Testemunha do Caso Alana afirma que foi ameaçada por familiares da vítima e por perfis 'fakes'
Jovem contou em audiência de instrução, na Justiça Estadual, que foi cobrada para falar mal do réu
Uma amiga da estudante Alana Beatriz Nascimento de Oliveira e testemunha do Caso Alana afirmou, em audiência de instrução na Justiça Estadual, que sofreu ameaças de familiares da vítima e de perfis 'fakes' (falsos) nas redes sociais, para ela falar mal do réu, o empresário David Brito de Farias.
Alana foi encontrada morta, com um tiro na testa, em uma residência no bairro Luciano Cavalcante, em Fortaleza, no dia 21 de março de 2021. O acusado responde em liberdade pelo crime de homicídio por dolo eventual (quando assume o risco de causar a morte). A defesa do empresário sustenta a tese de disparo involuntário ou acidental, argumento defendido pelo perito aposentado e ex-coordenador da Perícia Forense, Roberto Luciano Dantas, em parecer técnico solicitado pelos advogados de David.
As declarações foram feitas pela testemunha em uma audiência de instrução realizada pela 4ª Vara do Júri de Fortaleza, por videoconferência, no dia 17 de maio deste ano, que contou com a participação de um juiz, de um representante do Ministério Público do Ceará (MPCE), de dois advogados de defesa do réu e de outros dois advogados da família de Alana Oliveira, que atuam como assistentes de acusação no processo criminal. O Diário do Nordeste teve acesso ao vídeo da audiência na íntegra.
A testemunha (que não será identificada pela reportagem) falou que "parte dos familiares (da vítima) me pressionou muito para eu dizer... Uma boa parte das pessoas ficou me incentivando para eu mentir, dizer que ele tinha sido grosseiro, agressivo. Mas ele me recebeu muito bem na casa dele".
Vários (perfis) fakes foram criados e vinham me ameaçar. Eu tive que passar um ano sem usar Instagram, WhatsApp. Eu tive que mudar de número. Por isso que meu número mudou", revelou a testemunha, acrescentando que as contas nas redes sociais afirmavam "que eu estava mentindo e que eu tinha recebido dinheiro para falar que não tinha visto (as agressões)".
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Questionado se abriu investigação sobre o relato, o Ministério Público do Ceará negou a existência da denúncia, em nota: "O MPCE informa que, até o momento, nenhuma testemunha relatou ter sofrido algum tipo de violência ou grave ameaça no âmbito do processo criminal em questão".
O advogado Daniel Queiroz, que representa a família de Alana Oliveira como assistente de acusação, afirmou que "a nós, muito nos interessa a apuração de tais fatos, em especial ao que está sendo apurado no curso da instrução criminal, que nos revelou fatos de extrema relevância, como restou significativamente demonstrado, que ela (vítima) teria tido relações sexuais com David, o que foi omitido pela mesma, em seu depoimento prestado em sede de delegacia".
"Cabe, todavia, salientar que esta seria, supostamente, a única testemunha que sofreu tais ameaças", destaca Queiroz, acrescentando que, até o momento, os responsáveis por esses crimes "não foram identificadas pela própria 'vítima'".
Procurada pela reportagem, a defesa de David Brito, representada pelos advogados Leandro Vasques e Holanda Segundo, afirma, em nota, que "enxerga tais fatos como de elevada gravidade".
A testemunha se mostrou extremamente constrangida, chegando a chorar diversas vezes, em razão das pressões e ameaças sofridas para criar fatos inverídicos que prejudicassem David, o que configura indiscutivelmente crime de coação no curso do processo, sendo obrigatória a apuração do caso pelas autoridades competentes."
A defesa acrescenta que "prossegue confiante que a verdade prevalecerá sobre as censuráveis tentativas de se desvirtuar o que de fato aconteceu. Reforçamos que não temos a menor dúvida de que o lamentável episódio se deveu a um acidente, até porque motivo algum havia para um crime doloso, já que David sequer conhecia a vítima anteriormente".
Audiências de instrução
A jovem contou à Justiça ainda que conhecia Alana há anos e que foram juntas assistir uma live na residência de David Brito, na noite anterior ao crime. O evento transcorreu com harmonia, pessoas se divertindo e ingerindo bebidas alcoólicas, segundo ela. Nas primeiras horas do domingo fatídico, a jovem e um homem decidiram ir embora da casa e convidaram Alana para ir com eles, mas o anfitrião convenceu a estudante a ficar. A testemunha foi para casa e dormiu. Somente no outro dia, ela soube da morte da amiga.
O processo criminal já teve duas audiências de instrução (a outra foi realizada no último dia 2 de junho), e tem uma terceira marcada para 20 de julho deste ano. Ao total, 6 pessoas já foram ouvidas perante a Justiça.