Chacina do Curió: 'quem fez as mães chorarem e destruiu minha família que seja punido', diz PM réu
Clênio estava de serviço na data do crime e alegar ter ido em comboio até Messejana em busca de identificar e capturar os suspeitos pela morte do soldado Valtermberg Chaves Serpa
O terceiro júri acerca da 'Chacina do Curió' já ultrapassou mais de 25 horas de duração. O quinto policial militar réu a ser interrogado é o sargento Clenio Silva da Costa, que pede punição aos que, segundo eles, foram os responsáveis pela matança ocorrida na Grande Messejana.
"As pessoas querem fazer Justiça de qualquer jeito. Quem fez as mães chorarem e destruiu minha família tem que ser punido. Eu entrei na Polícia para ser Polícia. Eu sempre trabalhei dentro da lei. Respondo porque faz parte a gente sofrer injustiça, como eu estou sofrendo agora", disse o agente, negando as acusações.
Clênio estava de serviço na data do crime e foi em comboio até Messejana em busca de, segundo ele, identificar e capturar os suspeitos pela morte do soldado Valtermberg Chaves Serpa. Em 2017, o sargento foi pronunciado pelos crimes de homicídio e omissão imprópria (em relação às 11 vítimas mortas) e tentativa de homicídio (sobre os três sobreviventes).
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OMISSÃO
Na versão do réu, ele não cometeu tortura nem se omitiu de prestar socorro. Ele assume ter visto pessoas ao chão, mas diz que "elas já estavam assistidas por ambulância e viatura", "se a pessoa estivesse no chão sozinha eu teria parado".
"Eu não sou bandido, eu não fui lá nem porque eu quis, fui porque naquele dia infeliz eu estava de serviço de 24 horas. Tive que bater naquele lugar triste que destruiu minha vida”
DEMAIS PMS RÉUS NESTE JÚRI:
- Antônio Carlos Marçal
- José Wagner Silva de Souza
- José Oliveira do Nascimento
- Antônio Flauber de Melo Brazil
- Francisco Helder de Souza Filho
- Maria Barbara Moreira
- Igor Bethoven Sousa de Oliveira
O primeiro policial militar interrogado nesta quinta-feira (14) foi Antônio Flauber. Ele admitiu que chegou a ver três corpos no chão, na região onde os crimes foram cometidos, mas alegou que não parou para socorrê-los porque as vítimas já "estavam em atendimento" e sua composição estava em busca dos suspeitos de matar o soldado.
FAMILIARES DE VÍTIMAS AGUARDAM JUSTIÇA
As mães e outros familiares das vítimas da Chacina do Curió acompanham o terceiro julgamento do caso no Fórum Clóvis Beviláqua. A expectativa delas, que dizem não ter se abalado pela absolvição do júri anterior, é que seja feita justiça pelos 11 homicídios, três tentativas de assassinato e quatro crimes de tortura, ocorridos entre os dias 11 e 12 de novembro de 2015, na Grande Messejana.
"Esperamos justiça. Não podemos esperar outra coisa. Mesmo com esse resultado [anterior] frustrante, a gente não se abalou, porque o nosso abalo já vem desde aquela madrugada. Então, não tem como se abalar mais. A gente não coloca esse resultado passado como uma derrota. Buscamos justiça, o que é muito diferente", destaca Sílvia, mãe de dois sobreviventes.
PRIMEIRO E SEGUNDO JULGAMENTO
No primeiro julgamento, quatro policiais militares foram condenados a mais de mil anos de prisão, se somadas as penas, por participação na chacina. Ideraldo Amâncio, Wellington Veras Chaves e Marcus Vinícius Sousa da Costa saíram do 1º Salão do Júri do Fórum Clóvis Beviláqua presos e foram levados ao Presídio Militar. Já Antônio José de Abreu Vidal Filho foi detido nos Estados Unidos, em agosto último.
No segundo momento, após quase 100 horas de julgamento, oito PMs foram absolvidos da acusação de omissão de socorro no massacre: Gerson Vitoriano Carvalho , Thiago Veríssimo Andrade Batista de Carvalho, Josiel Silveira Gomes, Thiago Aurélio de Souza Augusto, Ronaldo da Silva Lima, José Haroldo Uchoa Gomes, Gaudioso Menezes de Mattos Brito Goes e Francinildo José da Silva Nascimento.