É bastante comum observamos pessoas passarem por dificuldades financeiras ao longo da vida. E isso, muitas vezes, independe de classe social. Não é porque alguém tem um salário alto que estará isento de passar por esse tipo de dificuldades. Da mesma, não é porque uma pessoa recebe uma remuneração mais baixa que ela deverá estar sempre endividada! Então, porque a “desorganização financeira” acomete praticamente todas as classes sociais? Acontece porque não fomos educados para cuidar do nosso dinheiro. Seja em casa ou na escola, educação financeira não é um tema muito discutido.
Resultado: chegamos à idade adulta e aprendemos a cuidar da nossa grana quando eles, os boletos, começam a ganhar espaços nas nossas preocupações. O que fazer então?
Minha primeira sugestão é criar um mecanismo de controle mensal das suas finanças. Precisamos ter plena consciência da nossa média de renda mensal e, principalmente, conhecer nosso perfil de gastos. Precisamos ter clareza sobre nossa renda e saber para “quem” estamos distribuindo nossos recursos. Mas é importante conhecer os gastos nos detalhes. Muitas vezes achamos que temos esses números na cabeça, mas observamos que a conta não fecha no final do mês e fica aquela angústia de achar que o “dinheiro sumiu!”. Não fecha exatamente porque muitas vezes o que torna nosso orçamento negativo são aquelas contas que damos pouca importância.
Sugiro que pelo menos no primeiro momento você anote todas, ou quase todas, as suas despesas de forma que consiga chegar ao final de um mês sabendo para quem você “entregou” parte do seu suado salário.
Lembre-se que o dinheiro que recebemos como salário nada mais é que uma forma de “trocar” nosso suado trabalho pelos bens e serviços que nossa família precisa.
Se você chegar ao final do mês sabendo a quem você “entregou” seu suor, terá muito mais consciência de como está trocando seu salário pelos bens e serviços de que necessita.
Após esse “diagnóstico” inicial, que pode não ser fácil, mas será surpreendente, é importante relacionar as despesas em ordem de prioridade até o limite da sua renda. Os economistas dão o nome bonito a isso de "restrição orçamentária", ou seja, você não pode ter despesas maiores que sua renda (pelo menos, não deveria!). A priorização das despesas vai mostrar claramente aquelas que você deve cortar porque não cabem no seu orçamento. É uma conta de matemática simples. Se um trabalhador ganha R$ 3 mil por mês, matematicamente, ele não poderá gastar R$ 3,1 mil... Ou ficará devendo R$ 100 a alguém.
Agora que você já conhece suas despesas, já as colocou em ordem de prioridade para saber o que vai ser necessários cortar diante da sua renda mensal (sua restrição orçamentária) é hora de estabelecer suas metas financeiras de curto, médio e longo prazo. A situação econômica que vamos passar nos próximos meses está demonstrando que todos precisamos ter um “colchão” financeiro de curto prazo para fazer frente às despesas inadiáveis em um cenário de alto desemprego e recessão econômica. Esses recursos para situações emergenciais, para os planos de médio prazo e para os de longo prazo, precisam ser considerados nas nossas despesas mensais. E neste momento é necessário refletirmos bastante sobre os bens e serviços que estamos comprando.
Antes de gastar, sempre se pergunte a real necessidade de trocar aquele aparelho celular, ou aquela televisão que, apesar de ainda em perfeito funcionamento, não têm as funções mais avançadas. Lembre-se que se você, eventualmente, entrar numa situação de desemprego nos próximos meses, nem o celular e muito menos a TV poderão ajudar exceto se você topar vendê-los por um preço mais baixo. Portanto, é fundamental a consciência na hora de consumir.
Se você precisa comprar uma TV ou celular, por exemplo em 18 ou 24 parcelas, isso pode significar que você pode estar “dando um passo maior que as suas pernas” do ponto de vista financeiro. Será que um celular ou TV mais baratos não atenderia suas principais necessidades e ainda permitiriam que você juntasse uma grana para as emergências? E que tal pensar em gastar menos com os equipamentos e investir em um curso que poderá garantir, ou melhorar, sua empregabilidade em momentos de crise?
Após essas conscientizações iniciais (orçamento mensal e consumo cauteloso) é hora de pensar no futuro. Só depois de adquirir esse amadurecimento comportamental sobre suas finanças você poderá pensar em poupar para o futuro. Não adianta pensar em guardar para o futuro se o presente está desorganizado.
Sugiro que, a partir do seu orçamento mensal, construa o orçamento anual considerando aquelas rendas extras, tipo férias, 13º, horas extras, etc...Tudo aquilo que é renda extra deveria ir para seu plano de investimento. Lembre, também, de acrescentar as despesas sazonais na sua planilha (matrículas, taxas e impostos, seguros, etc).
Agora você tem um orçamento anual mostrando sua estimativa total de renda no ano versus sua estimativa total de despesas. Deste orçamento você poderá fazer seu plano de investimento de médio e longo prazo que poderá ser montando com as rendas extras anuais.
Particularmente, eu acho muito bacana o orçamento familiar “democrático” para que cada membro da família assuma sua responsabilidade dentro do orçamento doméstico. Ajuda no estabelecimento das metas financeiras de médio e longo prazo bem como nas decisões de gastos. Cada um saberá o que vai precisar abrir mão para realizar determinado sonho. O nome pomposo disso em economia é "custo de oportunidade"... Uma vez que a família tem uma renda limitada (restrição orçamentária) é necessário realizar trocas entre os bens e serviços consumidos pela família. Por exemplo: quer fazer uma viagem para Canoa Quebrada nas próximas férias? Abre mão daquela pizza nos finais de semana... Mas, e se o objetivo é ir passar férias em Jericoacoara? Então abre mão da pizza e deixa o carro na garagem durante alguns dias na semana e usa mais o transporte público! Mais importante que a nossa renda mensal, o nosso orçamento familiar é feito de escolhas e prioridades.
Luiz Fernando Viana
Economista (Unifor) especialista em Gestão de Projetos (FDC) e mestre em Economia (UFC). Professor nas áreas de economia, microeconomia, matemática financeira, mercado de capitais, instrumentos derivativos, gerenciamento de projetos, engenharia econômica e estatísticas. Possui CPA 20 (Certificação Profissional ANBIMA – SÉRIE 20). Trabalhou como consultor da Unesco. Trabalhou durante 7 anos na Cogerh no setor de planejamento. Atualmente é pesquisador do Etene/BNB.