Considerada por vários autores como efêmera, a moda mostra-se como objeto de desejo para uma elevada diversidade de pessoas, abrangendo, inclusive, diversos estilos e constituindo uma infinidade de produtos com rotatividade constante, seja em lojas de departamento, seja em feiras populares. No entanto, para outras pessoas, o cenário é completamente diferente, por exemplo, a complexidade de um indivíduo com mobilidade reduzida ou pessoas com Deficiência (PCDs) para adquirir uma peça do vestuário. Valre ressaltar que PCD é o nome usado para se referir àqueles com algum tipo de limitação – física, mental ou sensorial.
A sanção da Lei N°13.146, de 6 de junho de 2015, que instituiu a Lei Brasileira de Inclusão Social da Pessoa com Deficiência - Estatuto da Pessoa com Deficiência (Brasil, 2015), possibilitou o diálogo moda e deficiência, sobretudo o segmento chamado de Moda Inclusiva, apesar da necessidade de discussão sobre essas aproximações.
Segundo a PNS (2013), 1,3% da população do Brasil declarou possuir alguma limitação, sendo o percentual para os homens (1,6%) maior que o observado para as mulheres (1,0%). A partir dos 30 anos, as proporções foram crescentes em todos os grupos de idade: 30 a 39 anos, 1,0%; 40 a 59 anos, 1,9%; e 60 anos ou mais, 3,3%. No país, 0,3% da população nasceu com deficiência física, enquanto 1,0% a adquiriu em decorrência de doença ou acidente.
Criar peças do vestuário para um público de aproximadamente 45 milhões de pessoas, com representatividade em torno de 24% da população brasileira, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), parece um excelente negócio. Mas como se fala de um contingente humano com algum tipo de deficiência, isso parece meio místico à indústria de confecção, devido às especificidades. Ressalta-se que a palavra moda é repleta de significações. Ela pode representar status, conforto, design e até fazer alguém se sentir como membro de uma coletividade na qual símbolos expressam valores, além de um importante canal de comunicação e qualidade de vida. Entende-se moda particularmente como vestuário, não apenas uma vestimenta. Dessa forma, há elementos de pertencimento, status e autoestima. Por conseguinte, produzir peças que atendam a essa especificidade no mercado, além de um bom negócio, é também promover a cidadania e a inclusão.
A moda inclusiva propõe o desenvolvimento de peças que propiciem o vestir e desvestir, dando autonomia e beleza. Seu objetivo é minimizar o tempo gasto por deficientes físicos ao usar vestuários que muitas vezes foram pensados e desenvolvidos para consumidores sem deficiência. Isso é possível desde que se busque soluções criativas, confortáveis e que as peças sejam adaptadas para abranger, por exemplo, cadeirantes e andantes.
Desenvolver peças usuais com adaptações que visem ao conforto, autonomia, independência, versatilidade e estilo são alguns dos desejos das pessoas com deficiência permanente ou temporária, que podem ser alcançados incorporando soluções inovadoras na modelagem e acabamentos. Os aviamentos são elementos importantes desse processo, como, por exemplo, uma bermuda com bolsos nas pernas e abertura nas laterais, por velcros ou zíperes, peças montadas com zíperes destacáveis, botões em lugares estratégicos etc. A produção em moda para pessoas com deficiência deve extrapolar o saber fazer e se apropriar do que está na essência, ou seja, entender o conceito de deficiência, como eles dizem comumente “nada para nós sem nós”.
A acessibilidade não deve se limitar ao acesso a determinados lugares, rampas etc. A essas pessoas deve ser permitida uma vida normal, ocupar a cidade, estudar, trabalhar, transitar livremente em locais onde os produtos são comercializados e atendidos de forma satisfatória, enfim, ter uma vida plena em todos os aspectos e necessidades com o vestuário.
Empresários, designers e comerciantes devem contemplar esse público desde seu processo criativo, produção e comercialização, democratizando assim todo o processo que envolve a moda. Moda inclusiva é um tema relevante e um excelente negócio, com uma gama enorme de consumidores. Então, se deve entender que moda acessível, a contemplar na atualidade, a Moda Inclusiva é uma tendência de mercado forte e lucrativa, além de ser um ato de cidadania.
Fabíola Mourão, professora da Universidade de Fortaleza (Unifor) e consultora do Escritório de Gestão, Empreendedorismo e Sustentabilidade (Eges).