Foto de encontro de Lula e Fernando Henrique Cardoso causa diferentes reações políticas
O almoço dos ex-presidentes ocorreu no último dia 12, mas a foto só veio a público nesta sexta (21)
A divulgação de foto do encontro entre os ex-presidentes Lula (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) causou diferentes reações políticas ao longo desta sexta-feira (21).
A imagem mostra os ex-presidentes se cumprimentando durante almoço que aconteceu no último dia 12.
Os diretórios nacional e paulista do PSDB emitiram notas em tom de desconforto com o encontro entre os outrora rivais políticos. Apesar de FHC não ter declarado apoio a Lula no primeiro turno, ele tem dito em entrevistas que votará no petista, se for preciso, para derrotar Jair Bolsonaro (sem partido).
"Esse encontro ajuda a derrotar Bolsonaro, mas não faz bem a um potencial candidato do PSDB", disse o presidente nacional da legenda, Bruno Araújo.
Hoje o partido tem entre seus pré-candidatos os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e o senador Tasso Jereissati (CE).
"Nossa característica é saber dialogar, inclusive com adversários políticos", continuou Araújo. "De toda forma, precisamos evitar sinais trocados a nossos eleitores. O partido segue firme na construção de uma candidatura distante dos extremos que se estabeleceram na democracia brasileira."
A seção paulista do PSDB, presidida pelo secretário Marco Vinholi, aliado de Doria, afirmou em nota que "o encontro de FHC com Lula tem caráter dentro da democracia, onde adversários políticos dialogam".
Ressaltou, no entanto, que "o PSDB trabalha uma alternativa para o Brasil capaz de liderar a retomada tão importante no país, frontalmente contrária aos retrocessos de Lula e Bolsonaro".
Na mesma linha, o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG), que disputou a Presidência em 2014 e é crítico histórico do PT, manifestou-se pelo direito de FHC "de almoçar, jantar e tomar seu vinhozinho com quem ele escolher", mas frisou que os planos dos tucanos passam longe de aliança com Lula.
Almoço entre ex-presidentes
O almoço entre os ex-presidentes, que ocorreu no dia 12 de maio no apartamento do ex-ministro do STF e ex-ministro da Justiça e da Defesa Nelson Jobim, foi revelado por Lula na manhã desta sexta em uma publicação em suas redes sociais.
Os perfis do petista informaram que os dois "se reuniram para um almoço com muita democracia no cardápio" e "tiveram uma longa conversa sobre o Brasil, sobre nossa democracia, e o descaso do governo Bolsonaro no enfrentamento da pandemia".
Para afastar possíveis distorções sobre o encontro, FHC afirmou, horas mais tarde, também em uma rede social, que seu gesto não significa apoio imediato à pré-candidatura de Lula.
"Reafirmo, para evitar más interpretações: PSDB deve lançar candidato e o apoiarei; se não o levarmos ao segundo turno, neste caso não apoiarei o atual mandante, mas quem a ele se oponha, mesmo o Lula", escreveu o tucano, que é presidente de honra do PSDB.
PT comemora e Bolsonaro ataca
No PT, a aproximação com FHC foi comemorada como mais um passo de Lula rumo à construção da imagem de um candidato conciliador, que dialoga com forças políticas distintas e respeita adversários.
O presidente Jair Bolsonaro, em viagem ao Maranhão nesta sexta, depois da revelação do encontro, partiu para o ataque - sem citar nomes:
"Falando em política, para o ano que vem, já tem uma chapa formada: um ladrão candidato a presidente e um vagabundo como vice".
A presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), reagiu: "Só mesmo Bolsonaro é incapaz de aceitar que dois ex-presidentes podem conversar civilizadamente sobre os graves problemas do país, como fizeram Lula e FHC".
"O Brasil quer voltar a debater o futuro pela política. O ódio e a mentira deram no que deram", escreveu Gleisi em uma rede social.
À reportagem o secretário nacional de comunicação do PT, Jilmar Tatto, disse que a foto é emblemática para a batalha de somar forças para "tirar o Bolsonaro", mas que considera "muito difícil" a aproximação evoluir para uma aliança eleitoral entre os dois partidos em 2022.
Nome relevante nas discussões da esquerda para 2022, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B), disse em uma rede social considerar importante o diálogo entre os dois ex-presidentes, "independentemente de alianças eleitorais".
Para Dino, "trata-se de proteger a democracia ameaçada pela extrema-direita bolsonarista".
Descontentamentos com foto
Além de líderes do PSDB, outros políticos que trabalham pela fabricação de uma alternativa viável entre Lula e Bolsonaro revelaram, nos bastidores ou em público, descontentamento com a divulgação da foto pelo petista, acompanhada de um discurso que soa positivo para os interesses do PT.
Desde que recobrou o direito de se candidatar, em março, Lula iniciou uma abordagem a partidos e políticos de centro-direita, refez pontes com setores da esquerda e intensificou o contato com o mercado financeiro e as igrejas evangélicas, em esforço para se posicionar como moderado.
O presidente nacional do partido Cidadania, Roberto Freire, que sonha em filiar o apresentador Luciano Huck e transformá-lo nessa opção distante dos dois polos, tratou o episódio como "grave equívoco" em meio às costuras para levantar um nome competitivo do autoproclamado centro.
"Gesto de civilidade e educação o de FHC, que há 20 anos é tratado por Lula/PT como um estorvo nacional. Mas, politicamente, não me parece ajudar em nada a construção de uma alternativa democrática para os que rejeitam a opção entre Lula e o fascista Bolsonaro. Grave equívoco", afirmou.
Em declarações nos últimos dias, FHC repetiu defender a articulação de uma candidatura alternativa às de Bolsonaro e Lula, mas afirmou que, diferentemente do que fez em 2018, não anulará seu voto e escolherá o petista se ele for ao segundo turno contra o atual mandatário.