Agentes na escolta de empresário e 'arma da feira'; como funcionava esquema de jogo do bicho no CE

Os alvos foram denunciados pelo Ministério Público do Ceará e se tornaram réus na Justiça Estadual

Escrito por Emanoela Campelo de Melo , emanoela.campelo@svm.com.br
jogo do bicho
Legenda: Conforme a acusação, dois policiais militares e o guarda Hugo Pereira Rodrigues recebiam diárias de R$ 100 A R$ 150. Eles passaram a integrar escolta do 'bicheiro' a partir do momento em que José Bezerra foi ameaçado.
Foto: José Leomar

Um empresário e um guarda municipal se tornaram réus na Justiça cearense devido a um esquema de jogo do bicho. A denúncia do Ministério Público do Ceará (MPCE) ofertada na última semana revela detalhes de como agentes atuavam na segurança particular do empresário José Bezerra de Araújo Júnior, desde janeiro de 2022.

Conforme a acusação, dois policiais militares e o guarda Hugo Pereira Rodrigues recebiam diárias de R$ 100 A R$ 150. Eles passaram a integrar escolta do 'bicheiro' a partir do momento em que José Bezerra foi ameaçado. No dia 27 de janeiro deste ano, o empresário teria recebido informação que homens em uma Hilux SW4 estariam furtando seu maquinário. 

De acordo com documentos obtidos pela reportagem, quando o veículo cruzou o caminho do 'bicheiro', José teria efetuado disparos em via pública. O homem nega ser o autor dos tiros, mas assumiu estar em posse de uma arma de fogo comprada, já municiada, pelo valor de R$ 3 mil, na feira do Canindezinho.

Para o MPCE, a conduta do guarda municipal Hugo Pereira e dos PMs Fábio Vieira e Antônio Cleonildo demonstra não haver dúvidas acerca do crime de prevaricação, "visto que, na condição de agentes de segurança pública detinham obrigação funcional de praticar atos de ofício – comunicar responsável sobre o ocorrido – pois presenciaram crime de disparo de arma de fogo, como também tinham o dever de combater a prática da contravenção consistente na exploração de jogos de azar, a exemplo do jogo do bicho".

ACUSAÇÃO

A Justiça decidiu receber a denúncia ao afirmar que a peça engloba os requisitos básicos. Foram determinadas as citações dos denunciados Hugo Pereira Rodrigues e José Bezerra de Araújo Júnior para responderem a acusação no prazo de 10 dias.

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Os PMs também envolvidos na ocorrência foram ouvidos. Cleonildo chegou a dizer que aceitou o convite de um amigo para recolher dinheiro de alguns estabelecimentos que faziam apostas de jogos através de maquinetas eletrônicas. Ele teria visto o momento em que seu chefe se deparou com a Hilux, tendo o motorista da SW4 dado a ré no veículo e depois saído correndo a pé. 

O carioca José Bezerra de Araújo Júnior foi autuado em flagrante pelos crimes de porte ilegal de arma de fogo e disparo em via pública. No dia seguinte, foi solto em audiência de custódia.

Em depoimento prestado na Delegacia de Assuntos Internos (DAI), da Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD), os agentes de segurança alegaram que não estavam no mesmo veículo do empresário e, por isso, não conseguiram evitar que ele atirasse para cima.

No momento que em que uma composição do Comando de Policiamento de Rondas de Ações Intensivas e Ostensivas (CPRaio) interceptou os dois veículos, os PMs e o guarda municipal afirmam que estavam tentando alcançar 'Júnior Carioca' para pedir satisfação porque ele atirou.

Na época do fato, a PMCE frisou não compactuar com condutas ilícitas. Por isso, faz cumprir rigorosamente as normas legais, sem deixar de respeitar, naturalmente, os princípios do contraditório e ampla defesa.

Em relação ao guarda municipal, a Secretaria Municipal da Segurança Cidadã de Fortaleza (Sesec) e a Guarda Municipal de Fortaleza (GMF) informaram, também em nota, que "aguardam a remessa por parte da Controladoria Geral de Disciplina do Órgão de Segurança Pública (CGD) para tomarem as devidas providências legais cabíveis".

A reportagem não localizou as defesas dos denunciados.

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