Empresário que comprou jogos da Mega da Virada com 'cheques sem fundo' é acusado por mais vítimas

Suspeito de estelionato teria deixado de pagar R$ 170 mil a empresária e teria vendido lojas sem climatização, diferente do que foi acordado

Escrito por Messias Borges , messias.borges@svm.com.br
Pelo menos dois comerciantes registraram Boletim de Ocorrência (B.O.) na Polícia Civil do Ceará (PCCE) contra o empresário
Legenda: Pelo menos dois comerciantes registraram Boletim de Ocorrência (B.O.) na Polícia Civil do Ceará (PCCE) contra o empresário
Foto: Divulgação/ SSPDS

O empresário mineiro Nery Pereira Nicolau Junior, de 53 anos, réu na Justiça do Ceará por comprar R$ 76 mil de jogos da Mega Sena da Virada 2020/2021 com ‘cheques sem fundo’ (sem compensação financeira), é acusado de aplicar golpes contra outras vítimas no Estado. Ele também é investigado criminalmente em outros dois estados brasileiros e no Distrito Federal.

Após o Diário do Nordeste publicar matéria sobre Nery Pereira ter se tornado réu por estelionato, no último dia 30 de dezembro, diversas pessoas que se dizem vítimas do empresário procuraram a reportagem para realizar novas denúncias. Ao menos cinco casos foram informados às autoridades.

A empresária Kátia Hardi, dona de uma vidraçaria, conta que colocou vidro em 400 lojas de dois centros comerciais da MH Empreendimentos Imobiliários, representada por Nery Pereira Júnior no Ceará e de propriedade do cunhado do mesmo (que, segundo as investigações da Polícia, apenas empresta o nome - 'laranja' - para Nery, que é o real dono). Os empreendimentos comerciais foram construídos nos Municípios de Caucaia e Maracanaú, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), no ano de 2020.

R$ 170 mil
Mais de um ano depois, Kátia recebeu apenas R$ 30 mil e ainda aguarda receber R$ 170 mil, que foram pagos com ‘cheques sem fundo’. A empresária recebeu a informação que os cheques foram devolvidos pela alínea 22, em razão de divergência de assinatura - como aconteceu com o proprietário da lotérica que vendeu R$ 76 mil em jogos da Mega da Virada para Nery.

Kátia Hardi procurou a instituição financeira, que notificou Nery Pereira, que, por sua vez, ingressou com Ação Ordinária de Cancelamento de Protesto com Pedido de Tutela Cautelar contra o marido da empresária, alegando que o casal protestou os cheques antes de dar a oportunidade para ele pagar o valor. Segundo a defesa de Kátia, o objetivo do processo era evitar que algum empréstimo ou benefício bancário para Nery fosse barrado.

A empresária não denunciou o caso à Polícia e tentou entrar em acordo diretamente com Nery por diversas vezes, até contratar advogados para resolverem o problema. "Não me interessa a prisão dele. Me interessa o que ele deve", garante.

Somos trabalhadores, trabalhamos muito. Meu pessoal levou vidro na cabeça, porque estava tendo uma obra na pandemia em Caucaia e ele (Nery) sempre em cima. Fizemos tudo pelo (Nery Pereira) 'Júnior', entregamos as lojas no dia. Muito injusto isso."
Kátia Hardi
Empresária

Lojas foram entregues sem climatização

Diversos comerciantes que adquiriram lojas no centro comercial localizado no Centro de Caucaia também reclamam na Justiça Estadual contra a MH Empreendimentos Imobiliários, por terem acordado com Nery Pereira Júnior que os estabelecimentos seriam climatizados - mas foram entregues sem isso.

O advogado Mateus Moreno representa quatro comerciantes que estão nessa situação, que ingressaram com processos contra a MH Empreendimentos Imobiliários. "Quando esse shopping foi entregue, não foi da forma prometida, com a climatização. Os clientes não conseguiam entrar, nem os lojistas conseguiam ficar, por conta do calor. O imóvel foi projetado para receber ar-condicionado ou climatizadores. Hoje em dia, só tem ventiladores lá", afirma.

O comerciante Augusto Sérgio Ramos é um deles. "A gente comprou uma loja que era climatizada. No final, ele não climatizou a loja. A gente ainda foi para dentro com tanta fé, mas quando dá 14h, não tem quem consiga entrar, é muito quente. Porque a telha, além de ser de ferro, ainda é baixa", reforça.

Os clientes investiram cerca de R$ 40 mil em cada ponto. Segundo o advogado Mateus Moreno, dois deles também registraram Boletim de Ocorrência (B.O.) na Polícia Civil do Ceará (PCCE).

Os clientes querem a devolução dos valores pagos e cobertura dos prejuízos morais e materiais. Para a Polícia, querem que ele seja punido, pois o caso de caracteriza como estelionato."
Mateus Moreno
Advogado

A Polícia Civil do Ceará confirmou, em nota, que a Delegacia de Defraudações e Falsificações (DDF) indiciou Nery Pereira por estelionato - no caso dos jogos da Mega da Virada - e enviou o Inquérito Policial à Justiça Estadual, em março de 2021.

Sobre as outras denúncias, a PCCE afirma que segue investigando a conduta do suspeito. "Caso alguma pessoa tenha sido vítima, a PC-CE orienta que ela deve procurar a DDF, que acompanha os casos. As denúncias podem ser feitas presencialmente, ou por meio do telefone: (85) 3101-2505, da Delegacia de Defraudações e Falsificações. O sigilo e o anonimato são garantidos".

A defesa de Nery Pereira Júnior nos processos cíveis não foi localizada. O advogado que defende o empresário no único processo criminal que ele responde no Ceará, por estelionato (referente aos jogos da Mega da Virada), alega que o cliente tentou entrar em acordo com o proprietário da lotérica, que pretende pagar o valor, que o caso não se configura como crime e que a Polícia Civil não realizou diligências necessárias na investigação.

Antecedentes criminais em outros estados

A Polícia Civil e o Ministério Público do Ceará pediram a prisão preventiva de Nery Pereira Nicolau Junior para fins de garantia da ordem pública, segundo a denúncia do MPCE, "declinando que o denunciado já responde a outras ações penais e que ele possui quatro CPFs (Cadastros de Pessoas Físicas)".

A Delegacia de Defraudações e Falsificações do Ceará (DDF) localizou outras investigações ou processos criminais contra Nery Junior, em outros estados (além de processos cíveis): no Piauí, uma ação penal por falsidade ideológica está suspesna porque o acusado está em local desconhecido; em Goiás, um processo por estelionato está em tramitação; e no Distrito Federal, há três inquéritos policiais contra ele, sendo dois por estelionato e um por uso de documento falso.

Diante do exposto, não restam dúvidas que Nery Pereira Nicolau Junior, mais uma vez, fez do estelionato sua profissão, como pode ser observado por todo o seu passado em outras unidades da federação, nos processos que responde por crimes da mesma natureza."
Delegacia de Defraudações e Falsificações
No Relatório Final

A defesa de Nery Junior rebateu, na resposta à acusação, que o cliente é réu primário (isto é, não tem condenação) e já foi inocentado de uma acusação penal. E reclamou que a Polícia não solicitou informações ao banco onde o cheque 'voltou' (não foi recompensado).

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