Prefeito afastado Marcelo Crivella deixa presídio para cumprir prisão domiciliar

O prefeito afastado foi denunciado pelo Ministério Público, que o aponta como chefe de um suposto grupo criminoso que teria instituído um esquema de cobrança de propina na prefeitura

Escrito por Folhapress ,
Legenda: Crivella teve a prisão preventiva convertida em prisão domiciliar na noite da última terça-feira (22)
Foto: AFP

O prefeito afastado Marcelo Crivella (Republicanos) deixou o presídio de Benfica, zona norte do Rio de Janeiro, na noite desta quarta-feira (23), para cumprir prisão domiciliar.

Veja também



Na noite de terça-feira (22), o presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), ministro Humberto Martins, concedeu a Crivella a prisão domiciliar, revogando a prisão preventiva que havia sido determinada mais cedo pelo TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro).

O prefeito afastado foi denunciado pelo Ministério Público, que o aponta como chefe de um suposto grupo criminoso que teria instituído um esquema de cobrança de propina na prefeitura.

O TJ-RJ demorou quase um dia para cumprir a decisão do STJ. Na tarde desta quarta-feira, a desembargadora Rosa Helena Penna Macedo Guita expediu uma série de ordens a serem cumpridas antes de expedir o alvará de soltura de Crivella.

Sem aparelhos eletrônicos

A magistrada determinou, por exemplo, que aparelhos eletrônicos como celulares, computadores e smart TVs fossem ser retirados da casa do prefeito afastado. Ordenou, também, que empresas de telefonia fixa e internet fossem oficiadas para cortar o sinal da residência.

O ministro Humberto Martins reagiu e, poucas horas depois, determinou ao TJ-RJ que Crivella fosse imediatamente transferido para a prisão domiciliar. Ele também mandou o presidente do tribunal, Claudio Tavares, prestar informações em 48 horas sobre o não cumprimento da decisão que libertou Crivella da prisão.

No despacho em que concedeu a domiciliar, Martins determinou que Crivella deveria usar tornozoleira eletrônica e entregar seus telefones e computadores às autoridades. Ele proibiu o prefeito afastado de manter contato com terceiros.

As medidas terão validade até posterior decisão do relator do caso, ministro Antonio Saldanha Palheiro, após o recesso do Judiciário.

Ao conceder a prisão domiciliar, o ministro citou o fato de Crivella pertencer a grupo de risco da Covid-19 e fez referência à recomendação do CNJ que orienta magistrados a evitarem prisões preventivas para impedir a propagação do novo coronavírus nos presídios.

Além disso, Martins afirma que não está comprovada a necessidade de manter Crivella preso e que a jurisprudência do STJ afirma que a prisão preventiva só não deve ser substituída por medidas cautelares menos graves quando se mostrar imprescindível.

Com a prisão de Crivella, assumiu interinamente a Prefeitura do Rio o presidente da Câmara dos Vereadores, Jorge Felippe (DEM). O vice-prefeito Fernando Mac Dowell morreu em maio de 2018.

Decisão

Na decisão em que fundamentou as prisões, a desembargadora Rosa Helena Guita afirmou que Crivella pretendia colocar obstáculos à apuração dos fatos.

Segundo o Ministério Público, durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão em setembro, o prefeito afastado entregou ao oficial de Justiça o celular de outra pessoa, afirmando ser o seu.

Para justificar a prisão, a magistrada também disse que "o voraz apetite pelo dinheiro público não se limitou à atual gestão" de Crivella, podendo se repetir em futuros cargos.

Ao requerer as prisões, a acusação lembrou que o empresário Rafael Alves, pivô do suposto esquema, é temido por colaboradores e por outros integrantes da suposta organização criminosa.

O empresário é companheiro de Shanna Lopes, filha do bicheiro Waldemir Garcia, o "Maninho". As disputas por seu espólio já resultaram em uma série de homicídios no Rio de Janeiro.

Na tarde de terça-feira (22), a defesa de Crivella ingressou no STJ com um pedido de habeas corpus. Eles questionaram a competência da desembargadora Rosa Helena Guita para decidir sobre o caso e afirmaram que não é possível encontrar na decisão nenhum fato concreto que justifique a prisão.

Os advogados também sustentaram que a desembargadora prejulgou o prefeito ao dizer, antes do início da ação penal, que ele se beneficiou dos ganhos da suposta organização criminosa. A defesa disse que Crivella foi alvo de ilações e presunções.

Os advogados negaram, ainda, que o prefeito tenha entregue o celular de outra pessoa durante o cumprimento em setembro de mandado de busca e apreensão.

"Alguém que verdadeiramente visasse a obstaculizar uma busca e apreensão teria recebido os policiais, fornecido todos os objetos requeridos para, ao final, entregar um celular de terceiro, cuja autoria poderia ter sido revelada com extrema facilidade?", questionam.

 

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.