Homem mata policial e idoso de 83 anos em dois assaltos

Suspeito de executar o PM está foragido; comparsa foi morto ao abordar o militar, que teve a arma roubada

Escrito por Levi de Freitas - Repórter ,
Legenda: Após matar o PM e a outra vítima, o acusado fugiu em uma moto e foi flagrado por câmeras de segurança

A Polícia Civil do Estado do Ceará, através da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), está à procura de um homem que é suspeito de ter assassinado um policial militar e um idoso na manhã de ontem, durante uma sequência de roubos na Capital. O comparsa dele foi morto pelo PM.

O primeiro crime aconteceu por volta das 6h. O soldado PM Augusto Herbert Félix, de 27 anos, foi assassinado com nove tiros, sendo sete deles na cabeça. Ele estava de folga e trafegava, em sua motocicleta, pela Rua Santo Amaro, no bairro Pici. O PM foi abordado por dois homens em uma motocicleta Honda modelo Bros, de cor vermelha, que anunciaram o assalto.

Augusto, lotado no Batalhão de Policiamento de Rondas de Ações Ostensivas e Intensivas (BPRaio) e policial há seis anos, teria reagido. A reportagem conversou com uma testemunha, que viu toda a ação. "Eles (bandidos) mandaram que o policial descesse da moto e botasse a mão na cabeça. O mais magro estava na garupa e desceu, enquanto o outro ficou na moto. Aí mandaram o policial vir andando de costas. Ele veio, e disse que ia tirar a carteira. Só que puxou a pistola. Aí começou uma briga com o magro e veio o outro cara e atirou", relatou.

O policial conseguiu, durante a luta corporal, atirar contra Bruno de Barros, o 'Maquito do Gueto', que morreu no local. Contudo, o comparsa do suspeito efetuou pelo menos nove disparos contra o soldado, que também caiu sem vida naquela rua. Augusto foi atingido por sete tiros na cabeça, um no braço e outro nas costas.

d

O suspeito, identificado apenas como 'Biel', pegou as armas, inclusive a do policial, montou novamente na motocicleta e fugiu. Saindo dali, o homem seguiu até a Rua Rio Paraguai, com Travessa Maria Clara, no bairro Jardim Iracema. Lá, faria a segunda vítima daquela manhã. O idoso José Vilemar de Freitas, de 83 anos, chegava para abrir um mercadinho quando foi abordado.

Ainda a bordo da mesma motocicleta, o suspeito chegou ao local e entrou no estabelecimento. Houve uma rápida conversa e então, um disparo. O suspeito fugiu novamente na motocicleta. De acordo com o delegado Fábio Torres, da DHPP, foi encontrada uma cápsula de calibre 380 dentro do comércio que pertence à filha do idoso. A Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce) informou que José Vilemar morreu em decorrência de um único ferimento a bala, no tórax.

Chamou a atenção da Polícia o fato que, conforme apurações iniciais, o bandido teria levado a quantia de R$ 100 durante o suposto roubo ao estabelecimento, que acabava de abrir. Também levantou suspeitas aos investigadores o fato que, apesar de ter sido morto dentro do mercadinho, o corpo do idoso foi encontrado na rua.

Um homem, primo de Bruno de Barros foi preso, inicialmente suspeito de ser o segundo envolvido no crime. Francisco Jardeson Martins da Cruz, que usava tornozeleira de monitoramento e foi localizado pela Polícia Civil após romper o equipamento, foi conduzido à DHPP, e teria dado informações à Polícia sobre a identidade do suspeito ainda foragido. No entanto, a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) não confirma qualquer envolvimento de Jardeson no crime.

A DHPP informou que imagens de câmeras de segurança localizadas próximo ao local onde o crime foi cometido indicam que, após matar o policial, o homem seguiu e matou o idoso. A rota foi utilizada pelo suspeito para fugir do flagrante.

Outro roubo

Um outro policial militar também foi vítima de assalto, na madrugada de quinta-feira para sexta-feira, na Rua Maria Gomes de Sá, no bairro Mondubim, em Fortaleza. O soldado, da 8ª Companhia do 1º Batalhão de Polícia Militar (BPCom), foi ferido com um tiro durante a ação dos bandidos.

De acordo com a assessoria da Polícia Militar, o soldado identificado como Vanderson Luís da Silva, foi baleado na perna quando chegava em sua residência. Ele estava de folga e à paisana. A Polícia afirmou que ele disse não ter apresentado resistência aos suspeitos, entregando todos os pertences imediatamente.

Entretanto, os dois homens, que trafegavam em um veículo Toyota modelo Corolla de cor preta, efetuaram os disparos quando perceberam que ele era policial, pois teriam notado a pistola do militar. A arma foi levada pela dupla.

Vanderson foi encaminhado ao Instituto Doutor José Frota (IJF), no Centro, onde recebeu atendimento. Conforme a assessoria de imprensa da Polícia Militar, ele não corre risco de morrer devido ao ferimento do tiro.

Já são quatro os policiais assassinados neste ano no Ceará. Apenas um morreu em serviço. O soldado Hudson Danilo Lima Oliveira, após tiroteio com bandidos em Jaguaretama, foi a primeira vítima, em 9 de janeiro.

Já o subtenente Benedito Gomes Assunção, após discussão de trânsito, foi morto em 19 de janeiro, em Juazeiro do Norte. E o sargento José Eudes da Silva Monte, reagiu a um assalto em um ônibus, na Capital, em 28 de janeiro, e também foi morto.

Na manhã de ontem, o governador Camilo Santana lamentou as mortes. O gestor, que participava da solenidade de promoção de 43 oficiais da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar (CBM), fez um minuto de silêncio durante o evento em memória da vítima.

"Ser policial é uma missão muito árdua, pôr em risco a sua vida pela dos outros. Exige muita coragem dos homens e mulheres. É lamentável. Acordei hoje triste e indignado, pois a gente perde mais um homem da Polícia Militar, que dedicou sua vida ao povo cearense. Essa é uma luta que não podemos descansar nem um dia", afirmou.

Lamento

Para a Associação dos Profissionais de Segurança (APS), falta mais energia por parte do poder público para inibir mais ações contra policiais. O vice-presidente da APS, Noélio Oliveira, afirmou, em entrevista por telefone, que "a associação lamenta mais essa morte de PM, a quarta neste ano. Em relação ao ano passado, já dobrou o número de policiais mortos comparado ao período, e infelizmente não vemos uma ação enérgica".

Oliveira disse já ter solicitado providência ao Comando, uma força-tarefa do Judiciário e Ministério Público, com a Secretaria da Segurança Pública, para tentar minimizar a questão da violência. "A gente entende que a maior motivação desse número crescente de violência é a impunidade. Hoje o bandido se sente impune. Estamos perdendo, no número de homicídios de policiais, apenas para São Paulo e Rio de Janeiro, com efetivos infinitamente maiores que o do Ceará", afirmou.

Noélio Oliveira disse que o número de policiais mortos é alarmante. "Ano passado foram 14 no ano inteiro. A gente espera um posicionamento firme da Secretaria da Segurança", destacou o vice-presidente da APS.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.