A Relação Perigosa entre Inteligência Artificial, Jogos de Azar e Saúde Pública no Brasil

Escrito por Bruno Lessa ,
Professor  e coordenador do Laboratório de Pesquisas em Inovação e Gestão
Legenda: Professor e coordenador do Laboratório de Pesquisas em Inovação e Gestão

Nos últimos anos, o Brasil tem testemunhado um aumento preocupante nos casos de vício em jogos de azar, uma tendência intensificada pelo uso crescente de tecnologias de Inteligência Artificial (IA). Essas tecnologias, embora repletas de potencial positivo, estão exacerbando problemas de saúde pública, criando um ciclo vicioso que afeta milhares de brasileiros. A IA é uma ferramenta poderosa, capaz de personalizar experiências de jogo, tornando-as mais atraentes e difíceis de resistir.

Plataformas de apostas e cassinos online utilizam algoritmos avançados para analisar o comportamento dos usuários, identificando padrões e preferências individuais. Essa personalização, apesar de inovadora, também pode ser altamente manipuladora, levando os jogadores a um envolvimento cada vez maior e, consequentemente, ao vício. Os jogos de azar, tradicionalmente associados a riscos financeiros, agora são também uma questão de saúde pública.

Esse vício pode causar sérios danos psicológicos e emocionais, incluindo ansiedade, depressão e até suicídio. Estudos mostram que a exposição prolongada a ambientes de jogo altamente personalizados pode desencadear respostas neurais semelhantes às observadas em dependentes químicos, exacerbando o problema. No Brasil, a regulamentação do setor de jogos de azar ainda é incipiente. A ausência de políticas robustas de controle e prevenção agrava a situação, permitindo que operadores de jogos de azar online utilizem a IA de forma descontrolada para maximizar seus lucros às custas da saúde pública.

É imperativo que o governo brasileiro adote medidas rigorosas para monitorar e regular o uso de IA nesse setor, protegendo os consumidores vulneráveis. Além disso, a sociedade civil e as instituições de saúde precisam intensificar os esforços de conscientização sobre os riscos associados aos jogos de azar. Campanhas educativas são essenciais para alertar a população sobre os sinais de vício e os recursos disponíveis para ajuda e tratamento. Programas de intervenção precoce e suporte psicológico devem ser amplamente acessíveis, especialmente em comunidades de baixa renda, onde os efeitos do vício podem ser mais devastadores.

Bruno Lessa é professor da Unifor

Conceição Martins é advogada
Conceição Martins
14 de Julho de 2024
Jornalista e senador constituinte
Mauro Benevides
11 de Julho de 2024