Iphan: desabamento de torre e escultura poderia ter sido evitado
Conforme nota técnica apresentada ao Iphan em outubro do ano passado, a estrutura física da Igreja do Céu, em Viçosa, já apresentava mau estado de conservação. Caso houvesse reparos, seria possível ter evitado o incidente
O principal ícone turístico de Viçosa do Ceará, na região da Ibiapaba, veio ao chão na manhã deste domingo (31). A escultura do Cristo Redentor, construída há quase cem anos e instalada no topo da histórica Igreja do Céu, desabou, deixando a cidade com uma lacuna em sua história. Conforme a Guarda Municipal, parte da estrutura do marco turístico começou a desmoronar na noite de sábado e, na manhã de ontem, ruiu por completo.
A área, no entanto, havia sido isolada antes mesmo da escultura e da torre da Igreja desabarem. "Começou a cair alguns pedaços ainda na noite de sábado. Então a área foi prontamente isolada", detalhou o secretário de infraestrutura Anibal José de Souza. Ninguém ficou ferido.
Tragédia anunciada
Construída na década de 1940, a estrutura antiga já preocupava o Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Esse receio motivou a Superintendência do Iphan no Ceará a solicitar uma visita técnica e um estudo detalhado sobre o mecanismo de danos da Igreja de Nossa Senhora das Vitórias, que não é tombada. O objetivo deste estudo era apontar se havia risco de colapso da estrutura. O professor de Engenharia Civil e coordenador do Laboratório de Reabilitação e Durabilidade das Estruturas, Esequiel Mesquita, liderou a vistoria. Segundo ele, as chuvas que caíram na região nos últimos dias não possuem relação com o desabamento. Esequiel constatou, em outubro do ano passado, que o prédio já apresentava sinais de instabilidades estruturais.
"Durante o mapeamento de danos, evidenciou-se a presença de fissuras em quase todas as fachadas da igreja, nas paredes e pisos internos. Estas fissuras por vezes se apresentavam com grandes dimensões (maior que 10 mm de abertura) e em alguns casos em posições quase simétricas em relação ao lado oposto". A nota técnica constatou, ainda, que as recentes obras realizadas no entorno da igreja podem ter agravado a situação estrutural do marco turístico.
"O entorno da igreja passou por reformas onde foram construídos o Polo Turístico, Artesanal e Cultural Igreja do Céu, além de áreas de lazer, estacionamento, restaurante e área de eventos. É possível que durante estas reformas tenha havido intensa movimentação de caminhões e máquinas de terraplenagem. A vibração causada pelo trânsito destas máquinas pode ter gerado movimentação lateral do solo, o que por si só seria suficiente para explicar os danos estruturais encontrados. Notou-se ainda que durante os trabalhos de urbanização da área do entorno da igreja não houve o isolamento ou estabilização/reforço das fundações", acrescentou Esequiel.
Na avaliação do professor, a Igreja de Nossa Senhora das Vitórias "apresenta um mau estado de conservação, e ações corretivas para os problemas aqui expostos devem ser aplicadas a fim de garantir a segurança estrutural e a preservação deste importante patrimônio cearense".
Medidas
Segundo o engenheiro civil Barbosa Albuquerque, caso a igreja estivesse em bom estado de conservação, somente os eventos pluviométricos não seriam suficientes para causar o desabamento da escultura. Ele também descartou que um suposto excesso de peso do Cristo teria danificado a torre da igreja. "A chuva não causou a queda, ela pode ter acelerado o processo, mas não é a causadora", pontuou. Em 2016, o Polo Turístico, Artesanal e Cultural de Viçosa do Ceará, o qual aglutina a igreja e outros pontos turísticos da cidade, foi fechado para reforma. O local fora reaberto no início deste ano.
No entanto, o secretário de Infraestrutura de Viçosa, Aníbal José de Souza, explicou que as obras na Igreja de Nossa Senhora das Vitórias, popularmente conhecida como Igrejinha do Céu, ficaram a cargo da Arquidiocese de Fortaleza. "Não tenho ciência de nenhuma obra estrutural. Internamente, a igreja foi pintada e foram realizados alguns reparos, mas nada estrutural", pontua.
O diácono Adriano Rocha da Silva reconheceu que nenhuma obra estrutural foi feita na Igrejinha. "As obras contemplaram piso, parede, teto e pintura do altar", explicou. O vigário da Paróquia assentiu que o local possui estrutura antiga e "fora construído com tijolo de barro, há 80 anos". Durante os reparos realizados na igreja, Adriano afirmou que foi identificada uma fissura, mas acreditou ter sido "totalmente sanada ao fim das obras", na segunda semana de janeiro.