Prefeito no Ceará retira cemitério cenográfico de praça pública após embate político

Ação foi pensada para causar impacto e conscientizar moradores dos perigos da Covid-19. O cemitério cenográfico ficou exposto por dois dias e sofreu manifestação contrária assinada por vereadores de oposição

Escrito por Felipe Azevedo , felipe.azevedo@svm.com
Cemitério cenográfico em Mauriti
Legenda: Após considerar medida "exagerada", prefeito disse também que a ação causou impacto. O cenário foi montado na praça principal de Mauriti, e também na entrada da cidade
Foto: Divulgação

Uma ação da Prefeitura de Mauriti que, para conscientizar moradores sobre os perigos da Covid-19, simulou um cemitério em praça pública, gerou embate político na Câmara Municipal e foi motivo de manifesto por parte de vereadores de oposição, na região do Cariri.

O prefeito, Isaac Júnior (PT), que pediu a retirada da intervenção nesta quarta-feira (17), reconheceu que a medida foi exagerada, mas disse ter conseguido passar o recado.  

Na Praça da Matriz, funcionários da Prefeitura separaram um canteiro e cobriram a grama com areia, simulando covas. Em cima de cada uma, uma cruz foi colocada, como se ali estivesse sido enterrada uma pessoa vítima de Covid-19. Uma faixa preta com letras brancas, erguida logo acima da intervenção, dizia: “Covid mata, fique em casa”.  

O cemitério cenográfico foi montado na segunda-feira (15) também na entrada do município. E a desmontagem só foi providenciada após repercussão negativa e mobilização na Câmara. 

Críticas de vereadores

“A gente tem muita dificuldade de conscientizar a população, a medida educacional foi exagerada. Se fosse fazer novamente, não faria. De qualquer maneira, serviu para repercutir”, explica o prefeito Isaac Júnior.  

Como argumento para a ação considerada impactante, a Prefeitura diz também que a cidade, por fazer divisa com outros estados, tem movimentação alta e, mesmo com o decreto de distanciamento social, há aglomeração nas zonas rurais e urbanas.  

Na Câmara, seis vereadores de oposição - quatro do PDT, DEM e Pros -, assinaram na terça (16) uma carta de manifestação contra o ato. 

“Trazemos nossa manifestação contrária à forma como foi utilizada a campanha preventiva, com a utilização da réplica de um cemitério em praça pública, como se termos os espaços sociais e de lazer já cercados já fossem impactantes o suficiente”, diz a nota. 
 

Cemitério cenográfico
Legenda: Ação causou impacto e repercutiu na Câmara Municipal
Foto: Divulgação

 
Os parlamentares argumentaram ainda que “o que era para servir como alerta, transformou-se no que a psicologia chama de ‘gatilho’, e que provoca crises de ansiedade e pânico”. O grupo pede ainda que outras formas de conscientização sejam pensadas no Município. 

Ainda segundo a Prefeitura, ações como barreiras sanitárias, carros de som na zona rural e campanhas de conscientização continuarão a ser feitas em Mauriti. A cidade conta apenas com um hospital de pequeno porte e, de acordo com a gestão, tem cerca de 100 casos confirmados de Covid-19. 

Os dados da Secretaria de Saúde são de que cerca de 2 mil pessoas foram vacinadas no Município, que tem uma população estimada em 48 mil habitantes.  

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