CPI da Covid pode fazer acareação entre Pazuello, Wajngarten e Pfizer, diz senador Omar Aziz
Presidente da CPI afirmou que rejeição de doses da vacina contra Covid-19 deve ser analisada
O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), afirmou que a comissão pode fazer uma acareação entre o ex-chefe da Secretaria de Comunicação (Secom) do governo federal, Fabio Wajngarten; o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello; e a diretoria da Pfizer. A declaração foi dada na noite desta segunda-feira (3) ao programa Roda Viva, da TV Cultura.
Na semana passada, Wajngarten disse à revista Veja que travou "intenso duelo" com Pazuello para viabilizar a compra a vacina contra a Covid-19 da Pfizer, rejeitada pelo governo federal em agosto de 2020. A proposta recusada previa a entrega de 70 milhões de doses a partir de dezembro.
Omar Aziz também admitiu a possibilidade de a CPI ouvir médicos que defendem o uso de cloroquina no tratamento da Covid-19. O medicamento não tem eficácia comprovada contra a doença, mas foi adotado pelo pelo governo federal.
"Todos os requerimentos serão analisados por mim. Se o pleno quiser chamar quem defende cloroquina, vou me curvar à maioria", disse o senador. Embora próximo ao governo, o presidente da CPI da Covid é considerado do grupo dos "independentes" do órgão e é crítico à condução da pandemia pelo Planalto.
'Negacionista'
Omar Aziz afirmou que o presidente Jair Bolsonaro "foi negacionista" desde o primeiro momento da pandemia, estimulando aglomerações e o uso de remédios sem eficácia comprava contra a doença. Ao mesmo tempo, Aziz evitou atribuir culpa direta, neste momento, da gravidade da pandemia no País ao chefe do Palácio do Planalto.
"Ainda é muito precipitado falar em punições a alguém, muito menos falar em impeachment. Seria uma irresponsabilidade", declarou o senador na entrevista, destacando que as investigações do colegiado ainda nem começaram.
O presidente da CPI ressaltou que a investigação "não vai dar em pizza" e que haverá encaminhamento de punições, "de quem quer que seja", caso os senadores da comissão julguem necessário. "Vamos investigar tudo. Espero que possamos concluir os trabalhos em 90 dias", disse, garantindo que não deixará haver "politização" das sessões do colegiado.
Durante a entrevista na noite desta segunda, Aziz fez apontamentos à gestão do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), que foi demitido por Bolsonaro. Mandetta e Nelson Teich, que também ocupou a pasta durante a pandemia, serão ouvidos nesta terça-feira (4)
"Não conseguíamos falar com ele, estava na televisão 24 horas por dia", disparou sobre Mandetta. "Os médicos cubanos fizeram falta na pandemia. Não tem médico a torto e a direito no Brasil", acrescentou. O programa Mais Médicos, vitrine do governo Dilma Rousseff (PT), foi encerrado por Mandetta e Bolsonaro antes da descoberta do novo coronavírus.
Omar Aziz também criticou a declaração do ministro da Justiça, Anderson Gomes, de que vai requisitar à Polícia Federal informações sobre o repasse de verbas federais a Estados e municípios. "É uma falta de assunto. O ministro da Justiça precisa trabalhar mais em outras áreas e deixar questão política", afirmou Aziz.
A fala de Gomes, feita à revista Veja na semana passada, foi interpretada como uma ameaça à comissão de inquérito. O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), quer convocar o ministro da Justiça ao colegiado para explicar a declaração.
Aziz também criticou a falta de barreiras sanitárias no País para conter a contaminação pelo novo coronavírus e apontou uma mudança de comportamento do governo após a instalação da comissão. "Você sai da soberba e, depois da CPI, vai para a humildade", declarou o senador, citando o apelo do ministro da Saúde, Marcelo Quiroga, à Organização Mundial da Saúde (OMS) por mais vacinas. "Antes, isso não acontecia".