Rússia lança ataques aéreos na Síria

Os EUA logo criticaram a ação militar, que consideram como um elemento adicional de instabilidade

Escrito por Redação ,
Legenda: Um dos alvos dos ataques russos ontem foi a cidade de Homs, que já havia sofrido bombardeios desde o início da guerra civil na Síria, em 2011
Foto: Foto: Arquivo/Reuters

Noa York. Com os primeiros ataques aéreos na Síria e a convocação de reunião no Conselho de Segurança da ONU ontem, a Rússia assumiu a frente do debate e intensificou ação militar e diplomática no combate à milícia terrorista Estado Islâmico. Os ataques, entretanto, foram criticados pelos Estados Unidos por, aparentemente, não terem atingido áreas dominadas pelo Estado Islâmico (EI).

Ao presidir a reunião convocada por Moscou, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, ressaltou a importância de uma frente unida contra o grupo jihadista e anunciou a apresentação do esboço de uma resolução no Conselho de Segurança para tornar a proposta realidade. "Precisamos de posições aprovadas coletivamente, com o suporte do Conselho de Segurança", disse Lavrov.

Horas antes, caças russos haviam efetuado "ataques pontuais" na Síria contra o Estado Islâmico, de acordo com o Ministério da Defesa. Segundo a Rússia, os alvos da primeira ofensiva russa no país foram equipamentos, armamentos e depósitos de combustível do EI.

O gabinete do presidente, Vladimir Putin, disse que o objetivo era "dar suporte aéreo às forças do governo sírio em sua luta contra o Estado Islâmico". Ativistas sírios, porém, divulgaram na internet imagens de supostos alvos dos ataques nas cidades de Homs e Hama que não seriam do EI, mas de outros grupos que lutam contra o governo.

Oposição dos EUA

O apoio militar de Moscou ao regime de Damasco tem forte oposição dos Estados Unidos, que não consideram possível solução para a crise enquanto o ditador sírio, Bashar Al Assad, estiver no poder.

O governo americano confirmou a ofensiva russa, dizendo que foi informado uma hora antes do início por mensagem de Moscou à embaixada dos EUA no Iraque. A mensagem incluía um pedido para que os americanos evitassem o espaço aéreo sírio durante os ataques.

Washington logo criticou a ação militar da Rússia, que considera como um elemento adicional de instabilidade. E afirmou que ela não mudará a campanha aérea norte-americana contra alvos do Estado Islâmico na Síria.

Frente unida

Na frente diplomática, o chanceler russo reiterou o discurso do presidente Putin, feito dois dias antes na Assembleia-Geral da ONU, de que é preciso criar uma frente unida contra a milícia terrorista. Lavrov ressaltou a necessidade de "maximizar" a luta contra a facção e citou países com um papel importante para colocar um fim ao caos sírio, entre eles Rússia, Irã, Arábia Saudita, Turquia, Qatar, Jordânia, Egito, Estados Unidos e China.

Desde que foi aberta, na última segunda-feira, a Assembleia-Geral da ONU tem sido dominada pela crise na Síria e a disputa entre EUA e Rússia sobre a melhor forma de enfrentá-la. Na terça, numa cúpula sobre o combate ao terrorismo convocada pela Casa Branca, o presidente dos EUA, Barack Obama, deixou claro que não aceita a permanência de Assad no poder, mas afirmou que está disposto a trabalhar com rivais como Rússia e Irã para resolver o conflito.

Em sua intervenção na sessão do Conselho de Segurança, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, criticou o apoio russo a Assad e voltou a argumentar que não haverá resolução do conflito sem a deposição do ditador. Para Kerry, os ataques russos a Homs "nos fazem questionar qual é a real intenção da Rússia, combater o Estado Islâmico ou apoiar Assad".

A China, por sua vez, manteve a tradição de se posicionar contra a intervenção externa. Num discurso sem proposta clara, o chanceler chinês, Wang Yi, disse que "a comunidade internacional não pode ficar passiva, mas também não deve intervir de forma arbitrária". Para ele, a ação internacional na Síria deve começar pela ajuda humanitária.

Civis

O ataque aéreo russo de ontem matou 36 civis sírios, afirmou Khaled Khoja, líder da Coalizão Nacional apoiada pelo Ocidente e que inclui grupos opositores e combatentes. Ele declarou que ativistas locais e membros do conselho informaram os nomes das 36 pessoas que morreram na província central de Homs, entre elas cinco crianças.

"Era muito óbvio que a intervenção da Rússia era para apoiar o regime, para apoiar mais mortes dentro da Síria e criará uma atmosfera ainda mais caótica", declarou. Khoja advertiu que a intervenção provocaria uma "guerra da libertação" contra Rússia e Irã, apoiadores de Assad. Segundo ele, a Rússia realizou 20 bombardeios na Síria.

"Os russos estavam falando sobre solução política, mas agora está claro que eles estavam usando sua abordagem política para encobrir a intervenção militar na Síria", afirmou Khoja.

Já o secretário de Defesa norte-americano, Ashton Carter, disse que os bombardeios realizados pela Rússia na Síria atingiram, aparentemente, áreas não dominadas pelo grupo terrorista Estado Islâmico.

Em entrevista coletiva, o secretário chamou de "inapropriada" a forma como a Rússia avisou aos americanos sobre o ataque. "Quero ser cuidadoso sem confirmar informação, mas parece que se trata de regiões onde provavelmente não há forças do Estado Islâmico e este é um dos problemas com esta estratégia".

Os EUA e a União Europeia tentam articular transição política com os adversários de Assad desde 2012, primeiro ano da guerra civil síria. Na mesma época, começaram a dar apoio a grupos rebeldes moderados.