Fortaleza: História pulverizada

Escrito por Gilson Barbosa ,
Jornalista
Legenda: Jornalista

Há tempos Fortaleza vive lamentável processo de pulverização da sua memória arquitetônica. São muitas as evidências. Algumas, claríssimas, como a demolição recente do edifício São Pedro, após décadas de descaso dos seus proprietários e do poder público, omitindo-se de dar uma destinação honrosa à edificação enquanto aquela ainda apresentava chances de restauração. A velha e verdadeira Ponte Metálica, que JAMAIS recebeu, dos responsáveis pelo município, a mínima atenção quanto à sua recuperação, foi simplesmente declarada “ruína histórica”.

Carcomida há décadas pela maresia, assim permanecerá até desabar de vez nas águas do Atlântico, por absoluto desinteresse e incapacidade do poder público em preservá-la. À sua direita, na orla da capital, a Ponte dos Ingleses (erroneamente chamada de Metálica por desconhecimento da maioria dos fortalezenses), que nunca exerceu a função de porto, foi recuperada no passado e agora ganha nova “vida”, por parte do município. A cidade vive a eterna sina de destruir seus marcos arquitetônicos e/ou históricos, como ocorreu com o demolido Castelo do Plácido, nos anos 70, e outros tantos. Enquanto boa parte das metrópoles mantém uma tendência de preservação de seu patrimônio histórico e arquitetônico, Fortaleza nada contra a corrente, destruindo o pouco que ainda lhe resta de referências.

As praças centrais são, também, vítimas desse descaso. Mas, há pouco, este periódico noticiou que as estátuas e monumentos da Praça dos Leões, vítimas do vandalismo reinante, serão restaurados e, conforme promessa das autoridades, entregues à população em novembro. Aí incluem-se os felinos que lhe deram o nome pelo qual é mais conhecida, o monumento ao general Tibúrcio de Sousa (que dá-lhe o nome oficial) e a estátua da escritora Rachel de Queiroz.

Está no pacote também a pequena escultura “Criança com Golfinho” (Enfant au Dauphin), do francês Mathurin Moreau (1822-1912), que na realidade havia sido retirada de seu pedestal e jogada num depósito de lixo da própria praça. A peça, pouco notada por muitos que ali circulam, veio para Fortaleza entre o final do século XIX e início do XX. Fora adquirida da fundição parisiense Val d’Osne, juntamente com outras estátuas, para ornamentar o Passeio Público e a Praça José de Alencar. Estava em péssimo estado, sem o braço direito, a mão esquerda e a trompa que compõe o conjunto. Contudo, tenhamos esperança, pelo menos desta vez! Quanto à Praça José de Alencar, escreverei em breve sobre o desprezo de que é vítima a estátua do célebre cearense e um dos maiores escritores brasileiros. Esta merece uma abordagem especial. Aguarde, leitor(a)!

Gilson Barbosa é jornalista

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