Depois de quase sete meses de mandato, o governador Camilo Santana (PT) ainda trabalha para acomodar aliados, da ampla base de 24 partidos, que o apoiaram na reeleição.
Nos bastidores, interlocutores do petista dialogam e convocam parlamentares para cargos no Governo, no intuito de abrir vagas na Câmara dos Deputados e na Assembleia para que suplentes aliados tomem posse. As negociações envolvem até a disputa de 2020.
O caso mais ilustrativo da articulação governista é o de Gorete Pereira, do PL. Desde que perdeu a reeleição para deputada federal, no ano passado, o governador articula para levá-la de volta a Brasília.
Ela é a primeira suplente da coligação formada por PT, PCdoB, PP, PV, PL e PMN. O problema é que nenhum dos deputados federais eleitos desses partidos topou ainda “abrir” mão da sua vaga.
Segundo fontes próximas ao governador, um dos nomes que voltou a ser sondado foi o do deputado federal José Guimarães (PT). Na montagem do primeiro escalão do Governo Camilo, no início do ano, ofereceram a ele a Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA), hoje ocupada pelo colega do PT, Francisco de Assis Diniz, mas o parlamentar recusou.
Na avaliação de aliados, outro fator que dificulta as negociações com Guimarães é o fato dele ser líder do PT na Câmara. Questionado pelo Diário do Nordeste sobre as sondagens, o deputado não confirmou, nem negou. Disse apenas que qualquer “discussão tem que partir do governador”. “Temos um projeto e estamos em função dele”.
O deputado federal José Airton, também do PT, é outro nome que o Governo fez contatos, mas sem retorno positivo. Nos bastidores, o parlamentar disse a deputados que não valeria a pena trocar o mandato por cargos no Governo. A principal razão, porém, segundo ele, foi política.
“Em função das matérias relevantes como a reforma da Previdência, abrir mão seria dar vaga a uma candidata (Gorete) que não tem uma posição em defesa dos trabalhadores. Ela iria votar a favor... É ligada ao empresariado”.
Opções
Ainda na formação do Governo, a estratégia foi convidar o deputado federal Antônio José Albuquerque (PP) para chefiar a Secretaria de Cidades, abrindo assim uma vaga na Câmara. Na data, entretanto, ele não topou.
Recentemente, interlocutores de Camilo também sondaram o deputado federal, Jaziel Pereira (PL). A ideia era aproveitar a licença médica que o parlamentar precisou tirar, no mês passado, após sofrer um infarto, para “esticar” o afastamento por quatro meses. Com Jaziel fora, Gorete teria a chance de assumir. O deputado também não aceitou.
Eleições
As negociações envolveram também a deputada Luizianne Lins (PT), só que com um componente a mais: a disputa eleitoral de 2020. Segundo pessoas próximas a petista, interlocutores do Governo se reuniram, pelo menos duas vezes, com representantes da parlamentar, oferecendo o cargo voltado para ações de acolhimento aos movimentos sociais.
A medida tinha no radar a eleição municipal. A ideia seria Luizianne disputar a prefeitura de Maracanaú e não a de Fortaleza.
As tratativas, obviamente, não prosperaram. Primeiro, porque o eleitorado da petista é majoritariamente em Fortaleza. Além disso, Luizianne não teria disposição de assumir cargo no Governo do Estado, por conta de diferenças políticas entre ela e o governador, aliado fiel dos irmãos Cid e Ciro Gomes.
Alvo
Após as investidas sem sucesso para fazer Gorete assumir o mandato em Brasília, Camilo Santana resolveu nomeá-la, no dia 27 de junho, como Assessora Executiva de Relações Institucionais.
A ex-parlamentar admite que espera o arranjo na Câmara. Segundo ela, Camilo “sabe os motivos” de ela não ter sido reeleita. “Eu fazia parte de um grupo que nunca tinha perdido a reeleição. Cortei na minha pele e não estou arrependida. O Camilo fez o compromisso de o partido ter dois deputados federais. Sigo aguardando, é uma tarefa dele”, cobrou.
Até o início do ano passado, o PL, partido de Gorete, era presidido no Ceará pelo deputado federal Roberto Pessoa, oposição ao governador. Em uma manobra, Gorete assumiu o PL no Estado, levando a legenda para a base.
Acordos
Aníbal Gomes (DEM), por exemplo, que também não conseguiu se reeleger, em 2018, voltou a ocupar a cadeira na Câmara Federal, neste ano, após o deputado federal Mauro Filho (PDT) assumir a Secretaria de Planejamento e Gestão do Estado.
E os acordos para acomodar aliados da ampla base de apoio de Camilo não param por aí. Na Assembleia Legislativa, segundo deputados da base, o combinado é fazer um tipo de “rodízio” entre deputados da coligação formada por PP, PDT, PL, DEM e PRP, para dar a vez a parlamentares não-reeleitos.
Lucílvio Girão, primeiro suplente da coligação, foi o primeiro a ser beneficiado, com a ida de Zezinho Albuquerque para a Secretaria das Cidades. Depois, com a licença médica do deputado Fernando Hugo (PP), o suplente Manoel Duca ( PDT) assumiu.
Os pedidos dos inúmeros aliados do Governo estadual também envolvem verbas para obras e projetos nas suas bases eleitorais. Os deputados têm direito a indicar por ano R$ 1 milhão em emendas ao Orçamento do Estado, através do Pacto de Cooperação Federativa (PCF).
No entanto, os parlamentares e prefeitos aliados deles têm reclamado da demora na liberação desses recursos. O Governo sinalizou, há dois meses, que essas emendas poderiam ser restringidas, em razão do cenário de crise fiscal no País.
Outro lado
O assessor de Relações Institucionais da gestão, Nelson Martins, afirma que os deputados federais ou estaduais tiram licença por decisão deles e não por orientação. Sobre as negociações com deputados federais para assumir secretarias, confirma que fez uma consulta ao deputado Antônio José Albuquerque, mas diz desconhecer tratativas com outros.
“A questão de cargos temos tratado isso com tranquilidade e paciência. Não tem problema indicação para cargos, o Estado tem por parte do governador uma orientação para critérios técnicos. O governador convidou a ex-deputada Gorete Pereira porque ela é experiente. Agora, os deputados isso é decisão de cada um”, disse o secretário responsável por boa parte da articulação política do Governo do Estado.