'Escobar brasileiro' e suspeito de terrorismo: ligações da facção cearense Massa para lavar dinheiro

Organização criminosa movimentou mais de R$ 165 milhões, em 41 contas bancárias - que foram bloqueadas pela Justiça Estadual

Escrito por Messias Borges , messias.borges@svm.com.br
Bens luxuosos foram apreendidos com líder da facção criminosa Massa Carcerária
Legenda: Bens luxuosos foram apreendidos com líder da facção criminosa Massa Carcerária
Foto: Reprodução

Uma investigação da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado no Ceará (Ficco) sobre a facção cearense Massa Carcerária mapeou ligações do grupo criminoso em vários estados do Brasil e até fora do País, que eram responsáveis pelo tráfico de drogas e, principalmente, pela lavagem de dinheiro. A Operação Extramuros prendeu, em abril deste ano, dois médicos, um advogado e outros suspeitos de integrar o esquema, quatro dias depois do número 1 da facção ser capturado.

A Massa Carcerária (também conhecida como 'Neutros') nasceu em 2021, a partir de uma dissidência na facção carioca Comando Vermelho (CV) no Ceará. Lideranças locais "rasgaram a camisa" por discordância com o líder máximo do CV, o que começou uma guerra entre os dois grupos criminosos por território para o tráfico de drogas, no Estado. 

Um relatório da Ficco, obtido pelo Diário do Nordeste, detalha como a organização criminosa cearense, criada há menos de três anos, "lavava" o dinheiro do tráfico de drogas, com escoamentos por todo o Brasil. Os alvos da investigação movimentaram mais de R$ 165 milhões, em 41 contas bancárias (entre pessoas físicas e pessoas jurídicas) - que foram bloqueadas pela Justiça Estadual com a deflagração da Operação Extramuros.

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Uma das pessoas investigadas por integrar o esquema criminoso é Diemes Oliveira Batista, de 41 anos, irmã de Francisco Thiarlle Oliveira Batista, 34, apontado como o principal operador financeiro da Massa e preso no mesmo dia do número 1 da organização criminosa, Francisco Jefferson Silva de Paula, o 'Irmão F', 36.

Francisco Thiarlle teria, sozinho, movimentado R$ 8,3 milhões, enquanto a irmã, mais R$ 1,6 milhão, entre 2018 e 2022. Movimentações suspeitas, segundo o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), para duas pessoas que trabalhavam como conferentes de carga e descarga.

Chamou atenção das autoridades que Diemes Batista trocou transações financeiras com a empresa Fortaleza Big Holding LTDA - que foi investigada na operação The Fallen, da Polícia Federal (PF), por ter relação com o narcotraficante Sergio Roberto de Carvalho, o 'Major Carvalho', também conhecido como 'Escobar brasileiro'. O ex-major da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul é apontado como um dos maiores traficantes do Brasil e acusado de enviar 50 toneladas de cocaína para a Europa. Ele passou 13 anos foragido, até ser preso na Hungria, em 2022.

Médico sem autorização de atuar no Brasil

Outro alvo da Operação Extramuros foi Breno Alves Luz, 44, formado em Medicina na Bolívia, porém sem autorização para exercer a profissão no Brasil. Ele era contratado como enfermeiro de nível superior, por duas prefeituras do Maranhão, com salário de R$ 2,4 mil. 

Entretanto, relatórios do Coaf apontaram que Breno movimentou quase R$ 15 milhões em contas bancárias, entre os anos de 2019 e 2021. Seguir as suas transações financeiras levou a Polícia a um suspeito de envolvimento com o terrorismo

O médico teria trocado transferências bancárias com a empresa Lamani Transportes LTDA, que pertence a Munife de Andrade Araçagi - uma mulher que tem vários registros de entradas e saídas na fronteira Brasil-Bolívia (um dos principais produtores de droga da América do Sul).

Conforme o documento da Ficco, "o pai de Munife, Khaled Nawaf Aragi, é um libanês naturalizado brasileiro que possui envolvimento com grupos terroristas e já foi condenado a oito anos de prisão por crime de lavagem de dinheiro, inclusive cometido em benefício do traficante carioca Luiz Fernando da Costa, de alcunha 'Fernandinho Beira-Mar', uma das conhecidas lideranças da organização criminosa Comando Vermelho".

Khaled Aragi chegou a ser preso pela Polícia Militar, no Município de Corumbá, no Mato Grosso do Sul, em novembro de 1999, por suspeita de realizar lavagem de dinheiro do tráfico de drogas, com o uso de uma casa de câmbio. A ordem de prisão foi expedida pela 1ª Vara Criminal de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro.

Suspeitos de lavagem de dinheiro presos

A Operação Extramuros, deflagrada pela Ficco no dia 9 de abril deste ano, prendeu nove suspeitos de realizar lavagem de dinheiro para a facção Massa Carcerária, além de cumprir 44 mandados de busca e apreensão, no Ceará, Maranhão, Pará, Acre, Mato Grosso, São Paulo e Paraná. Os alvos estavam espalhados pelo Brasil, o que revelou a capacidade da organização criminosa de escoar os rendimentos do tráfico de drogas. Imóveis e veículos luxuosos teriam sido comprados nos diversos estados, e acabaram sequestrados por decisão judicial.

Entre os suspeitos detidos na Operação, estavam dois médicos (nos municípios de Garça-SP e Novo Itacolomi-PR) e um advogado (em Várzea Grande-MT). Segundo as investigações policiais, os investigados recebiam dinheiro nas contas bancárias para repassar para traficantes que atuavam na fronteira Brasil-Bolívia. O advogado morava próximo à fronteira, enquanto os médicos estudavam Medicina na Bolívia.

A Ficco é composta por Polícia Federal, Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS-CE), Polícia Militar do Ceará (PMCE), Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE), Polícia Rodoviária Federal (PRF), Secretaria Nacional de Políticas Penais (SENAPPEN), Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce) e Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização do Ceará (SAP).

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