Chefe do CV na Aerolândia ordenou ataque a viatura da PM

A interferência dos detentos do Sistema Penitenciário do Ceará para a insegurança registrada do lado de fora das unidades se propaga. Estar preso não significa não ter mais poder de comando na criminalidade nas ruas. Os 30 ataques registrados em cinco dias, desde última sexta-feira (27) até o último dia 31, comprovam a interferência dos presos no cotidiano fora da cadeia.

O nono preso suspeito de participar dos últimos ataques em Fortaleza e Região Metropolitana, identificado como Gilberto de Lima Pereira, de 33 anos, o 'Céu', admitiu, em depoimento, que um homem apelidado como 'Tiago Geléia' foi quem ordenou o atentado contra uma viatura do Batalhão de Polícia do Meio Ambiente (BPMa).

'Tiago Geléia' é Francisco Tiago de Mesquita, ligado a facção criminosa Comando Vermelho (CV) e, segundo os autos, com grande influência na organização criminosa. Tiago Mesquita também é dono de uma ficha criminal extensa, incluindo porte ilegal de arma, homicídio qualificado e roubo.

No histórico criminal de 'Tiago Geleia' ainda há violação de medida cautelar. Em 29 de julho de 2017, ele foi autuado em flagrante no 13º DP (Cidade dos Funcionários). Ele foi preso no bairro Aerolândia com uma arma de fogo.

A captura aconteceu após denunciantes anônimos informarem que naquela região morava um foragido da Justiça, que já respondia por vários homicídios, roubos e tinha arrancado sua tornozeleira eletrônica. Ao chegar no endereço informado, os PMs encontraram 'Geleia' e ele admitiu ter retirado o aparelho por conta própria e escondido uma arma de fogo dentro de uma panela, na cozinha do imóvel onde residia.

À época, os policiais tiveram acesso ao celular de Francisco Tiago e verificaram que nos grupos de Whatsapp aos quais ele participava haviam várias referências ao Comando Vermelho. Na ocasião, ele teria assumido integrar a facção e ser responsável pela venda ilegal de armas de fogo, drogas e munições no bairro Aerolândia.

Depoimento

Todo o envolvimento de 'Tiago Geleia' com o CV foi confirmado por Gilberto no último dia 1º deste mês de agosto. A reportagem apurou que ao ser capturado em posse de duas armas de fogo calibre 380, no bairro Tancredo Neves, 'Céu' teria dito na Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) que "fecha com o Comando Vermelho" e 'Geléia' foi quem ordenou o ataque na Aerolândia, "pois ele tinha poder de mando na região".

O ataque que 'Céu' se refere, ele é suspeito de integrar um grupo que arremessou um coquetel molotov contra um veículo oficial do Batalhão Especializado da PM.

Documentos que a reportagem teve acesso mostram que 'Céu' é foragido do Instituto Presídio Professor Olavo Oliveira (Ippoo) II, em Itaitinga, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) divulgou que ele já tinha antecedentes criminais por extorsão mediante sequestro e crime contra a paz pública.

Liberdade

Quem recentemente esteve próximo de voltar às ruas, este, de forma legal, foi 'Tiago Geléia'. Recluso na Unidade Prisional Hospital Otávio Lobo, no dia 5 de julho deste ano foi expedido uma alvará de soltura para colocá-lo em liberdade por cumprimento da pena.

Conforme um oficial de justiça do Poder Judiciário do Ceará, seis dias depois, na manhã do dia 11 de julho, uma via do alvará foi entregue presencialmente a 'Tiago Geleia'. Porém, após consultas das certidões criminais enviadas pela Central Integrada de Apoio à Área Criminal (Ciaac), foi constatado que ele possuía uma restrição à soltura junto à 1ª Vara de Execução Penal da Comarca de Fortaleza.

Outro mandante

Na edição publicada nessa sexta-feira (3), o Diário do Nordeste mostrou que um outro preso suspeito de envolvimento nos recentes ataques também confessou que só cometeu o crime após receber ordens vindas de dentro do presídio.

Magno Araújo da Silva, de 30 anos, disse aos policiais militares e civis que um incêndio contra um ônibus na Sapiranga foi praticado a mando de um detento, de nome não revelado.

Araújo também teria assumido envolvimento com o Comando Vermelho, mas, quando questionado sobre como a ordem chegou até ele, não soube explicar e ressaltou desconhecer qualquer 'salve' da facção.

A respeito do que teria motivado a sequência de ataques, o titular da SSPDS, André Costa, disse à imprensa que as ações têm relação com três mortes de importantes membros do CV. Valcinei Nobre dos Santos, José Sílvio dos Santos Vieira e Francisco Adriano Martins da Silva foram mortos a tiros, em confronto com policiais, em Amontada.