CGD afasta preventivamente PM que atuava como falso médico no Ceará e retira sua arma de fogo
Duas investigações administrativas contra o policial militar foram abertas oficialmente pela Controladoria, por exercício ilegal da medicina e estelionato
A Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário do Ceará (CGD) oficializou a abertura de mais duas investigações administrativas contra o soldado da Polícia Militar do Ceará (PMCE) Khlisto Sanderson Ibiapino de Albuquerque - que atuava ilegalmente como médico no Interior do Estado - e decidiu por afastá-lo preventivamente e retirar sua arma de fogo.
As portarias com a instauração dos Processos Administrativos Disciplinares (PADs) foram publicadas pela CGD no Diário Oficial do Estado (DOE) da última terça-feira (2), em decorrência da prisão em flagrante por exercício ilegal da medicina, no último dia 16 de julho, e por um crime de estelionato cometido em 2009.
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A Controladoria justificou, para afastar preventivamente o policial militar das funções, "que os fatos que lhes são imputados, em tese, se revelam incompatíveis com a função pública, além de ser necessário à garantia da ordem pública e à correta aplicação da sanção disciplinar, pelo prazo de 120 dias".
Com a decisão, foram retidos a identificação funcional, a arma de fogo, a algema e qualquer outro instrumento de trabalho que esteja em posse do militar. Khlisto Sanderson já estava afastado das funções antes da prisão em flagrante, devido a uma Licença para Tratamento de Saúde (LTS), por doença mental, mas ainda tinha posse legal de arma de fogo e munições (inclusive, portava várias munições na mochila, quando foi detido, dentro da unidade de saúde).
Conforme a primeira portaria, o soldado é investigado criminalmente no Rio Grande do Norte (seu estado de origem) por vender um talão de cheques pertencente a uma mulher, com 15 folhas, pelo valor de R$ 1,5 mil, no dia 17 de julho de 2009. O soldado foi denunciado por estelionato, em processo que tramita na na 3ª Vara Criminal de Mossoró, na Justiça Estadual do Rio Grande do Norte.
Na segunda portaria, a CGD relatou a prisão do soldado no Hospital Municipal de Paraipaba, no Litoral Oeste do Ceará. "O supracitado policial militar confirmou aos policiais civis que o prenderam que não dispunha de habilitação para exercer a medicina e que teria cursado Medicina no exterior e através de um grupo de WhatsApp conseguiu vaga para exercê-la", cita.
Khlisto Sanderson já era investigado administrativamente por ser preso sob suspeita de agredir a ex-sogra, no Rio Grande do Norte, em 2020. A portaria foi publicada pela Controladoria Geral de Disciplina no Diário Oficial do Estado no último dia 26 de julho.
Veja vídeo da prisão:
Outros crimes atribuídos ao militar
O Diário do Nordeste apurou que Khlisto Sanderson Ibiapino de Albuquerque também se passava por médico e por advogado no seu estado de origem, o Rio Grande do Norte.
Segundo uma fonte da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS), Khlisto Sanderson deu plantões médicos com o registro de outro profissional, em hospitais de Mossoró, Felipe Guerra e Governador Dix-Sept Rosado - cidades do Rio Grande do Norte que ficam próximas.
Já a atuação como falso advogado se dava principalmente nas ruas de Mossoró, onde o suspeito cooptava clientes para um escritório de advocacia real (com advogados certificados), mas dizia que ele era um dos profissionais do Direito. Os interessados pagavam pelo serviço, mas os casos, gerlamente, não eram solucionados na Justiça.
O policial militar também foi investigado por outros crimes no Rio Grande do Norte, mas os casos foram arquivados.
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte (TJRN) informou que "um inquérito policial que apurava possível prática de homicídio foi arquivado a pedido do Ministério Público por não ter havido indícios suficientes de autoria e materialidade".
De acordo com o portal Mossoró Hoje, Khlisto Sanderson era suspeito de participar da morte da estudante de enfermagem Ana Clara Ferreira da Silva, de 18 anos, que foi encontrada sem vida em um quarto de um hotel, na companhia do PM, no Município de Apodi, em novembro de 2019. Entretanto, uma perícia realizada na vítima constatou morte por overdose, por uso de cocaína.
O policial militar também foi investigado por violência doméstica pela suposta prática do crime de ameaça, mas o inquérito "foi extinto após o réu ter se retratado e a vítima ter optado pelo não prosseguimento do processo", segundo o TJRN. Em outra denúncia de ameaça, contra a sogra do suspeito, o processo "foi arquivado após ter sido declarada extinta a punibilidade em razão da prescrição do suposto delito", informou o Tribunal.