Médico do Fortaleza revela mais de 1.200 lesões em seis jogadores feridos durante ataque a ônibus

Dr. Cláudio Maurício detalha lesões após perícia em atletas

Legenda: Gonzalo Escobar foi o jogador com mais ferimentos após ataque a ônibus do Fortaleza.
Foto: Thiago Gadelha/SVM

Médico do Fortaleza e diretor do Departamento de Performance do clube, o Dr. Cláudio Maurício acompanhou os seis jogadores feridos em perícia, após o ataque ao ônibus da equipe. Em entrevista a repórter Aline Oliveira, para o Fantástico, o profissional revelou que mais de 1.200 lesões de vários tipos foram constatadas. O clube tem oferecido suporte psicológico e psiquiátrico para os atletas. Os laterais Gonzalo Escobar e Dudu, os zagueiros Brítez e Titi, além do volante Lucas Sasha e o goleiro João Ricardo foram os mais feridos.

O grupo foi atacado no caminho entre a Arena Pernambuco e o hotel da delegação, na última quinta-feira, após empatar com o Sport pela Copa do Nordeste. Um grupo de torcedores da equipe pernambucana lançou artefatos explosivos e pedras contra o veículo que levava a delegação tricolor. Cláudio Maurício explica que os seis atletas feridos foram atendidos primeiro na urgência, logo após o ocorrido. Depois, passaram por uma outra avaliação. Além disso, revela que os jogadores passaram por perícia médica, que detalhou os tipos de machucados sofridos por eles.

"Nem tudo a gente conseguiu abordar lá no momento, pois eles tinham que viajar no dia seguinte. E chegando aqui a gente fez uma avaliação secundária, com tomografia computadorizada, daqueles que tiveram um trauma cranioencefálico. E agendamos uma perícia porque se trata de um ato criminoso, não é assim. A gente não tem dúvidas dos artefatos que foram usados, além de pedra de bomba, a natureza das lesões falam por si só.

Nós temos lesões contusas, lesões perfurantes, queimaduras de segundo grau e temos lesões com deformidade definitiva. Nós temos lesões que não vão se apagar mais. Perda de massa de dente, nós temos lesões que são cicatrizes definitivas na face e, graças a Deus, eu não tenho dúvida de falar isso, que a gente não está hoje velando alguém por segundos ou pela mão de Deus. Porque as lesões, muitas lesões, poderiam ser totalmente fatais, às vezes, por centímetros.
Dr. Cláudio Maurício
Médico do Fortaleza

A perícia já revelou isso e, para você ter ideia, nem todos os atletas passaram por perícia. Por exemplo, Yago Pikachu teve lesão, e não foi para perícia. Estamos falando de seis atletas periciados. Desses seis, eu acompanhei a perícia, foram 1200 lesões nesses atletas. Lesões das maiores às gravíssimas, como eu falei. E sem contar o trauma cranioencefálico que foi evidenciado na hora do trauma, né? Com o Escobar perdendo consciência do que ir para UTI no primeiro momento, e o estresse pós-traumático, que todos passaram, que a gente vai conseguir mensurar isso como cada qual vai responder ao longo dos anos, mas nesse momento tá sendo um pouco difícil.
Dr. Cláudio Maurício
Médico do Fortaleza

Dr. Cláudio Maurício explica que o lateral Gonzalo Escobar chegou a ir para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva). O jogador teve traumatismo craniano mais grave. O goleiro João Ricardo sofreu a mesma lesão, mas em grau leve.

"Sim. No primeiro momento, ele (Escobar) não tinha condição nem de ir ao hospital mais especializado que foi o hospital português de Recife, que nos ajudou bastante. Eles foram pro hospital mais próximo, o Dona Lucinda, para ter o primeiro atendimento da entrada na UTI, até recuperar muito bem a consciência dele e poder ter os primeiros cuidados. Nesse hospital não tinha estrutura para fazer a tomografia ainda e depois ele fez a tomografia Já no Português", detalhou o médico do Fortaleza.

Imagem mostra jogador de futebol
Legenda: João Ricardo foi um dos seis feridos durante ataque a ônibus do Fortaleza.
Foto: Thiago Gadelha/SVM

COMO AVALIA OS TRAUMAS?

"Isso é difícil de mensurar, mas os estudos já mostram que o estresse pós-traumático tem efeitos, tem causas somáticas real. O que são causas somáticas? Não é apenas a forma que você reage aquilo, tem alterações hormonais, de alguns segmentos cerebrais que levam a mudança na sua rotina mesmo. E como cada um vai responder aí depende de de da evolução de cada. Mas alguns atletas, como Escobar, por exemplo, é é de dar dó, como o que ele está passando nesses primeiros dias", ressaltou. 

"Estamos falando em 6 atletas que foram os mais machucados e periciados, mas vários outros foram machucados e todos aqueles, inclusive comissão, diretoria, que estavam no ônibus, vão passar por esse estresse pós-traumático e que a gente não vai conseguir ter ter ideia da dimensão que isso vai prejudicar eles na vida pessoal e profissional."

ASSISTÊNCIA DADA PELO FORTALEZA

"A nossa liderança da psicologia fez uma força-tarefa para conseguir dar esse suporte para eles, né? Nem todos os atletas têm família aqui. Alguns tem, alguns uma parte apenas. A gente tem tentado ir à casa deles para dar esse suporte, mas também trazê-los para o clube, até porque o convívio com os colegas ajuda. Às vezes ficar isolado, você fica revivendo na sua mente, não dorme bem, acorda mal... E rede médica também, né, psiquiátrica? Suporte psiquiátrico, medicação para quem a gente acha que tem indicação nesse momento. E tentar aos poucos reintegrá-los, mas respeitando a assim a dor de cada um", finalizou.  

MUDANÇA EM JOGOS

O Leão do Pici solicitou que a CBF modificasse datas dos próximos jogos da equipe, que tem pela frente Copa do Brasil e a Copa do Nordeste. O pedido foi acatado pela Confederação, que divulgou os novos dias para os jogos.

A partida que seria quinta-feira (29), pela Copa do Brasil contra o Fluminense/PI, passou para o domingo (3), enquanto o duelo contra o Botafogo/PB, pelo torneio regional, saiu do dia 5 para o dia 6.

O jogo do próximo domingo pela 1ª Fase da Copa do Brasil será às 18h30, enquanto pelo Nordestão será às 19 horas. Parte do grupo de atletas se reapresenta nesta segunda-feira (26). O elenco tem treino marcado para a terça (27).

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