Presidente alemão diz que imagens em aeroporto de Cabul são 'vergonha para Ocidente'
Com a saída das tropas norte-americanas, afegãos tentam fugir do país após o talibã retomar o poder da nação
O presidente alemão Frank-Walter Steinmeier declarou, nesta terça-feira (17), que as cenas de desespero no aeroporto de Cabul desde que os talibãs tomaram o poder no Afeganistão são "uma vergonha para o Ocidente".
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"As imagens de desespero no aeroporto de Cabul são uma vergonha para o Ocidente", disse Steinmeier, referindo-se à "tragédia humana" vivida pelos afegãos, que tentam desesperadamente deixar o país, e pela qual "somos responsáveis".
Após uma rápida ofensiva que coincidiu com a retirada das tropas estrangeiras do país, os talibãs assumiram o controle do Afeganistão, o que provocou cenas de caos no aeroporto da capital. Esta é a única porta de saída do país.
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A Alemanha, que também está retirando seus cidadãos e pessoas sob sua proteção, "deve fazer tudo o que estiver ao seu alcance para garantir a segurança dos alemães" no Afeganistão e de todos os afegãos "que os apoiaram durante estes anos", disse o presidente.
Nos últimos dias, os líderes alemães não esconderam sua insatisfação com os Estados Unidos, cuja retirada militar precipitou a vitória dos talibãs, segundo eles.
A ministra da Defesa, Annegret Kramp-Karrenbauer, pediu à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), nesta terça-feira, para tirar suas conclusões do fracasso no Afeganistão.
E a chanceler Angela Merkel classificou a situação de "amarga, dramática e terrível", dando a entender que a decisão dos Estados Unidos de sair do Afeganistão foi motivada por questões de política interna.
'Não fomos formar uma nação'
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, declarou, em pronunciamento na tarde de segunda-feira (16), que mantém a posição sobre a retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão, o que acarretou a retomada do poder pelo grupo extremista Talibã.
"Nossa missão nunca foi construir uma nação ou criar uma democracia centralizada e unificada"
"Fomos até o Afeganistão há 20 anos com metas definidas: capturar quem nos atacou em 11 de setembro de 2001", afirmou Biden. Na missão, segundo Biden, conseguiram acabar com os riscos da organização a Al Queda e chegar a Osama Bin Laden.
A saída militar havia sido acordada pelo governo de Donald Trump. Em setembro de 2020, o republicano iniciou uma negociação com o Talibã, apontando para a retirada das tropas americanas do Afeganistão em 2021.
Biden deu sequência às tratativas e, em 14 de abril, anunciou que colocaria fim à operação até a simbólica data de 11 de setembro de 2021. Em seguida, antecipou o prazo para 31 de agosto, o que encorajou o Talibã a avançar rapidamente.
Mulheres apagadas
A população do Afeganistão já exibe sinais de apreensão após o Talibã tomar o palácio presidencial, em Cabul, nesse domingo (15). Imagens de mulheres já foram apagadas de muros em locais públicos em seguida à entrada do novo regime. As informações são do jornal Metrópoles.
O chefe do serviço de notícias afegão Tolo News, Lotfullah Najafizada, publicou, durante a tarde do domingo, foto na qual um homem cobre com tinta imagens de mulheres pintadas em um muro da capital afegã. O veículo publicou, nesta segunda-feira, que a presença de mulheres em público reduziu drasticamente.
A ação reflete a angústia de afegãs, ativistas e autoridades políticas sobre a situação dos direitos das mulheres no país. Na década de 1990, o Talibã privava a população feminina do acesso à educação — muçulmanas não podiam frequentar escolas e universidades.
Ainda no domingo, Aisha Khurram, ex-embaixadora da Juventude da Organização das Nações Unidas (ONU), informou que professores foram vistos se despedindo de suas alunas na Universidade de Cabul.
O porta-voz do grupo extremista, Suhail Shaheen, afirmou que o Talibã pretende manter os direitos das mulheres, apesar dos relatos registrados. Ele declarou à BBC que as propriedades e a vida da população estão asseguradas, principalmente no que tange aos residentes de Cabul.