Detento disse que pagou R$ 300 por informações a advogado flagrado com bilhete em presídio no Ceará
Júlio César foi preso na tarde dessa quarta-feira (15) no Presídio Segurança Máxima do Ceará e conduzido à Draco. Ele ainda teria chegado a ameaçar os policiais penais
O advogado Júlio César e Silva Barbosa, detido em flagrante nessa quarta-feira (15) na Unidade Prisional de Segurança Máxima do Ceará, contou em depoimento prestado à Polícia Civil detalhes da sua participação em um esquema de entrega e envio de mensagens às lideranças de facções criminosas. Conforme o próprio advogado, ele vinha exercendo função de informar aos presos o que estava acontecendo no 'mundo do crime' do lado de fora do cárcere. Em troca, recebia R$ 300 a cada encontro.
Júlio César foi flagrado em posse de bilhetes após visitar internos no equipamento recém-inaugurado pelo Governo do Estado. Na quarta-feira, um dos presos que recebeu a visita do advogado foi Paulo Henrique Oliveira dos Santos, o 'Sassá', membro de uma facção carioca e chefe de um esquema de tráfico de drogas interestadual durante anos. Paulo disse em depoimento sobre o valor de R$ 300 pago ao advogado por cada visita.
A audiência de custódia do suspeito estava programada para acontecer nessa quinta-feira (16), mas foi remarcada para a manhã desta sexta-feira (17), e deve ser realizada por meio de videoconferência.
Consta nos autos que ao fim da visita, foi feito procedimento padrão por parte dos servidores que atuam na unidade de segurança máxima, que é consultar o teor das mensagens anotadas a lápis nos papéis. Júlio César teria se negado a mostrar os bilhetes de início, mas depois indicou parte das mensagens ao policial penal.
Foi quando o servidor percebeu que o advogado escondia algo a mais e solicitou a leitura completa. O advogado teria guardado o papel no bolso novamente e a autoridade anunciado que iria solicitar reforço. Júlio César decidiu mostrar o restante das mensagens e nos papéis estavam escritas frases, como: "Uruburetama foi tomada" "Messejana foi tomada", além de outras informações acerca do rigor do sistema penitenciário.
O suspeito teria tomado o bilhete das mãos do agente e ameaçado "vou tomar as fardas de vocês. Se eu não conseguir judicialmente eu vou conseguir por outros meios, você não sabe com quem é que você está se metendo, a sua vida acaba agora, eu conheço gente importante, gente na política, vocês pensam que são polícia, vocês são uns merdas"
Ida à delegacia
Já na Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), o advogado contou que possui carteira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Secção Ceará há quase um ano e meio e falou a sua versão sobre ter quebrado parte da estrutura da viatura e ameaçado os agentes.
Segundo o detido, ele estava com calor dentro do veículo e não foi informado sobre a ventilação. Já sobre as ameaças, ele só teria dito que iria tomar as fardas por meios legais. Paulo Henrique Oliveira também foi ouvido na Draco e contou que cumpre pena na unidade de segurança máxima há 41 dias, em uma cela sozinho.
Na versão de 'Sassá', ele e o advogado conversavam sobre assuntos familiares, mas que Júlio tinha o alertado sobre outros recados para passar de fora do presídio, e o cliente disse que só queria saber sobre a família.
A OAB-CE informou, por nota, que, através da diretoria de prerrogativas e do Centro de Apoio ao Advogado, "está acompanhando e apurando todos os fatos para garantir a legalidade da prisão e também que o acusado tenha assegurado o direito à ampla defesa e ao contraditório".
Caso haja comprovação de envolvimento no caso, informamos que a OAB-CE irá realizar abertura de procedimentos internos disciplinares no Tribunal de Ética e Disciplina (TED)"
QUEM É 'SASSÁ'
Paulo Henrique fugiu do Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS) em 2008. Dois anos depois ele foi preso novamente. A captura aconteceu enquanto 'Sassá' estava em sua residência, em Aracaju. Já em 2021, a Polícia Civil cumpriu novamente mandado de prisão contra Paulo.
Conforme a SSPDS, ele vinha comandando esquema de tráfico de drogas mesmo dentro de uma penitenciária de Pernambuco. Logo após ser descoberto, o preso foi transferido para o Ceará. Quando a unidade prisional estadual de Segurança Máxima foi inaugurada, 'Sassá' foi um dos primeiros a ser levado ao novo equipamento.