Previdência pode chegar entre o sarcófago e o INSS

Escrito por
Gregório José producaodiario@svm.com.br
Jornalista
Legenda: Gregório José é jornalista

Pois muito bem, minha gente. Eis que surge mais uma daquelas reformas que só de ouvir o nome já dá dor na coluna — não se sabe se de idade, de susto ou de indignação mesmo.

A previdência, essa senhora idosa que vive pedindo socorro desde que era mocinha, está novamente no centro do palco, arrastando os chinelos e reclamando da lombar. Segundo os doutos do Centro de Liderança Pública, se não botarmos juízo nas contas, os gastos com aposentadoria e o BPC vão crescer R$ 600 bilhões até 2040. Se você achou que era muito, prepare-se: isso é quase um SUS inteiro tossindo na fila, ou duas obras de metrô em São Paulo que, com sorte, ficam prontas antes do apocalipse.

Mas calma, não se assustem. O plano é simples: vamos todos trabalhar até os 90 anos, contribuir com o que não temos, e nos aposentar numa cerimônia íntima entre o velório e o enterro. Se sobrar tempo, a gente até usufrui o benefício por dois ou três minutos — dependendo do congestionamento no purgatório.

Os especialistas dizem que precisamos revisar a idade mínima de aposentadoria. Concordo. Hoje, se você se aposenta aos 65, precisa ter começado a trabalhar antes de nascer, com carteira assinada na placenta. “Ah, mas tem que equilibrar os regimes contributivos com os assistenciais”, dizem eles. Tradução: quem não contribuiu, não recebe; quem contribuiu, também não, porque o caixa está vazio — e a culpa, como sempre, é sua, caro leitor.

E aí vem a solução mirabolante: cortar na educação. Afinal, já que os velhos vão tomar conta do orçamento, pra que investir nas crianças? Estudar pra quê, se a profissão do futuro vai ser "contribuinte do INSS sem direito a nada"?

A proposta é reduzir o número de alunos. Talvez mudando a pedagogia: "Multiplicação? Só de déficit fiscal." "História? Só da reforma de 2019 pra cá." E educação física substituída por uma simulação de carregamento de caixão — o único futuro garantido.

Ah, e claro, tudo isso sob o discurso de “sustentabilidade do Estado”. Que Estado? Aquele que não tem dinheiro pra pagar aposentado, mas tem verba pra fundão eleitoral, licitação de lagosta e reforma de gabinete com jacuzzi?

Se você ficou com a impressão de que estão tentando resolver a conta cortando do mais fraco pra preservar o mais forte — parabéns, está começando a entender a lógica previdenciária brasileira.

E no fim das contas, o povo — esse herói sem FGTS — vai continuar pagando o pato. Um pato velho, cansado, com hérnia de disco e esperando na fila do INSS.
 
A reforma é inevitável? Talvez. Mas do jeito que se desenha, parece mais um plano de emagrecimento em que só a população perde peso — e o governo continua barrigudo, com os bolsos cheios e a memória curta.
 
Gregório José é jornalista
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