Setor automotivo se planeja para 'boom' da reciclagem de baterias até 2030
Estratégia pode reduzir a demanda mundial em 2040 de 25% para o lítio, 35% para o cobalto e o níquel, e 55% para o cobre
Com o 'boom' dos veículos elétricos, milhões de baterias devem chegar ao fim de sua vida útil em alguns anos. Por isso, o setor da reciclagem se prepara para acelerar o ritmo no mundo. Estas baterias são uma mina de materiais, pesam até 500 kg e representam até 50% do valor de um carro elétrico. A extração dos materiais e a montagem das baterias são muito contaminantes e caras.
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Para tornar a produção rentável, é preciso primeiro prolongar sua vida útil para além dos 8 a 15 anos em um veículo antes de perder potência, mas também dar-lhes um segundo uso, como em residências.
O potencial da reciclagem pode reduzir a demanda mundial em 2040 de 25% para o lítio, cerca de 35% para o cobalto e o níquel, e 55% para o cobre, segundo o Instituto de Futuros Sustentáveis (ISF) da Universidade Tecnológica de Sydney, na Austrália.
Em uma área industrial situada na zona rural do leste da França, a empesa Veolia construiu uma planta de reciclagem piloto em seu sítio EuroDieuze, que recupera sobretudo pequenas baterias de celulares e computadores.
A bateria é descarregada, retira-se seu envoltório plástico e eletrônico, assim como as folhas de alumínio que retêm as células, seu coração. Em seguida, estas células são trituradas para extrair e classificar os diferentes metais, mediante vários processos. A segurança é primordial. Além dos riscos elétricos, estes módulos estão cobertos de solventes muito inflamáveis e contaminantes.
"Projeções colossais"
A indústria consegue reciclar 60% do peso das baterias, aponta o ISF. "É tecnicamente possível recuperar estes quatro metais (lítio, cobalto, níquel, cobre) em mais de 90%, mas faltam incentivos econômicos ou normativos para fomentar o uso de materiais reciclados", acrescenta.
A Comissão Europeia deseja impor aos fabricantes um mínimo de compostos reciclados nas baterias a partir de 2030: 12% de cobalto, 4% de lítio e 4% de níquel.
Esta reciclagem, que poderia ser maciça e rentável, desperta interesse. A indústria está mais avançada na China, segundo os observadores. A fabricante de baterias CATL acaba de anunciar a construção de uma planta de reciclagem de 32 bilhões de iuanes (quase 5 bilhões de dólares) na província de Hubei (centro).
Nos Estados Unidos, um dos fundadores da Tesla arrecadou em julho 500 milhões de dólares para ampliar sua planta de reciclagem Redwood.
No norte da Suécia, a empresa emergente Northvolt deve pôr em funcionamento em 2022 uma planta capaz de reciclar 25.000 toneladas de baterias ao ano.
Esta 'start-up', que tem como sócios a BMW e a Volkswagen, promete utilizar até 50% de materiais reciclados para produzir baterias em sua vizinha megaplanta em Skellefteå com vistas a 2030.
Este projeto de reciclagem, denominado "Revolt", é essencial para a contabilidade do carbono - e a comunicação - da empresa, que promete ser a mais "verde" da Europa para a produção de baterias elétricas de alta potência.
A gigante francesa do setor nuclear Orano (ex-Areva) também lançou um projeto piloto. "As projeções da tonelagem de baterias a reciclar são colossais. Falamos já em 500.000 toneladas a reciclar em 2030", assegura Didier David, diretor deste projeto.
"Todas as previsões que tínhamos até agora estavam subestimadas. A produção de baterias cresce constantemente e existe o risco de que a Europa não esteja preparada", assegura Emma Nehrenheim, da Northvolt, que considera que é preciso "agir agora".