Exclusivo: Dorival Júnior e as lições da vida após o câncer de próstata: 'está tudo zerado'

O técnico retomou a carreira no Ceará e incentiva os cuidados para o diagnóstico

Legenda: Com problemas particulares, Dorival Júnior passou mais de um ano sem trabalhar até fechar com o Ceará
Foto: Kid Júnior / SVM

Dorival Júnior é resiliência. Com 60 anos recém-completos e uma carreira muito vitoriosa no futebol, o técnico conquistou o maior título fora de campo: venceu o câncer de próstata, diagnosticado em 2019. Da parada forçada, o recomeço surgiu no Ceará Sporting Club, em um novo momento da vida.

Ao Diário do Nordeste, uma conversa sobre a retomada. E as lições eternizadas, seja no apoio “até de desconhecidos” ou nas batalhas da esposa Valéria. Hoje, após uma metamorfose pessoal, utiliza o clube como ambiente de alegria e as redes sociais como espaço de apelo e também de prevenção.

"Eu comento (nas redes sociais), faço questão, porque o homem tem algum preconceito em relação à área médica, em qualquer circunstância. Bem diferente das mulheres, que logo no início, detectando qualquer pequeno problema, já procuram o apoio. É uma necessidade, nós temos que buscar o médico a todo instante porque a precaução e, principalmente, você tendo um diagnóstico precoce em relação a qualquer eventual problema, as possibilidades de uma cura, o alcance de zerar uma situação, é muito maior. Então temos que acabar com tudo isso e temos sim que divulgar, massificar a informação, porque é mais do que necessário a precaução, a prevenção e acima tudo também o diagnóstico precoce, incentivando todas as pessoas a buscarem um médico", declarou.

O processo de autoconhecimento chega também com a superação da resistência. Dorival não tinha o cuidado de si como prioridade, mas foi incentivado pela esposa e a filha a realizar exames de rotina. Assim, em 2019, teve detectado um aumento no PSA - a enzima que detecta um tumor prostático.

Em outubro daquele ano, necessitou de um procedimento cirúrgico. E, desde então, realiza um acompanhamento periódico para checagens. À reportagem, a constatação da cura total da doença.

"Graças a Deus está tudo zerado. Tenho feito os exames com frequência, os resultados são positivos, e espero que continue assim. Pode ser que venha ocorrer futuramente, ninguém sabe, alguma outra coisa, mas até então está tudo controlado e eu procuro pensar sempre o mínimo possível nessa situação, mas sempre atento em qualquer alteração que venha a acontecer", disse.

A força de Valéria

No caminhar da doença, um olhar para os hábitos, a velocidade do tempo e o carinho. O sonho do futebol nunca cessou, só cresceu. Com uma vida construída no esporte, diversos troféus e infinitos amigos gerados pelo respeito e o profissionalismo no trabalho, teve em casa um porto: Valéria.

Do amor, foi sinônimo de força. Entre 2013 e 2014, precisou lidar com um câncer agressivo de mama. No pior momento, passou por cinco operações em quatro meses. No futuro, serviu como elo.

"Em momento nenhum me senti sozinho, até porque sempre recebi um apoio muito grande dos meus amigos, da família e mesmo de pessoas que nem me conheciam. Isso é muito interessante, me senti até confortável e sou agradecido. Foram duas situações bem complexas. A dela era mais grave e delicada que a minha. Por tudo que tínhamos passado, encarei com muita naturalidade a minha situação porque foram dois anos após o processo, ela demandou quatro ou cinco anos de tratamento, logo após as operações. É uma pessoa que conseguiu vencer por acreditar, ter fé, por isso que ela serviu como exemplo para todos, uma verdadeira guerreira em busca da vida e acho que isso tudo me trouxe uma orientação de como proceder, como enfrentar tudo isso", explicou.

Do drama, da dificuldade, há confiança em um melhor cenário. Dorival sempre acreditou, mas aprendeu que a sinergia da vida orna também na perseverança e na grandeza dos atos, singelos. Isso trouxe o otimismo que não esconde, consciente dos fatos e realizado novamente no futebol. 

A missão no Ceará 

O acerto com o Ceará surge como um capítulo de retomada. Campeão da Copa do Brasil (2010) e da Recopa Sul-Americana (2011), com trabalhos em clubes como no Santos, Flamengo e São Paulo, chegou ao futebol nordestino e engatou grande fase: 83,3% de aproveitamento em seis partidas.

Os resultados históricos no início, com vitórias na Série A, Sul-Americana e Copa do Brasil servem como chancela dos estudos e da qualidade profissional, mesmo mais de um ano longe - o último trabalho era o Athletico-PR, encerrado em agosto de 2020. Dorival esperou o momento de voltar.

"Eu agradeço demais ao convite, vou procurar fazer o meu melhor pelo clube. Já tenho um carinho muito grande, completando um mês de Ceará, me sinto muito bem com todas as pessoas que fazem parte do nosso grupo de trabalho, os atletas, funcionários, todos que fazem a área diretiva, sou muito agradecido pela oportunidade. Sempre é uma retomada, desde que exista uma parada. Me sinto e me vejo preparado para dar sequência na carreira e tentar fazer o meu melhor no Ceará”, aponta.

O contrato no clube é até dezembro de 2022. Resta muito pela frente, mas Dorival se sente pronto.

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