Jovens denunciam agressão e racismo por seguranças de casa de samba em Fortaleza: 'não é teu lugar'

A dupla de amigos foi mandada para fora do local após um deles tirar a blusa molhada para secá-la

Escrito por Matheus Facundo , matheus.facundo@svm.com.br
câmera de segurança mostrando jovem sendo carregado por seguranças e outra foto com o rosto dele agredido
Legenda: Agressão ocorreu em julho no Samba do Vila
Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Dois jovens foram vítimas de agressão por seguranças de uma casa de samba no bairro Varjota, em Fortaleza, no último mês de julho, e ainda aguardam na Justiça e realização da primeira audiência do caso. A conciliação estava marcada para essa segunda-feira (27), mas o estabelecimento não recebeu a notificação e, portanto, não compareceu.

Conforme o atleta e professor de beach tênis Davi Sales Ribeiro, de 24 anos, o grupo de profissionais cercou a dupla e um deles chegou a proferir declarações consideradas por ele como racismo e preconceito. 

Frases como "primeiramente não era nem para você estar aqui" e "teu lugar não é esse, tenho nojo do seu tipo de pessoa" foram ditas durante a confusão, que começou após os seguranças escoltarem o amigo de Davi, Gabriel, para fora, pois ele tirou a camisa para secá-la porque havia caído em uma poça de cerveja, conforme o relato. 

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"Quando voltei do banheiro os seguranças já estavam cercando ele. A gente já não tinha sido abordado da melhor forma desde que chegamos. Eu questionei o motivo de eles estarem nos expulsando e ele começou a dizer as coisas [frases preconceituosas] para mim", relembra Davi. 

O atleta conta que confrontou o segurança que o ofendeu e ele ficou nervoso e tirou a camisa e começou a bater nele já fora do estabelecimento. O amigo, Gabriel, viu a situação e disse que iria gravar a agressão, mas seu celular estava descarregado. Nesse momento, outros seguranças enforcaram e ele desmaiou enquanto era repetidamente agredido. 

O fato foi presenciado por Davi, que gritou e pediu socorro. "Eram uns 5, 6 seguranças batendo nele".

"E aí eu peguei a moto e fui na delegacia, mas o policial disse que não podia atender a gente porque a gente estava ensanguentado, então ele mandou a gente ir primeiro pra UPA do Edson Queiroz, 1h da manhã já. Voltamos pra delegacia e aí fizemos o B.O. No outro dia, mandei mensagem para o Instagram do Samba e eles não responderam", conta. 

A Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE) segue investigando o caso por meio do 2º Distrito Policial. A ocorrência anteriormente estava com a Delegacia de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou Orientação Sexual (Decrin), mas foi transferida para que continuem as oitivas.  O caso de racismo e injúria ainda não foi descartado. 

'Me senti um lixo', relata vítima 

Ao Diário do Nordeste, Davi conta que "se sentiu humilhado feito um bicho, um qualquer": "Porque pela forma que ele tratou a gente, não teve nenhum motivo para fazer o que eles fizeram. Eu quero justiça", desabafa. 

Ele, que dá aulas de beach tênis e participa de competições, conta que não conseguiu jogar e comparecer aos locais por mais de uma semana. "Infelizmente não consegui jogar no meu campeonato depois por saúde mental e física". 

Gabriel, que foi espancado, ficou um mês sem poder trabalhar e com muitos traumas, segundo o amigo de adolescência. Ele tem um negócio de limpeza de estofados.

Estabelecimento foi conivente, diz advogado

De acordo com o advogado das vítimas, Natan Araújo, do escritório Machado Advogados & Associados, o estabelecimento foi conivente com as agressões, pois não expressou solidariedade às vítimas, e inclusive ignorou pedidos de câmeras de segurança externas e de apoio.

De acordo com nota da PC-CE,  "as vítimas teriam sido agredidas e ofendidas no local. Imagens de câmeras de segurança auxiliam os trabalhos policiais".

"Eles têm conhecimento do caso e nunca se propuseram a resolver de alguma forma. A casa foi completamente conivente com as agressões e não quis ajudar a identificar eles", assinala o advogado. 

Além da queixa-crime pela agressão e pela denúncia de racismo, há um processo cível em tramitação, que pede R$ 100 mil em indenização por danos morais e materiais, sendo R$ 50 mil para cada vítima.

O Diário do Nordeste tenta contado com o Samba da Vila desde o início da tarde desta terça-feira, mas não conseguiu resposta. 

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