Governadores do Nordeste se reúnem com representante da Rússia após Anvisa negar uso da Sputnik V

O Ceará assinou contrato para a compra de 5,87 milhões de doses da vacina russa; recursos ainda não foram repassados

Escrito por Letícia Lima , leticia.lima@svm.com.br
Legenda: Governadores do Nordeste se reúnem com representante da Rússia para tratar da Sputnik V
Foto: Divulgação

O governador Camilo Santana (PT) e outros gestores de estados do Nordeste que negociaram a compra de milhões de doses da vacina Sputnik V estão reunidos com o Fundo Soberano Russo, nesta terça-feira (27), após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) negar a importação e o uso emergencial do imunizante no Brasil. O objetivo é discutir o que pode ser feito agora para tentar reverter a decisão. 

A diretoria da Anvisa se reuniu, na segunda-feira (26), extraordinariamente, para decidir sobre os pedidos de importação da vacina russa. Mais de dez estados, incluindo o Ceará, fizeram solicitações de compra.

A Anvisa negou o uso da vacina, alegando que os dados recebidos do laboratório são insuficientes para atestar a segurança do imunizante e apontou falhas consideradas graves na fabricação. A decisão provocou reações de governadores.

Reunidos com um representante do Fundo Russo, gestores estaduais querem mais relatórios e documentos técnicos que possibilitem revisão administrativa ou judicial da decisão da Anvisa.

Reações

No Ceará, Camilo Santana  disse, nas redes sociais, que recebeu a notícia com decepção e estranheza.

Camilo Santana twitter vacina sputnik
Legenda: Pronunciamento do governador Camilo Santana, após decisão da Anvisa
Foto: Reprodução

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), também se manifestou nas redes sociais, afirmando que aguardará a avaliação de cientistas brasileiros e russos sobre a vacina. 

O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), foi outro a se pronunciar, alegando que a vacina russa já é utilizada em mais de 50 países. Segundo o laboratório que representa o imunizante no Brasil, a Sputnik V foi autorizada em 61 países.

O Consórcio Conectar, que reúne municípios cearenses em prol da vacina, emitiu nota, afirmando que recebeu com surpresa e decepção a negativa da Anvisa para a importação da vacina russa. 

A partir disso, o Consórcio afirma que vai reavaliar os termos da negociação contratual para encontrar solução que acelere o calendário de imunização das cidades brasileiras.

Situação dos contratos assinados

O Consórcio Nordeste, formado pelos nove estados da região, negociou, em março deste ano, a compra de 37 milhões de doses da Sputnik V. Desse total, o Ceará adquiriu 5,87 milhões de doses. O contrato foi assinado pelo governador Camilo Santana no dia 19 de março.

Nenhum dos estados nordestinos que negociou a compra pagou pelo imunizante ainda. A compra só será concluída e o repasse da verba feito ao Fundo Soberano Russo quando a vacina for autorizada pela Anvisa. 

A análise do imunizante pela agência regulatória brasileira se arrasta há mais de um mês. A Anvisa alega que existem pendências na documentação e relatórios da fabricante. 

Alguns estados, inclusive o Ceará, acionaram o Supremo Tribunal Federal (STF), que deu um prazo de 30 dias - até o fim deste mês de abril - para a Anvisa se manifestar sobre a liberação da Sputnik, caso contrário, os estados estariam autorizados a importar as doses. 

Anvisa reprovou

Em reunião do colegiado, na segunda, a Anvisa apontou dados insuficientes para atestar a segurança da vacina russa contra a Covid-19, entre outras falhas consideradas graves na fabricação da vacina, e reprovou a Sputnik V.

Uma das falhas apontadas é a possibilidade do adenovírus, usado na produção da vacina, ser capaz de se replicar e causar outras doenças. 

Pontos de insegurança apontados pela Anvisa

  • Células em que adenovírus são produzidos e permitem que sua capacidade de replicação seja readquirida;
  • Estudos inadequados para embasamento das especificações;
  • Estudos de caracterização inadequados;
  • Ausência de validação/qualificação de métodos de controle de qualidade críticos;
  • Características inadequadas das impurezas e avaliação/controle inadequado no processo quanto a impurezas e vírus contaminados;
  • Necessidade de inclusão de testes de controle de qualidades adicionais.

A decisão da Anvisa ainda não é definitiva. Os diretores da agência afirmaram que se o fabricante da vacina apresentar os dados que estão faltando, a Anvisa poderá liberar o uso e importação da Sputnik V em futuras análises.