O que é o Isis-K? Conheça o suposto inimigo do Talibã no Afeganistão
A organização terroristas reivindicou a autoria das duas explosões que aconteceram no aeroporto de Cabul na quinta-feira (26)
Desde que o Talibã retornou ao controle do Afeganistão, milhares de cidadão desesperados tentam embarcar em voos e fugir do país. No entanto, em meio ao caos, surgiu outra ameaça: o grupo terrorista Isis-K — sigla em inglês para Estado Islâmico da Província de Khorasan (EI-K), vertente regional do Estado Islâmico (EI), que atua no país e no Paquistão.
Nesta quinta-feira (26), a organização reivindicou a autoria das duas explosões que aconteceram no aeroporto de Cabul, deixando pelo menos 13 mortos e 52 feridos, entre eles militares norte-americanos.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, já havia mencionado na terça-feira (24) que a ameaça do Isis-K estava crescendo no país.
"Cada dia que estamos no território [afegão] é mais um dia em que sabemos que o Isis-K está tentando atacar o aeroporto e atacar tanto os Estados Unidos quanto as forças aliadas", alertou.
O que é o Isis-K?
A organização terrorista Isis-K é um braço regional do Estado Islâmico (também conhecido pela sigla em inglês Isis) que atua no Afeganistão e no Paquistão.
Conforme informações da agência AFP, meses após o EI declarar um califado — modelo islâmico monárquico de governo, em que o chefe de estado, o califa, age como um sucessor da autoridade política e religiosa do profeta Maomé — no Iraque e na Síria, em 2014, combatentes que deixaram o Talibã paquistanês se uniram aos militares no Afeganistão para formar o braço regional. Eles juraram lealdade ao líder do Estado Islâmico, Abu Bakr al Baghdadi.
O Isis-K é considerado o mais extremo grupo de militares jihadistas — termo usado por acadêmicos ocidentais para se referir aos muçulmanos sunitas violentos.
Segundo a BBC, a organização recruta afegãos e paquistaneses, especialmente desertores do Talibã, que não consideram a organização antiga extrema o bastante.
Além do ataque ao aeroporto de Cabul, o grupo é apontado como autor das piores atrocidades dos últimos anos na região, tendo como principais alvos escolas femininas, hospitais e até mesmo uma maternidade.
Diferente do Talibã, que possui uma atuação mais direcionada ao Afeganistão, o Isis-K integra a rede global do Estado Islâmico, que tem realiza ataques principalmente a ocidentais e humanitários.
"Khorasan" é um nome histórico que se refere a região que inclui o território onde fica atualmente Paquistão, Irã, Afeganistão e Ásia Central, segundo a AFP.
A base da organização está localizada na província afegã de Nangarhar, próximo à fronteira com o Paquistão, conforme a BBC. Monitores da Organização das Nações Unidas (ONU) indicam que o grupo também está presente no território paquistanês e na capital do Afeganistão, Cabul.
Durante o auge, o Isis-K contava com cerca de 3 mil combatentes, mas sofreu baixas significativas após confrontos com forças de segurança norte-americana, afegãs e com Talibã.
Qual é o objetivo do Isis-K?
O principal objetivo do grupo jihadista, assim como todos os outros do movimento, é expandir o islã e contrapor-se ao perigo que pode atingi-lo. Conforme a BBC, os muçulmanos têm, a rigor, o objetivo de reordenar o governo e a sociedade conforme a lei islâmica, chamada Sharia.
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Porém, os jihadistas acreditam ser através da violência que conseguirão erradicar obstáculos para a restauração da lei de Deus na Terra e para defender a comunidade muçulmana, conhecida como umma, contra infiéis e apóstatas — pessoas que deixaram a religião.
Muçulmanos não costumam utilizar o termo "jihadista", pois muitos acreditam que se trata de uma associação incorreta entre um conceito religioso nobre e a violência ilegítima. Em vez disso, eles empregam o termo "pervertidos", com a ideia de que muçulmanos envolvidos em atos violentos se desviaram dos ensinamentos religiosos.
Inimigo do Talibã?
O grupo terrorista acusa o movimento radical que domina o Afeganistão de abandonar o Jihad e o campo de batalha ao fechar um acordo de paz com os Estados Unidos, em fevereiro de 2020. Segundo o Isis-K, os talibãs negociaram em "hotéis chiques" de Doha, no Catar.
Conforme a BBC, os militares do braço do Estado Islâmico representam um grande desafio de segurança do governo Talibã.
No entanto, as duas organizações já chegaram a atuar juntas, através de um terceiro grupo, a rede Haqqani — que é atualmente ligada ao Talibã.
Conforme o pesquisador da Fundação Ásia-Pacífico, que monitora as redes militantes no Afeganistão há anos, Sajjan Gohel, "vários ataques importantes entre 2019 e 2021 envolveram a colaboração entre a Isis-K, a rede Haqqani e o Talibã, além de outros grupos terroristas baseados no Paquistão", relatou à BBC.
Ao assumir Cabul, no último dia 15 de agosto, o grupo libertou um grande número de detentos da prisão de Pul-e-Charki — onde estariam alguns combatentes do Estado Islâmico e da Al-Qaeda.