes de prevenção a Covid-19 na capital", pontuou.
Segundo a Secretaria Municipal da Saúde, também em nota, disse que "segue as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e atende as recomendações do decreto municipal 14.652, de 19 de abril de 2020". O texto em questão permite aos profissionais de saúde trabalharem de forma remota.
EPIs
A presidente do Sindsaúde, Marta Brandão, aponta que um dos principais problemas enfrentados pelos profissionais da área é a falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Além disso, ela relata que outro gargalo são as orientações aos trabalhadores sobre como utilizá-los da melhor forma.
"A gente vê isso com grande preocupação. Sabemos da dificuldade de aquisição, é um problema global, mas não se pode mandar soldado para guerra sem proteção. A munição dos profissionais da saúde são os equipamentos de proteção", destaca Marta.
Em nota, a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) informou que o fornecimento de EPIs está regular "nas unidades de gestão da Sesa para os profissionais da linha de frente no enfrentamento à pandemia da doença".
Conforme a Pasta, "o Governo do Estado realizou compra de 270 toneladas de EPIs para atender as unidades hospitalares". A SMS, por sua vez, afirmou que fornece aos profissionais de saúde, além de EPIs, testes rápidos para diagnóstico da doença, apoio psicológico e ainda vacinação contra gripe H1N1.