Polícia Civil terá Departamento de Combate ao Crime Organizado no Ceará, anuncia secretário
O novo Departamento faz parte de uma reestruturação da Polícia Civil, que também inclui o ingresso de novos policiais e expansão da Inteligência
Na busca de novas estratégias para enfrentar o avanço das facções criminosas no Ceará nos últimos anos, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS) decidiu criar, dentro da Polícia Civil do Ceará (PCCE), o Departamento de Combate ao Crime Organizado. O anúncio foi feito pelo titular da SSPDS, Samuel Elânio, em entrevista ao Sistema Verdes Mares nesta sexta-feira (16).
O Departamento irá englobar a Delegacia de Combate às Ações Criminosas Organizadas (Draco), a Delegacia de Narcóticos (Denarc) e a unidade de combate ao Tráfico de Armas. Terá abrangência em todo o Estado, com braços nas regiões que serão representados pelos Núcleos Avançados de Investigação (NAI) - que já foram instalados em Sobral e Juazeiro do Norte.
"Até porque todos eles (criminosos) estão interligados. Hoje ele é traficante, amanhã ele é assaltante de banco, outro dia está investindo em outro crime", relaciona Samuel Elânio, que informa também que o projeto já passou pela Secretaria do Planejamento e Gestão (Seplag), está na Procuradoria-Geral do Estado (PGE) e depois vai para votação na Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) e assinatura do governador Elmano de Freitas. A expectativa do secretário é que o trâmite seja concluído até março.
O novo Departamento faz parte de uma reestruturação da Polícia Civil, que também inclui o ingresso de 500 novos policiais civis (que estão em fase de conclusão da formação), bonificações para os agentes e o maior investimento na Inteligência. Para isso, a SSPDS já conseguiu a aprovação, na Alece, do projeto de lei que expande os cargos de Inteligência das Forças de Segurança, de 135 vagas para 719 postos, e aumenta a gratificação para esses profissionais, para até R$ 1.900.
Outra mudança na Inteligência foi confirmada pelo secretário Samuel Elânio: o coronel Márcio Oliveira, da Polícia Militar do Ceará (PMCE), deixou o cargo de secretário-executivo de Ações de Inteligência e Defesa Social da SSPDS, que será assumido pelo delegado da Polícia Federal (PF) Ângelo Filardi.
"Foi um convite meu e, consequentemente, tive que exonerar o coronel Márcio. Desde o início da minha gestão, eu tinha interesse de trazer algum delegado da Polícia Federal. Eu já tinha trabalhado com o delegado Ângelo Filardi, nas áreas de assalto a banco e a carro forte, bem como ele me sucedeu na Força Tarefa de combate às facções aqui no Estado do Ceará. Então, é uma pessoa com bastante experiência, cearense e conhecedor do Estado", detalhou Elânio, que também é delegado federal cedido à Secretaria da Segurança Pública.
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Combate às facções criminosas
Na entrevista, o secretário Samuel Elânio destacou ainda que a atuação das facções criminosas é uma preocupação não só estadual, como nacional e até mundial. "Não existe receita pronta. Se existisse, alguém já teria colocado em prática e resolvido", afirmou.
O que nós podemos fazer, ao nível do Estado do Ceará, é trabalhar de forma técnica, sem amadorismo, investindo nesse novo Departamento de Combate ao Crime Organizado e, com isso, ter um trabalho mais eficiente e direcionado."
As facções criminosas se digladiam há anos no Ceará. Em 2024, dois episódios protagonizados pelo crime organizado já assustaram moradores de Fortaleza: uma tentativa de chacina que deixou dois mortos e 15 feridos, na Barra do Ceará; e ameaças a moradores do Pirambu e adjacências que abrissem o comércio ou realizassem festas, após a morte de um cearense chefe de uma facção carioca, em uma operação policial no Rio de Janeiro.
Outra estratégia do Estado é reforçar o Comando da Polícia Militar para Prevenção e Apoio às Comunidades (Copac), na Capital e no Interior do Estado, com o ingresso de 1.600 novos soldados e 160 oficiais - que já estão em formação - nos quadros da Polícia Militar do Ceará.
O Copac tem o propósito de entrar nas comunidades e ouvir a população mais próximo. Questionado se a interação com policiais militares pode colocar moradores em risco, diante da atuação das facções criminosas nas regiões, Samuel Elânio garantiu que esse processo tem que ser feito "com cuidado e estudo" e que a Polícia Militar precisa continuar presente nessas localidades, mesmo depois do contato com populares.